“Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). A fé cristã crescerá se
deixarmos Deus agir e se estivermos dispostos a reconhecer o seu trabalho em
nossas vidas e na história. Este artigo explica o papel da liberdade na fé e o
relacionamento com Jesus Cristo.
21/10/2024
- Considerando
o que é fé, o que posso fazer para aumentá-la?
A fé de um cristão não é a crença em uma ideologia ou em um
conjunto de preceitos morais. O conteúdo da fé cristã é o próprio Deus, e Deus
é infinito. Desse ponto de vista, não há limites para o crescimento da fé em
termos dos fundamentos que sustentam a certeza do cristão. “A fé é
primeiramente uma adesão pessoal do homem a Deus” (Catecismo da
Igreja Católica, n. 150).
O que acontece é que nós, como seres humanos, somos
limitados e a nossa capacidade de buscar a Deus, de encontrá-Lo, de amá-Lo e de
acreditar n'Ele é prejudicada por nossa fraqueza. Por essa razão, Deus vem em
auxílio de quem O procura com um coração sincero e lhe presenteia a fé como um
dom. Viver pela fé é ter uma certeza maior do que a que nossos raciocínios
humanos podem nos dar. Deus é um Deus de vivos e é uma trindade de pessoas,
portanto, a fé aumentará na medida em que tivermos uma relação pessoal e vital
com cada uma das pessoas da Trindade. A oração é fundamental crescer na fé. A
oração, como dizia Santa Teresa de Jesus, “é uma relação de amizade, estando
muitas vezes a sós com aquele que sabemos que nos ama”, mas isso não é como
clicar num link que abre automaticamente: “A fé, por sua própria natureza,
exige a renúncia à posse imediata que a visão parece oferecer; é um convite a
abrir-se à fonte da luz, respeitando o mistério próprio de um Rosto, que quer
revelar-se pessoalmente e no momento oportuno” (Lumen Fidei, n. 13).
Meditando com São Josemaria
A fé é virtude sobrenatural que inclina a nossa inteligência
a assentir às verdades reveladas, a responder “sim” a Cristo, Àquele que nos
deu a conhecer plenamente o desígnio salvífico da Trindade Beatíssima. Deus,
que outrora falou muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos
profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio do seu Filho, a quem
constituiu herdeiro de tudo, por quem criou também os séculos; o qual, sendo o
resplendor da sua glória e o vivo retrato da sua substância, e sustentando tudo
com a sua poderosa palavra, depois de nos ter purificado dos nossos pecados,
está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus (Amigos de Deus,
191).
"Omnia possibilia sunt credenti". - Tudo é
possível para quem crê. - São palavras de Cristo.- Que fazes, que não Lhe dizes
com os Apóstolos: "Adauge nobis fidem!", aumenta-me a fé!?(Caminho,
588).
A nossa fé não é um peso nem uma limitação. Que pobre ideia
da verdade cristã manifestaria quem raciocinasse assim! Ao decidirmo-nos por
Deus, não perdemos nada, ganhamos tudo. (Amigos de Deus, 38).
2. Qual é a relação de Jesus com o aumento da fé?
Para o cristão, crer em Deus é inseparavelmente crer naquele
que Ele enviou, “seu Filho amado”, em quem ele colocou todo a sua afeição (Mc
1,11). O cristão acredita em Deus por meio de Jesus Cristo, que revelou sua
face. Ele é o cumprimento das Escrituras e seu intérprete definitivo” (Missa de
inauguração do Ano da Fé).
