Uma breve história do cristianismo
MONGES E EREMITAS
Por Geoffrey Blainey
Os primeiros cristãos, em sua
maioria, viviam em companhia da família e trabalhavam seis dias por semana. Seu
cotidiano era absolutamente comum. Em
320, porém, um número crescente de cristãos eremitas habitava regiões isoladas
da Síria ou vilarejos abandonados perto do rio Nilo.
Muitos
viviam sós, em cavernas ou cabanas simples. Nos domingos, eles se reuniam a
outros eremitas para rezar. Em seguida, retornavam a suas moradias com chão de
terra batida. Alguns, porém, não suportavam o isolamento; além de se
ressentirem da falta de atividade, eram vítimas de ladrões e assassinos. Estes
eremitas, então, procuravam comunidades chamadas mosteiros, onde passavam a
viver para sempre como monges.
A
disciplina fazia parte do dia a dia dos monges. Vivendo sozinhos ou em grupo,
seguiam fielmente regras rígidas e numerosas. Um mosteiro de uma dúzia de
homens, por exemplo, sem regras, seria caótico, impraticável. Uma decisão
importantíssima era quanto à admissão de novos membros, já que em tempos de
carência de alimentos ou agitação popular – ou, ainda, de fervor evangélico –
muita gente devia bater às portas dos mosteiros. O ingresso no mosteiro
implicava renunciar ao mundo exterior e a todos os seus prazeres, e esquecer o
passado.
A VIDA NO MOSTEIRO
O
candidato à admissão devia saber de cor a oração do Pai-Nosso e alguns salmos,
além de convencer o superior do mosteiro de que não era um criminoso nem estava
fugindo de um antigo trabalho, para começar vida nova. As atitudes e a
personalidade do candidato eram cuidadosamente analisadas, para que o espírito
do mosteiro não fosse prejudicado pela admissão de monges que levassem para lá
o egoísmo do mundo exterior.
O CANDIDATO À ADMISSÃO DEVIA [...]
CONVENCER O SUPERIOR DO MOSTEIRO DE QUE NÃO ERA CRIMINOSO. |
Os
peregrinos ou os monges de outros mosteiros que estivessem em viagem eram
tratados com generosa hospitalidade. Pacômio considerava as mulheres capazes de
perturbar a paz do mosteiro. No entanto, se delas chegasse ao anoitecer, “seria
crueldade manda-la embora”. Assim, acomodava-se a viajante em um aposento para
hóspedes, separado por um muro ou uma cerca.
As
palavras “convento”, “mosteiro” e “claustro” já tiveram o mesmo significado.
“Convento” era sinônimo de mosteiro, mas passou a ser usado para instituições
femininas. Atualmente, “claustro” corresponde às arcadas e aleias internas da
construção, mas na era medieval designava o prédio inteiro. Na peça Medida
por Medida, de Shakespeare, um dos personagens diz: “Hoje minha irmã vai
entrar para o claustro.”
Em
épocas de fome e pobreza, o monastério oferecia uma segurança incomum. Era
fornecido até um uniforme, em duas versões: de gala e de uso diário. Os 3 mil
homens que ocupavam os cerca de nove monastérios administrados por Pacômio
usavam uma túnica de linho ou pele de cabra, cinto, lenço no pescoço e um capuz
com a insígnia do mosteiro e, às vezes, da seção em que viviam.
Alguns
cristãos concluíram que tanto era possível viver como eremita em uma cabana do
deserto quanto junto a uma estrada movimentada. Simeão Estilista, nascido em
Cilícia por volta de 390, perto do atual território da Síria, deixou o mosteiro
e resolveu construir uma coluna – “stylos” é pilar em grego – e viver
sobre ela. A coluna, várias vezes aumentada, chegou a uma altura equivalente a
um prédio de seis andares. Alimento, água e mensagens eram enviados a ele, lá
de cima. Ano após ano, verão e inverno, ele viveu sobre a coluna, cercado por
uma grade de madeira, para evitar uma queda. Pregador cativante e gentil,
transmitia uma mensagem duas vezes por dia, quando incentivava os ouvintes a
olharem para o céu e “imaginar o reino esperado”, depois que a famosa coluna
não estivesse mais habitada.
O CORPO PRECISAVA SER DOMADO, PARA
PERMITIR QUE O ESPÍRITO E A ALMA TRIUNFASSEM. |
Simeão
Estilista refletia uma tendência à meditação e à mortificação encontrada no
cristianismo. Acreditava-se que os apetites do ser humano representassem um
perigo. O Corpo precisava ser domado, para permitir que o espírito e a alma
triunfassem. Era essa a mensagem transmitida por eles aos que se reuniam à
coluna para ouvi-lo.
Enquanto
homens vivendo no alto de colunas atraíram multidões, os monges e os eremitas
ficavam ocultos. De início, viviam apenas no Oriente – as palavras “eremita” e “monge”
vêm do grego. No ano 400, novos mosteiros foram projetados ou construídos, da
Arábia e da Abissínia à França e ao sudeste da Escócia.
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