Em Missa presidida pelo Papa Francisco na Praça São Pedro
neste 20 de outubro, foram elevados à honra dos altares os franciscanos Manuel
Ruiz López e sete companheiros e os leigos Francisco, Mooti e Raffaele
Massabkis, conhecidos como "Mártires de Damasco"; Pe. José Allamano,
fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata; Ir. Elena Guerra,
conhecida como "Apóstola do Espírito Santo" e a canadense Ir.
Marie-Léonie Paradis, fundadora das Pequenas Irmãs da Sagrada Família de Sherbrooke.
Jesus pergunta a Tiago e a João: «Que quereis que vos faça?»
(Mc 10, 36). E logo a seguir, desafia-os: «Podeis beber o cálice
que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou batizado?» (Mc 10,
38). Jesus faz perguntas e, deste modo, ajuda-nos a discernir, porque as
perguntas fazem-nos descobrir o que está dentro de nós, iluminam o que trazemos
no coração. e que tantas vezes não sabemos.
Deixemo-nos interpelar pela Palavra do Senhor. Imaginemos
que ele nos pergunta a cada um de nós: «O que queres que faça por ti?»; e a
segunda pergunta «podes beber o meu cálice?»
Com estas perguntas, Jesus traz ao de cima o vínculo e as
expectativas que os discípulos nutrem para com ele, com as luzes e sombras
próprias de qualquer relação. Com efeito, Tiago e João estão ligados a Jesus,
mas têm pretensões. Manifestam o desejo de estar perto dele, mas apenas para
ocupar um lugar de honra, para desempenhar um papel importante, para “na sua
glória, se sentarem um à sua direita e outro à sua esquerda” (cf. Mc 10,
37). Torna-se evidente que pensam em Jesus como Messias, um Messias vitorioso,
glorioso e esperam que Ele partilhe a sua glória com eles. Veem em Jesus o
Messias, mas pensam nele segundo a lógica do poder.
Jesus não se detém nas palavras dos discípulos, mas vai mais
fundo, escuta e lê o coração de cada um deles e também de cada um de nós. E
durante o diálogo, por meio de duas perguntas, procura trazer à tona o desejo
que existe dentro daqueles pedidos.
Primeiro, pergunta: «Que quereis que vos faça?»; e esta
interrogação revela os pensamentos dos seus corações, traz à luz as
expectativas escondidas e os sonhos de glória que os discípulos cultivam
secretamente. É como se Jesus perguntasse: “Quem queres que eu seja para ti?”
E, assim, desmascara o que eles realmente desejam: um Messias poderoso e , um
Messias vitorioso que lhes dê um lugar de honra. E tantas vezes na Igreja
ocorre esse pensamento: a honra, o poder...
Depois, com a segunda pergunta, Jesus desmente esta imagem
de Messias e ajuda-os, deste modo, a mudar de olhar, isto é, a converterem-se:
«Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou
batizado?». Revela-lhes, desta maneira, que não é o Messias que eles pensam que
é; é o Deus de amor, que se abaixa para chegar aos que estão em baixo; que se
faz fraco para levantar os fracos; que trabalha pela paz e não pela guerra; que
veio para servir e não para ser servido. O cálice que o Senhor vai beber é a
oferta da sua vida, e a sua vida que nos foi dada por amor, até à morte e morte
de cruz.
E, portanto, à sua direita e à sua esquerda estarão dois
ladrões, suspensos na cruz como Ele e não instalados confortavelmente em
lugares de poder; dois ladrões pregados com Cristo na dor e não sentados na
glória. O rei crucificado, o justo condenado torna-se escravo de todos: este é
verdadeiramente o Filho de Deus! (cf. Mc 15, 39). Vence não
quem domina, mas quem serve por amor. Repitamos: vence não quem domina, mas
quem serve por amor. É o que nos recorda também a Carta aos Hebreus: «não temos
um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele
foi provado em tudo como nós» (Hb 4, 15).
Neste momento, Jesus pode ajudar os discípulos a
converterem-se, a mudarem de mentalidade: «Sabeis como aqueles que são
considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e
como os grandes exercem o seu poder» (Mc 10, 42). Mas não deve ser
assim para aqueles que seguem um Deus que se fez servo a fim de chegar a todos
com o seu amor. Quem segue Cristo, se quiser ser grande deve servir, aprendendo
d’Ele.
Irmãos e irmãs, Jesus revela os pensamentos, Jesus
revela os pensamentos, revela os desejos e as projeções no nosso coração,
desmascarando por vezes as nossas expectativas de glória, domínio, de poder, de
vaidade. Ele ajuda-nos a pensar já não segundo os critérios do mundo, mas
segundo o estilo de Deus, que se faz último para que os últimos sejam erguidos
e se tornem os primeiros. Faz-se último para que os últimos sejam reerguidos e
se tornem os primeiros. Muitas vezes, estas perguntas de Jesus, com o seu ensinamento
sobre o serviço, são tão incompreensíveis, incompreensíveis para nós como o
eram para os discípulos. Porém, seguindo-O, percorrendo os Seus passos e
acolhendo o dom do Seu amor que transforma a nossa maneira de pensar, também
nós podemos aprender o estilo de Deus o estilo de Deus: o serviço. Não
esqueçamos as três palavras que mostram o estilo de Deus para servir:
proximidade, compaixão e ternura. Deus se faz próximo para servir; se faz
compassivo para servir; se faz terno para servir. Proximidade, compaixão e
ternura…
É a isto que devemos aspirar: não ao poder, mas ao serviço.
O serviço é o estilo de vida cristão. Não se trata de uma lista de coisas a
fazer, como se, uma vez realizadas, pudéssemos considerar terminado o nosso
turno. Quem serve com amor não diz: “agora toca a outro”. Este é um pensamento
de empregados, não de testemunhas. O serviço nasce do amor e o amor não conhece
fronteiras, não faz cálculos, mas gasta-se e dá-se. O amor não se limita a
produzir para ter resultados, nem é uma prestação ocasional; é sim algo que
nasce do coração, um coração renovado pelo amor e no amor.
Quando aprendemos a servir, cada gesto de atenção e cuidado,
cada expressão de ternura, cada obra de misericórdia torna-se um reflexo do
amor de Deus. E assim todos nós - e cada um de nós - continuamos a obra de
Jesus no mundo.
Nesta luz podemos recordar os discípulos do Evangelho, que
hoje são canonizados. Ao longo da história conturbada da humanidade, foram
servos fiéis, homens e mulheres que serviram no martírio e na alegria, como o
Irmão Manuel Ruiz Lopez e seus companheiros. Trata-se de sacerdotes e
consagradas fervorosos, e fervorosos de paixão, da paixão missionária, como o
Padre Giuseppe Allamano, a Irmã Paradis Marie Leonie e a Irmã Elena Guerra.
Estes novos santos viveram o estilo de Jesus: o serviço. A fé e o apostolado
que realizaram não alimentaram neles desejos mundanos e avidez de poder; pelo
contrário, eles fizeram-se servidores dos seus irmãos, criativos em fazer o
bem, firmes nas dificuldades, generosos até ao fim.
Supliquemos com confiança a sua intercessão, para que também
nós possamos seguir Cristo, segui-lo no serviço, e tornarmo-nos testemunhas de
esperança para o mundo.
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