O Matrimônio no projeto de Deus
27º Domingo do Tempo Comum
Cardeal Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília
05 de outubro de 2024
A palavra de Deus, deste domingo, mostra o matrimônio no
projeto de Deus. Já na criação, Deus tem um projeto de amor para o homem e a
mulher: «Deus, desde o início da criação, os fez homem e mulher. Por isso, o
homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne». Papa Francisco
nos explica esse Evangelho: «O Evangelho deste domingo (cf. Mc 10,
2-16) oferece-nos a palavra de Jesus sobre o matrimônio. A narração abre-se com
a provocação dos fariseus que perguntam a Jesus se é lícito que um marido repudie
a esposa como previa a lei de Moisés (vv. 2-4). Antes de tudo, Jesus, com a
sabedoria e a autoridade que Lhe vêm do Pai, ameniza a prescrição mosaica
dizendo: “Pela dureza dos vossos corações, ele — ou seja, o antigo legislador —
vos deixou escrito este mandamento” (v. 5). Trata-se, portanto, de uma
concessão que serve para remediar as falhas causadas pelo nosso egoísmo, mas
não corresponde à intenção originária do Criador.
E aqui Jesus retoma o Livro do Gênesis: “Desde o início da
criação [Deus] os criou varão e mulher; por isso o homem deixará seu pai e sua
mãe e se unirá à sua esposa e os dois serão um só” (vv. 6-7). E conclui: “Não
divida o homem o que Deus uniu” (v. 9). O projeto originário do Criador não
inclui o homem que se casa com a mulher e, se as coisas não funcionam, a
repudia. Não. Ao contrário, inclui o homem e a mulher chamados a
reconhecerem-se, a completarem-se, a ajudarem-se reciprocamente no matrimônio.
Esse ensinamento de Jesus é muito claro e defende a
dignidade do matrimônio, como união de amor que requer a fidelidade. Aquilo que
consente que os esposos permaneçam unidos no matrimônio é um amor de doação
recíproca amparado pela graça de Cristo. Se, ao contrário, prevalecer nos
cônjuges o interesse individual, a própria satisfação, então a sua união não
poderá resistir.
E a mesma página evangélica recorda-nos, com grande
realismo, que o homem e a mulher, chamados a viver a experiência da relação e
do amor, podem dolorosamente fazer gestos que a põem em crise. Jesus não admite
tudo o que pode levar ao naufrágio da relação. Faz isso para confirmar o
desígnio de Deus, no qual sobressaem a força e a beleza da relação humana. A
Igreja, por um lado, não se cansa de confirmar a beleza da família como nos foi
recomendada pela Escritura e pela Tradição; ao mesmo tempo, esforça-se por
fazer sentir concretamente a sua proximidade materna a quantos vivem a
experiência de relações interrompidas ou levadas adiante de maneira sofrida e
fadigosa.
O modo de agir do próprio Deus com o seu povo infiel — isto
é, conosco — ensina-nos que o amor ferido pode ser sanado por Deus através da
misericórdia e do perdão. Por isso à Igreja, nestas situações, não é pedida
imediata e unicamente a condenação. Ao contrário, face às tantas dolorosas
falências conjugais, ela sente-se chamada a viver a sua presença de amor, de
caridade e de misericórdia, para reconduzir a Deus os corações feridos e
desorientados”. (Papa Francisco, Angelus, 7 de outubro de
2018so)
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