Jesus, o Filho de Deus, veio ao mundo e se encarnou para nos
mostrar a face de Deus, que é amor: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). A fé
cristã crescerá se permitirmos que Ele atue e se estivermos prontos para
reconhecer seu trabalho em nossas vidas e na história. Jesus está presente de
forma performativa na vida do cristão. Sua mensagem não é apenas informativa,
ela é vivificante, é uma palavra que se torna Vida: “Meu Pai continua agindo
até agora, e eu ajo também” (Jo 5,17). Nesse sentido, é compreensível que a
profunda convicção de quem crê possa ser aumentada pelo reconhecimento da ação
de Deus em sua própria vida. Como os discípulos no caminho de Emaús, o cristão
pode reconhecer Jesus no Pão e na Palavra e crescer na fé, que é aderir ao
próprio Cristo e, por meio dele, ao Pai. Nesse caminho de crescimento na fé, o
Espírito Santo atua no coração. “Este encontro entre Deus e os seus filhos,
graças a Jesus, é precisamente o que dá vida à nossa religião e constitui a sua
singular beleza” (Francisco, Admirabile signum, n. 5).
Meditando com São Josemaria
“Em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da
divindade (Col 2, 9). Cristo é Deus feito homem, homem perfeito, homem cabal.
E, nos seus aspectos humanos, dá-nos a conhecer a divindade. Ao recordarmos
esta delicadeza humana de Cristo, que gasta a sua vida a serviço dos outros,
fazemos muito mais do que descrever um possível modo de nos comportarmos.
Estamos descobrindo Deus. Toda a obra de Cristo tem um valor transcendente:
dá-nos a conhecer o modo de ser de Deus (É Cristo que passa, 109).
Todo o poder, toda a majestade, toda a formosura, toda a
harmonia infinita de Deus, as suas grandes e incomensuráveis riquezas, todo um
Deus, ficou escondido na Humanidade de Cristo para nos servir. O Onipotente
apresenta-se decidido a obscurecer por algum tempo a sua glória, para facilitar
o encontro redentor com as suas criaturas (Amigos de Deus, 111).
Cristo vive. Esta é a grande verdade que enche de conteúdo a
nossa fé. Jesus, que morreu na cruz, ressuscitou, triunfou da morte, do poder
das trevas, da dor e da angústia (É Cristo que passa, 102).
Ouve-se às vezes dizer que atualmente os milagres são menos
frequentes. Não se dará antes o caso de serem menos as almas que vivem vida de
fé? Deus não pode faltar à sua promessa: Pede-me, e Eu te darei as nações
por herança; teus domínios irão até os confins da terra. O
nosso Deus é a Verdade, o fundamento de tudo o que existe: nada se cumpre sem o
seu querer onipotente.
Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos
séculos. O Senhor não muda, não precisa de se mover para alcançar
coisas que não possua. Ele é todo o movimento e toda a beleza e toda a
grandeza. Hoje como outrora. Passarão os céus como o fumo, e a terra
envelhecerá como um vestido (...), mas a minha salvação durará
para sempre e a minha justiça não terá fim.
Deus estabeleceu em Jesus Cristo uma nova e eterna aliança com os homens. Pôs a
sua onipotência a serviço da nossa salvação. Quando as criaturas desconfiam,
quando tremem por falta de fé, ouvimos novamente Isaías anunciar em nome do
Senhor: Porventura encurtou-se o meu braço para que não vos possa
resgatar, ou não me restam forças para vos salvar? Eis que com uma ameaça seco
o mar e converto os rios em deserto, de modo que os seus peixes apodrecem e
morrem de sede por falta de água. Eu visto os céus de trevas e os cubro de luto (Amigos
de Deus, 190).
