Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo
(Or. 7,in laudem Caesari fratris, 23-24: PG
35,786-787) (Séc. IV)
É resolução santa rezar pelos defuntos
Que é o homem para que te lembres dele? (Sl
8,5). Que novo mistério é este a meu respeito? Sou pequenino e grande, humilde
e excelso, mortal e imortal, terreno e celeste. Faz-se mister ser eu sepultado
com Cristo, ressurgir com Cristo, ser co-herdeiro de Cristo, tornar-me filho de
Deus e até Deus mesmo.
Tudo isto nos indica o grande mistério: é Deus que por nossa
causa assumiu a humanidade e se tornou pobre, a fim de erguer a criatura
prostrada, trazer a salvação à imagem e renovar o homem. Para sermos todos um
só no Cristo, que, perfeitamente em todos nós, se fez tudo aquilo que ele
próprio é. Que não sejamos mais homem e mulher, bárbaro e cita, escravo
e livre (cf. Cl 3,11), discriminações e sinais vindos da carne, mas
tenhamos unicamente o sinete de Deus, por quem e para quem fomos criados,
somente por ele, e formados e gravados, a fim de sermos só por ele
reconhecidos.
Oxalá sejamos aquilo que esperamos, segundo a grande
benignidade do Deus generoso. Pedindo pouco, dá o máximo aos que o amam com
sincero afeto do coração, desde agora e no futuro. Por causa de nosso amor para
com ele e da esperança, que tudo desculpa, tudo suporta. Por tudo
dando graças (coisa que muitíssimas vezes é instrumento de salvação, a Palavra
o sabe) e recomendando-lhe nossas almas e as daqueles que pela estrada comum,
mais bem preparadas, chegaram primeiro à morada.
Ó Senhor e Criador de tudo e, mais que tudo, desta imagem! Ó
Deus de teus homens, Pai e Chefe, ó Árbitro da vida e da morte, ó Guarda e
Benfeitor nosso! Ó tu, que tudo fazes a seu tempo e, pelo Verbo Artífice,
transformas da maneira como em tua sabedoria e desígnio profundos bem sabes,
agora então, rogo-te, recebe Cesário, primícias de nossa separação.
A nós, quando chegar a hora, mantidos em nossa vida mortal
por tanto tempo quanto parecer bom, recebe-nos também. E recebe-nos, sim,
preparados e não perturbados por temor a ti. Sem voltar as costas ao dia
derradeiro e de má vontade, como costumam proceder aqueles que se apegam ao
mundo e à carne, arrancados à força. Mas com prontidão e ardor, partindo para
aquela feliz e intérmina vida que está em Cristo Jesus, nosso Senhor, a quem a
glória pelos séculos dos séculos. Amém.
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