A memória da Apresentação de Nossa Senhora no Templo
Escrito por Academia Marial
20 NOV 2014 - 15H53 (Atualizada em 21 NOV 2023 - 08H23)
Após o Concílio Vaticano II, a Igreja reformulou
seu calendário litúrgico, surgindo então uma coleção de 'Missas
da Virgem Santa Maria', como apêndice ao Missal Romano. Dentre
as festividades marianas do calendário está a memória obrigatória da Apresentação
de Nossa Senhora no Templo, comemorada no dia 21 de novembro.
No que se refere ao culto mariano, o Concílio
dedicou um capítulo especial exortando todos os fiéis ao culto à Virgem Maria,
de maneira essencialmente litúrgica (Lumen Gentium, 67), ou seja,
associada à celebração das festas litúrgicas.
O Concílio destacou o lugar da Mãe de Deus na
Liturgia da Igreja na celebração do ciclo anual dos mistérios de
Cristo: “a santa Igreja a venera com especial amor porque, indissoluvelmente
unida à obra de salvação do seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de
Deus, em quem vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla,
qual imagem puríssima, o que ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser.”
(SC 103)¹
História
Esta celebração antiga iniciou-se no século VI, em
Jerusalém, quando da construção de uma igreja em homenagem a este mistério.
A Igreja do Oriente acolheu e conservou zelosamente as tradicionais festas
marianas, reservando à apresentação de Maria uma memória particular, como um
dos mistérios da vida daquela que Deus escolheu para Mãe de seu Filho Unigênito.
A partir do século XVI, tornou-se uma festa da Igreja
Católica do mundo inteiro.
O nascimento da Virgem Maria não é narrado nas Sagradas
Escrituras, mas em evangelhos apócrifos, em particular no Protoevangelho de São
Tiago. De acordo com os relatos, os pais da Virgem Maria, Joaquim e
Ana, que não podiam ter filhos, receberam uma mensagem de que teriam um
filho. Como agradecimento pela graça da filha que lhes veio,
eles a levaram ainda pequena para o Templo em Jerusalém, para consagrá-la
a Deus. Versões posteriores da história (como no Evangelho do Pseudo-Mateus
e no Evangelho da Natividade de Maria²) nos contam que Maria foi levada
para o Templo com cerca de três anos de idade para cumprir uma promessa. A
tradição conta que ela permaneceu ali para se preparar para o seu futuro papel
como Mãe de Deus (Theotokos, em grego).
Celebração litúrgica
Na Liturgia das Horas, lê-se: “Neste dia da
solene consagração da igreja de Santa Maria Nova, construída junto
ao templo de Jerusalém, celebramos, com os cristãos do Oriente, aquela
consagração que Maria fez a Deus de si mesma, desde a infância, movida
pelo Espírito Santo, de cuja graça ficará plena na sua imaculada conceição”.³
Portanto, a apresentação de Maria tem um
importante propósito teológico: continuar o impacto das festas da Imaculada
Conceição e do nascimento de Maria. Ele enfatiza que a santidade
conferida a Maria foi desde o início de sua vida na Terra e continuou
pela sua infância. Disse São Germano de Constantinopla, na homilia sobre a
Apresentação: Esta menininha prepara o aposento para acolher a Deus, “mas não é
o templo que a santifica e purifica, e sim a sua presença que purifica
inteiramente o templo”.
Para a Igreja Católica, no dia da Apresentação de Maria,
“celebramos a dedicação de si própria que Maria fez a Deus, desde a sua tenra
infância, sob a inspiração do Espírito Santo, que preencheu-a com sua graça…”.
O papa Paulo VI, em sua encíclica de 1974, Marialis Cultus,
escreveu que, “apesar de seu conteúdo apócrifo, [a história da Apresentação de
Maria] apresenta elevados e exemplares valores e avança veneráveis tradições de
origem nas igrejas orientais”.
As três festas (Nascimento, Santo Nome de Maria e
a Apresentação no Templo) correspondem com as três primeiras festas
do ciclo de Jesus, o Nascimento de Jesus (Natal), o Santo Nome de Jesus e a
Apresentação de Jesus no Templo.
O dia 21 de novembro é também um
dia Pro Orantibus, um dia de oração para as freiras enclausuradas, “totalmente dedicadas a
Deus em oração, silêncio e retiro”.
Foi no dia 21 de novembro de 1964 que o Papa Paulo
VI, na clausura da 3ª Sessão do Concílio Vaticano II, consagrou o
mundo ao Coração de Maria e declarou Nossa
Senhora Mãe da Igreja.
No Brasil
A escritora Nilza Botelho Megale, no seu livro intitulado
'107 Invocações da Virgem Maria no Brasil', publicado pela Editora Vozes,
Petrópolis, 1980, afirma que, no Brasil, a primeira Paróquia dedicada a esta invocação foi em
Natal (RN), fundada em 1599. Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo:
“Na capela-mor daquela matriz se colocou, pouco depois, um grande e famoso
quadro de pintura em que se vê o mesmo mistério da Senhora historiado… A sua
festividade se lhe celebra em 21 de novembro, que é o dia em que a Senhora foi
oferecida ao Senhor da Glória”.
A cidade de Porto Calvo, em Alagoas, campo de
diversas batalhas entre brasileiros e tropas invasoras durante a guerra
holandesa, tem também como padroeira a Nossa Senhora da Apresentação.
No Rio de Janeiro, Bairro de Irajá, em 1613 foi
construída uma capelinha. Só em 1644 se instituiu a Paróquia de
Nossa Senhora da Apresentação de Irajá. A Matriz foi confirmada por
Alvará de D. João IV, em 10 de fevereiro de 1647. A capela é uma das joias da
arquitetura religiosa do Rio de Janeiro e a segunda mais antiga da
municipalidade.
Na arte
As representações ocidentais geralmente se concentram
na figura sozinha da jovem Maria subindo os degraus do Templo,
tendo deixado para trás os pais e subindo na direção do sumo-sacerdote e de
outras pessoas no Templo.
O tema também é uma das cenas habituais nos ciclos maiores sobre a Vida da Virgem, embora ele não seja geralmente uma das cenas mostradas nos livros de horas.
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