3. Qual é o papel da liberdade no ato da fé?
A fé que nós professamos é a profunda certeza de um Deus que
veio dar sua vida para nos mostrar a realidade gratuita e infinita do seu amor
por nós. Os seres humanos podem aceitar essa ação de Deus fazendo uso da nossa
liberdade. Diante da dificuldade de perdoar sem limites, os apóstolos pediram
ao Senhor: “Aumenta a nossa fé” (Lc 17,5). Eles queriam acreditar com mais
força e convicção para agir como o Senhor estava lhes pedindo. É necessário um
ato livre da vontade para que Deus derrame seu amor sem medida em nossos
corações e esse Amor fortaleça a Fé, por meio da ação de Deus, o Espírito
Santo, na alma: “Conhecemos o amor que Deus tem por nós e cremos nele” (1 Jo
4,16). Deus quer filhos, não quer escravos e, por isso, quer contar com a
vontade humana e pessoal de cada um para fazer crescer seus frutos. A fé dos
discípulos, sem dúvida, crescerá no decorrer de suas vidas, e alguns deles
chegarão até o martírio por amor e fé em seu Mestre, a quem não estão dispostos
a negar.
Meditando com São Josemaria
Sem liberdade, não podemos corresponder à graça; sem
liberdade, não nos podemos entregar livremente ao Senhor, pelo motivo mais
sobrenatural de todos: porque nos apetece (É Cristo que passa,
184).
Repito-vos: não aceito outra escravidão que não a do Amor de
Deus. E isto porque, como já vos disse em outras ocasiões, a religião é a maior
rebelião do homem que não tolera viver como um animal, que não se conforma -
não sossega - se não conhece o Criador, se não procura a sua intimidade. Eu vos
quero rebeldes, livres de todos os laços, porque vos quero - Cristo nos quer -
filhos de Deus. Escravidão ou filiação divina: eis o dilema da nossa vida. Ou
filhos de Deus ou escravos da soberba, da sensualidade, desse egoísmo
angustiante em que tantas almas parecem debater-se.
O Amor de Deus marca o caminho da verdade, da justiça e do
bem. Quando nos decidimos a responder ao Senhor: a minha liberdade para
ti, ficamos livres de todas as cadeias que nos haviam atado a coisas
sem importância, a preocupações ridículas, a ambições mesquinhas. E a liberdade
- tesouro incalculável, pérola maravilhosa que seria triste lançar aos animais
- emprega-se inteira em aprender a fazer o bem (Amigos de Deus, 38).
4. Nossa Senhora, Mestra da fé
A jornada da fé é vivida como uma peregrinação nesta vida,
com a esperança de participar plenamente do amor de Deus no final desse
caminho. “Esse símbolo da peregrinação da fé ilumina a história interior de
Maria, a crente por excelência, como já sugeriu o Concílio Vaticano II: “a
Santíssima Virgem avançou na peregrinação da fé e manteve fielmente sua união
com seu Filho até a cruz” (João Paulo II, Audiência Geral, 21-III-2001).
A Mãe de Jesus, Mestra da fé, será, sem dúvida, o caminho
mais curto para chegar a crer em seu Filho. Ela, que percorreu o caminho da fé,
é para o cristão um modelo e uma ajuda. Maria está sempre ao lado de seus
filhos para interceder e mediar por aquelas graças que ela sabe que podemos
precisar, como o aumento de nossa fé. Sem dúvida, isso é algo que lhe agradará
muito: acompanhar seus filhos no caminho que os levará à felicidade neste mundo
e na eternidade.
Meditando com São Josemaria
“Não estás só. - Nem tu nem eu podemos encontrar-nos sós. E
menos ainda se vamos a Jesus por Maria, pois é uma Mãe que nunca nos
abandonará” (Forja, 70).
Dizemos agora ao Senhor o mesmo, com as mesmas palavras, ao
acabarmos este tempo de meditação: Senhor, eu creio! Eduquei-me na tua fé,
decidi seguir-te de perto. Ao longo da minha vida, implorei repetidamente a tua
misericórdia. E, repetidas vezes também, pareceu-me impossível que Tu pudesses
fazer tantas maravilhas no coração dos teus filhos. Senhor, eu creio! Mas
ajuda-me, para que creia mais e melhor!
E dirigimos igualmente esta súplica a Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa,
Mestra de fé: Bem-aventurada tu que creste, porque se cumprirão as
coisas que te foram ditas da parte do Senhor (Amigos de Deus, 204).
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