Francisco frisou que “ninguém fique de fora” após a XVI
Assembleia Geral do Sínodo dos bispos. Pediu que seja lançado um caminho de
harmonia para todos, no qual as palavras sejam acompanhadas por atos concretos.
Exortou os participantes no Sínodo ao “testemunho da experiência vivida”.
Rui Saraiva – Portugal
O Documento Final do Sínodo publicado no dia 26 de outubro
foi aprovado nos seus 155 pontos e apresenta o fruto de 3 anos de escuta do
povo de Deus. Um tempo que colocou em caminho milhões de pessoas em todo o
mundo refletindo sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão e
missão”.
Nesta segunda e última sessão da XVI Assembleia Geral do
Sínodo dos bispos em Roma participaram 368 membros com direito a voto, dos
quais 272 eram bispos; à imagem do que aconteceu na primeira sessão em 2023,
mais de 50 votantes foram mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.
Um caminho de harmonia para todos
O Papa Francisco no seu discurso no encerramento deixou bem
claro o caráter inclusivo do texto agora publicado. Sublinhou a procura da
“harmonia” num caminho “rumo à plena manifestação do Reino de Deus, que a visão
do Profeta Isaías nos convida a imaginar como um banquete preparado por Deus
para todos os povos”, disse o Papa.
“Todos, na esperança de que não falte ninguém. Todos! Todos!
Todos” Ninguém fique de fora! Todos! E a palavra-chave é esta: a harmonia, que
é obra do Espírito; a Sua primeira manifestação forte, na manhã de Pentecostes,
é harmonizar todas aquelas diferenças, todas aquelas línguas, todas aquelas
coisas… Harmonia!”, assinalou.
Francisco apelou a uma Igreja sem muros. “Quanto mal causam
os homens e mulheres da Igreja quando erguem muros! Não nos devemos comportar
como ‘dispensadores da Graça’ que se apropriam do tesouro, amarrando as mãos do
Deus misericordioso”, referiu o Santo Padre.
O Papa deixou mesmo uma indicação literária com a sugestão
de um poema da escritora francesa Madeleine Delbrêl, “a mística das
periferias”, sublinhando uma ideia: “acima de tudo, não sejas rígido”.
O Papa assinalou que a rigidez é um pecado que tantas vezes
também afeta “os clérigos, os consagrados e as consagradas”. Uma chamada de
atenção do Santo Padre para que o Documento Final desta assembleia sinodal seja
acolhido com abertura.
Não há exortação apostólica. Documento Final é guia
Francisco anunciou a sua intenção de não publicar uma
exortação apostólica, algo que acontece pela primeira vez, mas que está
previsto na constituição apostólica ‘Episcopalis
communio‘ sobre o Sínodo dos Bispos, publicada em 2018 pelo Papa Francisco.
“Por isso, não tenho intenção de publicar uma ‘exortação
apostólica’. É suficiente aquilo que aprovámos. No Documento há já
indicações muito concretas que podem servir de guia para a missão das igrejas,
nos diversos continentes, nos diversos contextos: por isso, coloco-o
imediatamente à disposição de todos. Por isto, disse que seja publicado. Quero,
deste modo, reconhecer o valor do caminho sinodal realizado, que através
deste Documento entrego ao santo povo fiel de Deus”, declarou Francisco.
O Papa confirmou até junho de 2025 o trabalho dos 10 grupos
de estudo sobre alguns temas que necessitam de um especial aprofundamento, tais
como as questões ligadas à pobreza, a participação das mulheres na Igreja, a
formação dos sacerdotes ou o ministério dos bispos.
Palavras e atos na recepção do Documento nas dioceses
Entretanto, Francisco alertou os participantes no Sínodo
para a necessidade de tornar acessível os conteúdos do Documento Final, em
especial com o “testemunho da experiência vivida”. “A igreja sinodal para a
missão precisa, agora, que as palavras partilhadas sejam acompanhadas de atos”,
assinalou o Papa.
Abre-se, assim, um tempo novo no qual, tal como disse o
Papa, as palavras partilhadas devem ser acompanhadas por ações. Ou seja, a recepção
das conclusões nas dioceses, que é a terceira fase do Sínodo, não deverá ficar
apenas pela leitura e reflexão do Documento Final, mas será necessária uma
reforçada criatividade na difusão da informação produzida nesta sessão sinodal.
Destaque especial para o método sinodal da “Conversação no
Espírito” que no número 45 do Documento Final ficamos a saber que “a sua
prática tem suscitado alegria, espanto e gratidão e tem sido experimentada como
um caminho de renovação que transforma as pessoas, os grupos e a Igreja”,
pode-se ler no Documento.
Fase decisiva pede gestos e atitudes sinodais
E segundo o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa a
fase decisiva do Sínodo começou agora. D. José Ornelas disse à Agência Ecclesia
que esta nova fase é como “um sopro novo”.
“O Sínodo não terminou hoje, a fase decisiva do Sínodo
começa hoje e é importante que cada Igreja, que cada família, que cada
instituição da Igreja possa deixar-se permear por este sopro novo que sai do
Sínodo”, disse D. José Ornelas.
O bispo de Leiria-Fátima, assinalou que este “é um
documento, sobretudo, de propostas de trabalho, de conversão”. Sublinhou que
com o texto agora publicado é preciso transformar as palavras “em gestos e em
atitudes, e isto é uma conversão que é preciso que a Igreja faça”, declarou D.
José Ornelas.
Uma conversão que deverá passar pelas paróquias, dioceses e
movimentos tal como referia, recentemente, no Vatican News, o jornalista e
investigador em Ciência das Religiões, Joaquim Franco, afirmando que a dinâmica
sinodal “deve ser exemplar em todas as estruturas da Igreja”.
“A dinâmica que este Sínodo imprime deve ser exemplar em
todas as estruturas da Igreja; dioceses, paróquias e movimentos. Criando
espaços que soltam a pausa do Espírito, espaços para a calma das palavras
construtivas, mas também, repito e ouso dizê-lo, em todas as estruturas não
religiosas, sociais, comunitárias ou até políticas, chamando todos e todas ao
princípio da corresponsabilidade na diferença, à escuta que leva ao encontro”,
assinalou Joaquim Franco.
Mais do que palavras, após a XVI Assembleia Ordinária do
Sínodo dos bispos, são necessários gestos, atitudes e decisões sinodais.
Laudetur Iesus Christus
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