Gustavo Gutiérrez, pai da Teologia da Libertação, morre aos 96 anos
Por Walter Sánchez
Silva*
23 de out de 2024
Gustavo Gutiérrez Merino, sacerdote dominicano peruano que
deu nome à teologia da libertação, morreu ontem (22) aos 96 anos.
A província dominicana de San Juan Bautista do Peru informou
a morte do sacerdote e teólogo peruano. “Pedimos que nos acompanhem com suas
orações para que nosso querido irmão desfrute da vida eterna”, diz comunicado
assinado pelo frei dominicano Rómulo Vásquez Gavidia, provincial dos
dominicanos no Peru.
Os restos mortais do sacerdote serão sepultados no convento
de Santo Domingo, no centro histórico de Lima, Peru.
A vida de Gustavo Gutiérrez
Gustavo Gutiérrez Merino Díaz nasceu em 8 de junho de 1928.
Foi ordenado sacerdote em 1959 e era dominicano desde 2001.
Estudou medicina e literatura na Universidad
Nacional Mayor de San Marcos, quando já fazia parte da Ação Católica.
Gutiérrez estudou teologia na Universidade de Louvain,
Bélgica e na Universidade de Lyon, França. Foi professor nas universidades de
Michigan e em Berkeley, EUA; Cambridge, Inglaterra; Comillas, Espanha, entre
outras.
Foi professor na cátedra de teologia John Cardinal O'Hara na
Universidade de Notre Dame, EUA. Em 2003, recebeu o prêmio Príncipe das
Astúrias de Comunicação e Humanidades concedido pelo governo espanhol.
Em 2012, recebeu o Prêmio Nacional de Cultura do Ministério
da Cultura do Peru e da companhia petrolífera Petroperú.
Uma das últimas palestras de Gustavo Gutiérrez num evento
internacional aconteceu em Roma, em outubro de 2019, no congresso Comunhão
e Participação, realizado na cúria geral dos jesuítas em Roma. Na ocasião,
a Pontifícia Comissão para a América Latina o convidou para fazer a conferência
“A opção preferencial pelos pobres”.
Um ano antes, em junho de 2018, o papa Francisco enviou uma
carta a Gutiérrez por ocasião de seu 90º aniversário, na qual agradecia a
Gutiérrez por sua “contribuição à Igreja e à humanidade através do seu serviço
teológico e o seu amor preferencial pelos pobres e descartados da sociedade”.
A Santa Sé e a teologia da libertação
O padre Gutiérrez deu nome à principal corrente teológica
nascida no continente sul-americano. Articulada ainda na década de 1950 em
torno da virada política da ação de vários bispos do continente, a Teologia da
Libertação ganhou predominância graças à assembleia do Conselho Episcopal da
América Latina e Caribe (CELAM) de Medellín, Colômbia, em 1968. O propósito
dessa assembleia era discutir a aplicação das decisões do Concílio Vaticano II
no continente. Ali foi definida a “opção preferencial pelos pobres” da Igreja
na América do Sul.
Gutiérrez foi o primeiro grande articulador de um modelo de
teologia que usava conceitos das ciências sociais e da militância política de
esquerda do continente. O nome de seu livro deu o nome à teologia que, nos anos
1970 e 1980 cresceu em importância e se tornou dominante na Igreja do Brasil.
“A teologia da libertação foi uma coisa positiva na América
Latina”, disse o papa Francisco em entrevista publicada em janeiro de 2017 pelo
jornal espanhol El País. “Foi condenada pelo Vaticano a parte que
optou pela análise marxista da realidade”.
No pontificado de são João Paulo II, a congregação para a
Doutrina da Fé, atualmente um dicastério, fez uma investigação sobre o tema. Ao
final, foram publicadas duas instruções.
A primeira, Libertatis
nuntius, publicada em 6 de agosto de 1984, trata dos postulados de
Gutiérrez em seu livro Teologia da Libertação. A segunda
instrução, Libertatis
conscientia, foi publicada em 22 de março de 1986.
Ambas as instruções foram assinadas pelo cardeal Joseph
Ratzinger, então prefeito da congregação para a Doutrina da Fé, que mais tarde
tornou-se o papa Bento XVI.
“A Instrução Libertatis nuntius acerca de
alguns aspectos da teologia da libertação anunciava que a
Congregação tencionava publicar um segundo documento, que poria em evidência os
principais elementos da doutrina cristã acerca da liberdade e da libertação. A
presente Instrução responde a esse intento. Entre os dois documentos existe uma
relação orgânica. Devem ser lidos um à luz do outro”, diz o segundo parágrafo
da segunda instrução.
Numa nota de 2006, a Conferência Episcopal Peruana disse que
a Santa Sé havia “concluído o caminho de esclarecimento dos pontos
problemáticos contidos em algumas obras do autor” em 2004, com uma segunda
versão revisada do artigo de Gutiérrez chamada La Koinonía ecclesial .
*Walter Sánchez Silva é jornalista na ACI Prensa, agência em
espanhol do grupo ACI, com mais de 15 anos de experiência cobrindo eventos da
Igreja na Europa, América e Ásia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário