Translate

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Uma breve história do cristianismo: MONGES E EREMITAS (I)

São Martinho, Eremita (Aleteia)

Uma breve história do cristianismo

MONGES E EREMITAS

Por Geoffrey Blainey

    Os primeiros cristãos, em sua maioria, viviam em companhia da família e trabalhavam seis dias por semana. Seu cotidiano  era absolutamente comum. Em 320, porém, um número crescente de cristãos eremitas habitava regiões isoladas da Síria ou vilarejos abandonados perto do rio Nilo.

    Muitos viviam sós, em cavernas ou cabanas simples. Nos domingos, eles se reuniam a outros eremitas para rezar. Em seguida, retornavam a suas moradias com chão de terra batida. Alguns, porém, não suportavam o isolamento; além de se ressentirem da falta de atividade, eram vítimas de ladrões e assassinos. Estes eremitas, então, procuravam comunidades chamadas mosteiros, onde passavam a viver para sempre como monges.

    A disciplina fazia parte do dia a dia dos monges. Vivendo sozinhos ou em grupo, seguiam fielmente regras rígidas e numerosas. Um mosteiro de uma dúzia de homens, por exemplo, sem regras, seria caótico, impraticável. Uma decisão importantíssima era quanto à admissão de novos membros, já que em tempos de carência de alimentos ou agitação popular – ou, ainda, de fervor evangélico – muita gente devia bater às portas dos mosteiros. O ingresso no mosteiro implicava renunciar ao mundo exterior e a todos os seus prazeres, e esquecer o passado.

A VIDA NO MOSTEIRO

    O candidato à admissão devia saber de cor a oração do Pai-Nosso e alguns salmos, além de convencer o superior do mosteiro de que não era um criminoso nem estava fugindo de um antigo trabalho, para começar vida nova. As atitudes e a personalidade do candidato eram cuidadosamente analisadas, para que o espírito do mosteiro não fosse prejudicado pela admissão de monges que levassem para lá o egoísmo do mundo exterior.

O CANDIDATO À ADMISSÃO DEVIA [...] CONVENCER O SUPERIOR DO MOSTEIRO DE QUE NÃO ERA CRIMINOSO.

    
    Umas das primeiras listas de regras foi elaborada por um monge egípcio chamado Pacômio, fundador de um mosteiro em um vilarejo quase deserto, próximo ao rio Nilo, em 323. A regra de número 60, conforme aprovado por Pacômio, instruía os monges a não discutirem questões da vida mundana. As roupas eram lavadas aos domingos, mas sempre em silêncio. Os encarregados de preparar o pão diariamente não podiam conversar durante a tarefa; em vez disso, deviam recitar trechos da Bíblia. Presume-se que outras tarefas diárias, como preparar fibras para a fabricação de cordas ou folhas de palmeira para a fabricação de cestas trançadas, também fossem executadas em silêncio.

     Os peregrinos ou os monges de outros mosteiros que estivessem em viagem eram tratados com generosa hospitalidade. Pacômio considerava as mulheres capazes de perturbar a paz do mosteiro. No entanto, se delas chegasse ao anoitecer, “seria crueldade manda-la embora”. Assim, acomodava-se a viajante em um aposento para hóspedes, separado por um muro ou uma cerca.

     As palavras “convento”, “mosteiro” e “claustro” já tiveram o mesmo significado. “Convento” era sinônimo de mosteiro, mas passou a ser usado para instituições femininas. Atualmente, “claustro” corresponde às arcadas e aleias internas da construção, mas na era medieval designava o prédio inteiro. Na peça Medida por Medida, de Shakespeare, um dos personagens diz: “Hoje minha irmã vai entrar para o claustro.”

     Em épocas de fome e pobreza, o monastério oferecia uma segurança incomum. Era fornecido até um uniforme, em duas versões: de gala e de uso diário. Os 3 mil homens que ocupavam os cerca de nove monastérios administrados por Pacômio usavam uma túnica de linho ou pele de cabra, cinto, lenço no pescoço e um capuz com a insígnia do mosteiro e, às vezes, da seção em que viviam.

    Alguns cristãos concluíram que tanto era possível viver como eremita em uma cabana do deserto quanto junto a uma estrada movimentada. Simeão Estilista, nascido em Cilícia por volta de 390, perto do atual território da Síria, deixou o mosteiro e resolveu construir uma coluna – “stylos” é pilar em grego – e viver sobre ela. A coluna, várias vezes aumentada, chegou a uma altura equivalente a um prédio de seis andares. Alimento, água e mensagens eram enviados a ele, lá de cima. Ano após ano, verão e inverno, ele viveu sobre a coluna, cercado por uma grade de madeira, para evitar uma queda. Pregador cativante e gentil, transmitia uma mensagem duas vezes por dia, quando incentivava os ouvintes a olharem para o céu e “imaginar o reino esperado”, depois que a famosa coluna não estivesse mais habitada.

O CORPO PRECISAVA SER DOMADO, PARA PERMITIR QUE O ESPÍRITO E A ALMA TRIUNFASSEM.

     Simeão Estilista refletia uma tendência à meditação e à mortificação encontrada no cristianismo. Acreditava-se que os apetites do ser humano representassem um perigo. O Corpo precisava ser domado, para permitir que o espírito e a alma triunfassem. Era essa a mensagem transmitida por eles aos que se reuniam à coluna para ouvi-lo.

     Enquanto homens vivendo no alto de colunas atraíram multidões, os monges e os eremitas ficavam ocultos. De início, viviam apenas no Oriente – as palavras “eremita” e “monge” vêm do grego. No ano 400, novos mosteiros foram projetados ou construídos, da Arábia e da Abissínia à França e ao sudeste da Escócia.

     O primeiro mosteiro da Europa só foi fundado em 361, perto de Poitiers, no atual território francês. Martinho, o fundador, era um ex-soldado, e o sucesso foi tal, que ele veio a ser bispo de Tours, em 375. Mais de mil e cem anos depois, em homenagem a ele, uma criança recebeu o nome de “Martinho”. Era Martinho Lutero, que seria o primeiro protestante.

Fonte: Livro "Uma breve história do cristianismo", de Geoffrey Blainey, Editora Fundamento Educacional, págs 77/86, Ano 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF