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quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Uma breve história do cristianismo: MONGES E EREMITAS (II)

São Martinho (Aleteia)

Uma breve história do cristianismo

MONGES E EREMITAS

Por Geoffrey Blainey

UM DILEMA CONSTANTE: ENFRENTAR OU RECUAR?

            A grande quantidade de eremitas e mosteiros foi surpreendente. A vida de Jesus pouco indicava que viessem a existir cristãos afastados do mundo. Embora tivesse passado quarenta dias e noites no deserto, preparando-se para a nova vida de evangelista, nos anos seguintes Jesus preferiu estar acompanhado, na cidade ou no campo. Ele gostava de celebrar, de ensinar e conversar. Embora rezasse com frequência, não costumava dedicar a maior parte do dia à oração ou à leitura de textos sagrados. Comer em silêncio e afastar as mulheres com certeza eram ideias que não o atraíam.

            O objetivo do ministério de Cristo era levar sua mensagem ao mundo, enquanto monges e eremitas geralmente buscavam o isolamento. Cristo, ao percorrer a Galileia, preocupou-se porque “a safra é realmente abundante, mas os trabalhadores são poucos.” Então, se o mundo precisava de mais mestres e pregadores, por que permitir que homens e mulheres devotos procurassem o silêncio e o isolamento de mosteiros e conventos? Suas vozes eram necessárias nas estradas, nas sinagogas – onde quer que houvesse pessoas reunidas.

            Os reclusos eram quase todos homens, mas cada vez mais mulheres – solteiras e viúvas, em geral – desejavam formar grupos. Elas se uniam para cuidar de membros da congregação que adoecessem. No Império Romano, poucas mulheres eram alfabetizadas, mais muitas se interessaram em aprender a ler, para transmitir a Bíblia às crianças. No sabbath, elas organizavam corais e, quando havia necessidade de mais pompa, procissões. As mulheres passaram a usar roupas semelhantes, bem simples.

            Aquele foi um passo na direção  de reunir as devotas na mesma casa, como monjas. Sendo as mulheres mais numerosas do que os homens nas congregações cristãs, não foi difícil recrutar novas monjas. Enquanto no Antigo Testamento a mulher sem filhos despertava piedade, o cristianismo adotava uma atitude diferente. Alguns líderes cristãos acreditavam que as jovens serviam melhor a Deus quando não eram casadas. Um defensor desse ponto de vista foi o conhecido teólogo Jerônimo, que diligentemente produzia a Bíblia Vulgata, o texto oficial dos católicos, pelos mais de mil anos seguintes. Ele insistia que as mulheres deviam viver em mosteiros exclusivamente femininos, evitando assim os momentos em que “o desejo excita os sentidos”, e exaltava as mulheres solteiras de rosto pálido e aparência frágil, “por causa do jejum”. Já naquele tempo a anorexia tinha seus adeptos.

            A administração de um mosteiro representava uma tarefa angustiante para mulheres e homens sérios. Basílio, o Grande, nascido em 330 Capadócia, na Turquia central, pretendia tornar-se professor de retórica, mas foi tocado por Macrina, sua irmã, fundadora de um mosteiro nas terras de propriedade da família. Depois de visitar eremitas e monges que viviam no Egito, ele fundou o próprio mosteiro – o primeiro, perto do que havia sido criado pela irmã – que foi usado como base de seu trabalho filantrópico. Basílio seria o fundador espiritual de uma longa linha de mosteiros que se espalhou pela Rússia e por outras terras eslavas.

CASAMENTO: SIM OU NÃO?

            Os líderes do Império Romano tendiam à promiscuidade. Os cristãos como reação, tomaram o caminho do puritanismo. Os primeiros monges do Egito evitavam o sexo, e muitos cristãos esperavam que seus bispos e sacerdotes vivessem castamente. Mas o cristianismo iniciante, tal como o judaísmo, não proibia o casamento. A questão mais importante era com quem eles se casavam.

            Em volta de 305, uma década antes de Constantino passar a proteger e apoiar a Igreja, líderes cristãos, espanhóis em sua maioria, reuniram-se em Elvira, no sul da Espanha. Sua disposição era clara: eles defendiam a respeitabilidade e a castidade. Os sacerdotes já casados deveriam abster-se do sexo. Se a partir de então tivessem filhos, seriam afastados. No entanto, esses eram ideias e não regras absolutas.

            O Influente Concílio de Niceia, reunido em 325, de modo geral repetiu o clamor espanhol por moderação. Somente aos escalões inferiores do clero seria permitido o casamento – uma regra ainda seguida pela Igreja Ortodoxa, onde os padres de paróquias são casados.

            No Ocidente, o comportamento do clero não era tão rigidamente imposto.

NA FRANÇA, NOS CEM ANOS SEGUINTES AO ANO DE 942, HOUVE TRÊS BISPOS CASADOS, COM FILHOS.

Na França, nos cem anos seguintes ao ano de 942, houve três bispos com filhos, e até alguns papas tiveram filhos ilegítimos.

            As regras da Igreja eram infringidas com tanta frequência no Ocidente, que alguns reformistas consideravam o casamento dos sacerdotes uma solução conciliatória. Outros observadores, também pragmáticos, discordavam; achavam que devia ser evitado a todo custo o casamento formal de bispos ou padres, porque eles poderiam transferir para os filhos parte das riquezas da Igreja.

Fonte: Livro "Uma breve história do cristianismo", de Geoffrey Blainey, Editora Fundamento Educacional, págs 77/86, Ano 2012.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF