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sábado, 9 de novembro de 2024

O exame de consciência diário (2)

Foto: Pixabay

O exame de consciência diário

São Josemaria recomendava fazer um breve exame de consciência no final de cada dia, para crescer sempre no amor a Deus e evitar tudo o que possa constituir um obstáculo a esse amor.

07/09/2021

2. Conhecimento de Deus e conhecimento próprio

O exame de consciência foi tradicionalmente considerado como meio de conhecimento próprio, e este, por sua vez, como caminho necessário para a união com Deus (Delchard, 1961, cols. 1831 – 1838). São Josemaria também o indica, quando afirma que “o conhecimento próprio leva-nos como que pela mão à humildade” (Caminho 609). E, com ela, à confiança e ao amor de Deus em reconhecimento de sua Bondade infinita: “Não esqueças que és...a lata do lixo. – Por isso, se porventura o Jardineiro divino lança mão de ti, e te esfrega e te limpa...e te enche de magníficas flores... nem o aroma e nem a cor que embelezam a tua fealdade devem envaidecer-te” (Caminho 592).

É, no entanto, notável que São Josemaria anteponha o conhecimento de Deus ao conhecimento de si próprio: “Invoca o Espírito Santo no exame de consciência, para conheceres mais a Deus, para te conheceres a ti mesmo, e assim poderes converter-te em cada dia” (Forja, 326; cfr. É Cristo que Passa 58, 164; Sulco 177; Forja, 184).

Não se trata de uma novidade, mas de um modo de propor a finalidade do exame de consciência que leva a destacar a primazia do Amor de Deus por nós (cfr. 1 Jo 4, 19). Para viver vida sobrenatural, é necessário conhecer a própria realidade do ser cristão: tanto a própria humanidade, com a sua limitação e a sua miséria, como – e de modo mais fundamental – a participação na vida divina que recebemos com a graça: “Saber que saímos das mãos de Deus, que somos objeto da predileção da Trindade Beatíssima, que somos filhos de tão grande Pai. Eu peço ao meu Senhor que nos decidamos a tomar consciência disso, a saboreá-lo dia a dia” (Amigos de Deus, 26).

O cristão deve olhar para si mesmo no exame de consciência à luz destas verdades; se não, alcançará uma visão parcial e com frequência pouco positiva de si mesmo e da sua atuação, em contraste com a realidade querida por Deus: “Lança para longe de ti essa desesperança que te produz o conhecimento de tua miséria. – É verdade: por teu prestígio econômico, és um zero..., por teu prestígio social outro zero..., e outro por tuas virtudes, e outro por teu talento... Mas, à esquerda dessas negações está Cristo... E que cifra incomensurável não resulta!” (Caminho 473). Daí o conselho de São Josemaria “Medite cada um o que Deus fez por ele e no modo como correspondeu” (Amigos de Deus, 312). Tendo presentes as graças recebidas por Deus – a vida, a filiação divina, a redenção – nesse colóquio de amor com Deus que deve ser o exame, a alma fica sem nada escondido, com dor de amor pelas culpas, agradecida pelos dons recebidos, esperançada pela ajuda divina, e se enche de desejos de corresponder melhor, daí para a frente (cfr. Amigos de Deus, 215).

3. Exame geral e exame particular

São Josemaria conhece e torna própria – como já dissemos – a distinção entre exame geral e exame particular, distinção clássica e bem conhecida na ascética católica (cfr. Liuima – Derville, 1961, cols. 1838-1849). Com uma comparação que remete à consideração da vida cristã como luta – “guerra de paz”, “contenda de amor”, “combate espiritual”, “torneio de amor” (cfr. É Cristo que Passa 73-77) – apresenta expressivamente a natureza e a finalidade de ambos os modos do exame de consciência: “O exame geral assemelha-se à defesa. – O particular ao ataque. – O primeiro é a armadura. O segundo, espada toledana” (Caminho, 238).

O exame geral, comparado à armadura que protege e defende quem a usa, tem como objeto o combate diário em seu conjunto. Seu exercício oferece ao cristão a possibilidade de lutar com continuidade, sem baixar a guarda nem abandonar a batalha, de “começar e recomeçar” (Forja, 384; cfr. Caminho 292), de modo que a vida espiritual seja ativa e forte e, por isso, fique protegida das ciladas do inimigo: “Esse modo sobrenatural de proceder é uma verdadeira tática militar. – Sustentas a guerra – as lutas diárias da tua vida interior – em posições que colocas longe dos redutos da tua fortaleza. E o inimigo acode aí: à tua pequena mortificação, à tua oração habitual, ao teu trabalho metódico, ao teu plano de vida; e é difícil que chegue a aproximar-se dos torreões, fracos para o assalto, do teu castelo. E, se chega, chega sem eficácia” (Caminho, 307).

O exame particular se centraliza em um ponto concreto em que se quer melhorar: “Com o exame particular tens de procurar diretamente adquirir uma virtude determinada ou arrancar o defeito que te domina” (Caminho 241). É a “arma de combate” (Caminho 240), que mantém vivo o espírito de luta ao longo da jornada, concentrando as forças em uma frente concreta. Não se trata, porém, de qualquer frente de batalha, mas sim que o objeto do exame particular seja bem definido para a situação da alma hoje e agora. O cristão deve pedir ajuda a Deus e na direção espiritual para determinar o que é mais conveniente para a sua alma: “Pede luz. Insiste. – Até dares com a raiz, para lhe aplicares essa arma de combate que é o exame particular” (Caminho 240). E depois, uma vez fixado o ponto, determinar também os meios para conseguir esse objetivo: assim poderá “ir diretamente” adquirir a virtude ou arrancar o defeito.

São Josemaria acentua o aspecto positivo da luta ascética, apresentando como objetivo ou finalidade, em primeiro lugar, “adquirir uma virtude determinada” (Caminho 241). Mesmo quando às vezes se aspire a “arrancar um defeito”, será, normalmente, mais atraente e eficaz dirigir a atenção não a esse defeito e sim à virtude contrária a ele e esforçar-se por adquiri-la. “O movimento da alma para o bem – escrevia São Tomás de Aquino – é mais forte que o destinado a afastar-se do mal” (S.Th., 1-2, q. 29, a. 3) e São Josemaria em seu ensinamento sobre o exame está de acordo com essa observação antropológica.

Bibliografia: *CECH - “Camino. Edición crítico-histórica”, pp. 423-431; Agostino Cappelletti, “Examem de consciência”, em Ermanno Ancilli (dir. ), Diccionario de Espiritualidad, II, Barcelona, Herder, 1983, pp 68-73; Antoine Delchard et al. , “Examem de conscience”, em DSp, IV, 1961, cols. 1789-1838; Francisco Fernández Carvajal, Hablar con Dios. Meditaciones para cada día del año, Madri, Palabra, 2004; Antanas Liuima – André Derville, “Examem particulier”, em DSp, IV, 1961, cols. 1839-1849.

Juan Ramón AREITIO

“Exame de Consciência”, do Diccionario de San Josemaria Escrivá de Balaguer

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-exame-de-consciencia-diario/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF