FINADOS E SANTIDADE
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
A Igreja celebra em dias próximos “todos os santos” e “todos
os falecidos”. O prefácio da prece eucarística de Todos os Santos reza: “Vós
nos concedeis hoje festejar vossa cidade, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde
a assembleia dos nossos irmãos e irmãs canta eternamente o vosso louvor. Para
esta cidade, peregrinos e guiados pela fé, nos apressamos jubilosos,
compartilhando a alegria dos membros mais ilustres da Igreja, que nos concedeis
como exemplo e auxílio para a nossa fragilidade”. No prefácio da missa dos
fiéis defuntos se reza: “Nele brilha para nós a feliz esperança da
ressurreição: e, se a certeza da morte nos entristece, conforta-nos a promessa
da futura imortalidade. Senhor, para os que creem em vós a vida não é tirada,
mas transformada, e desfeita esta morada terrestre, nos é dada uma habitação no
céu”. A celebração de Finados nos recorda da nossa condição mortal e a
Solenidade de Todos os Santos a finalidade da vida cristã. “Sede, portanto,
perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,48).
O dia de Finados coloca o drama humano da morte. Ter
consciência da finitude e conviver com ela suscita interrogações e a busca de
sentido para o viver e o morrer. A sede de infinito pode afastar a reflexão
sobre o tema do morrer. “Morrer, nem pensar!” Poucos consideram que viveram o
suficiente. Porém, a morte deve ser levada a sério e a reflexão sobre ela deve
fazer parte da nossa vida.
O Dia de Finados é sugestivo porque coloca em pauta o tema
para todos. Para este dia, a Igreja motiva a visita aos cemitérios e a
participação em celebrações religiosas. Há muitas formas de ver a morte e estas
orientações da Igreja apresentam o modo cristão de ver e viver a morte. Visitar
e cuidar dos cemitérios é uma atitude de respeito com as pessoas que
colaboraram na construção da história familiar, da Igreja, da cidade e da
sociedade. Levar a sério a limitação humana, que tem na morte física o limite insuperável,
é o melhor convite para valorização, o cuidado e a promoção da vida. É um grito
para viver bem e se ocupar daquilo que tem valor de eternidade.
A Solenidade de Todos os Santos nos faz pensar sobre a
pergunta formulada pelo filósofo Maurice Blondel: “Sim ou não, a vida humana
tem um sentido e o homem um destino”? A vida dos santos é uma resposta a esta
pergunta existencial. Cada um a seu modo, na sua época e nas suas
circunstâncias foi respondendo. Se o fato da morte é inerente a vida, isto não
significa que a vida não tenha um sentido ou o sentido da vida seja o morrer. O
modo cristão de pensar é que o sentido da vida é a busca constante da santidade
e o destino é a glória eterna. Quando se analisa a vida dos santos percebe-se
claramente que a vida deles não foi medíocre, superficial e indecisa. As santas
e os santos amaram a Deus e ao próximo. Toda dedicação ao próximo se alimentava
no amor a Deus e na vida de oração.
Porém, o objetivo da Festa de Todos os Santos é recordar
todos os falecidos que estão diante de Deus na eternidade. Na Igreja temos
alguns que são reconhecidos oficialmente como santos e são apresentados como
modelos e intercessores. A Igreja também crê e anuncia o que diz o livro do
Apocalipse 7, 9-10: “Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações,
tribos, povos, línguas, e que ninguém podia contar. […] Todos proclamavam com
voz forte; “A salvação pertence ao nosso Deus”. O convite é fazermos parte, um
dia, desta multidão para louvar a grandeza de Deus.
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