O dom do matrimônio
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Alguns fariseus provocam Jesus sobre o divórcio (Gênesis
2,18-24, Salmo 127, Hebreus 2,9-11 e Marcos 10,2-16). A pergunta é legalista e
tem por objetivo colocar Jesus “à prova”. Esta atitude dos fariseus revela que
querem apenas polêmica, pois já tem opinião formada e qualquer que fosse a
resposta discordariam de Jesus. Afinal, não estavam interessados no
aprofundamento do tema, mas apenas na confusão. Jesus não fica na provocação,
mas aproveita a oportunidade para anunciar o plano original de Deus sobre o casal
e a família.
A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia –
sobre o amor na família (AL) do Papa Francisco é fruto de dois
Sínodos, realizados em 2014 e 2015. O Papa escreveu: “O caminho sinodal
permitiu analisar a situação das famílias no mundo atual, alargar a nossa
perspectiva e reavivar a nossa consciência sobre a importância do matrimônio e
da família. Ao mesmo tempo, a complexidade dos temas tratados mostrou-nos a
necessidade de continuar a aprofundar, com liberdade questões doutrinais,
morais, espirituais e pastorais” (AL, nº 2). Assim como Jesus, a
exortação Amoris Laetitia indica que o tema do matrimônio e da
família não se restringe a uma questão legal e jurídica. Também o tema não pode
ser tratado de forma superficial, preconceituosa e com respostas
prontas.
Numa sociedade plural convivemos com múltiplas compreensões
sobre o tema em questão. Inspirado nas palavras do Papa Francisco, que fala em
nome da Igreja, sublinho alguns elementos fundamentais do matrimônio católico.
Jesus elevou o casamento como sinal sacramental, isto é, a relação de Jesus com
a Igreja é o fundamento da relação dos esposos. “O matrimônio é uma vocação,
sendo uma resposta ao chamado específico para viver o amor conjugal, como sinal
imperfeito do amor entre Cristo e a Igreja. Por isso, a decisão de casar e
formar família deve ser fruto de um discernimento vocacional” (AL, nº 72).
Sendo o matrimônio um sacramento ele invoca a fé dos noivos e está enraizado no
batismo.
A primeira pergunta feita aos nubentes na celebração do
Sacramento do Matrimônio é sobre a liberdade. Um ato para ser verdadeiramente
humano e consciente precisa ser livre, isto é, sem coação, nem ignorância sobre
a pessoa com quem vai estabelecer o vínculo, nem sobre as propriedades e
finalidades do matrimônio católico. A grandeza e a complexidade da vida
conjugal e familiar requerem uma preparação proporcional para os noivos, para
que seja um ato livre deles. Eles precisam ser ajudados a descobrir o valor e a
riqueza do matrimônio e se prepararem para viver as alegrias e tristezas da
vida conjugal e familiar.
Fundamentado nos ensinamentos de Jesus Cristo a Igreja
anuncia como propriedades fundamentais do Sacramento do matrimônio a unidade e
a indissolubilidade. “Portanto, o que Deus uniu o homem não separe!” “Não se
deve entender primariamente como ‘jugo’ imposto aos homens, mas como um ‘dom’
concedido às pessoas unidas em matrimônio (…) A condescendência divina
acompanha sempre o caminho humano, com a sua graça, cura e transforma o coração
endurecido, orientando-o para o seu princípio, através do caminho da cruz” (AL,
nº 62).
As finalidades do matrimônio são o bem dos cônjuges e a
geração e educação dos filhos. O primeiro beneficiado do matrimônio é o casal
que forma uma comunidade de vida e amor partilhando todas as situações vitais.
O amor do casal se abre para os filhos. “O amor rejeita qualquer impulso para
fechar-se em si mesmo, e abre-se à fecundidade que se prolonga para além da sua
própria existência. (…) o filho pede para nascer, não de qualquer maneira, mas
deste amor, porque ele “não é uma dívida, mas uma dádiva”. Nesta compreensão a
família é o santuário da vida, um lugar sagrado onde a vida é gerada e
cuidada.
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