A SINODALIDADE IMPULSIONA A MISSÃO DA IGREJA SOB A
ORIENTAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO
Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)
O Documento Final da XVI Assembleia Geral Ordinária do
Sínodo dos Bispos lança a todos os batizados um chamado à missão (Doc. Final,
57-67; 75-87; 140-153). “Evangelizar é ‘a missão essencial da Igreja […] é a
graça e a vocação próprias da Igreja, sua identidade profunda’ (EN 14)” (Doc.
Final, 32).
O processo sinodal revelou que todos os batizados,
independentemente de seu estado de vida ou função, são chamados a ser
protagonistas da missão evangelizadora (Doc. Final, 57-59). “A sinodalidade não
é um fim em si mesma, mas visa à missão que Cristo confiou à Igreja no
Espírito” (Doc. Final, 32). Intimamente conectadas, a missão ilumina a
sinodalidade, enquanto esta, por sua vez, conduz à missão. “Na Igreja sinodal,
toda a comunidade, na livre e rica diversidade de seus membros, é convocada a
orar, ouvir, analisar, dialogar, discernir e aconselhar na tomada de decisões”
(CTI, nº 68) para a missão (Doc. Final, 87).
Como instrumento de renovação contínua, a sinodalidade
permite que a Igreja responda ao seu chamado missionário, escutando os clamores
dos pobres, promovendo a inclusão e anunciando o Evangelho com alegria e
autenticidade. Não sendo um fim em si, a sinodalidade estimula o compromisso de
“sair ao encontro das periferias existenciais”, marcadas pela pobreza,
exclusão, injustiça e falta de sentido. Esse movimento, além de ser um ato de
amor ao próximo, transforma a Igreja em um sinal de unidade e esperança para
toda a humanidade.
A missão não é exclusiva do clero, mas um empreendimento
coletivo enriquecido pelos dons e carismas de todos os fiéis. “Os Padres da
Igreja refletem sobre a natureza comunitária da missão do Povo de Deus por meio
de um tríplice nihil sine: ‘nada sem o bispo’ (Santo Inácio de
Antioquia, Carta aos Trallesianos, 2.2), ‘nada sem o conselho dos presbíteros,
nada sem o consentimento do Povo’ (São Cipriano de Cartago, Carta 14.4). Quando
essa lógica do nihil sine é quebrada, a identidade da Igreja é
obscurecida e sua missão é inibida” (Doc. Final, 88).
Por ser uma obra coletiva, a missão exige a valorização do
papel dos leigos, o protagonismo das mulheres e a inclusão de jovens e grupos
marginalizados como agentes essenciais na vida eclesial. Para que a missão
alcance sua eficácia plena, é indispensável uma verdadeira conversão relacional
dentro da Igreja. Isso requer a promoção de relações baseadas no diálogo, na
escuta e no respeito mútuo (Doc. Final, 50-54). Além disso, a missão convoca à
superação de divisões internas e à erradicação de atitudes clericais que
comprometem a sinodalidade e dificultam a participação plena de todos os
fiéis.
A renovação missionária da Igreja exige discernimento,
mudanças estruturais e uma formação contínua de discípulos missionários,
capacitados a testemunhar o Evangelho. Por sua vez, o discernimento
comunitário, que valoriza todas as vozes, é um elemento essencial para
concretizar a missão de maneira viva e eficaz. Por isso, o Documento Final
enfatiza a necessidade de reformar os conselhos, assembleias e outros órgãos
participativos, tornando-os mais eficazes, transparentes e comprometidos com a
missão (Doc. Final, 103-108). Isso reflete o esforço para alinhar as práticas
pastorais com as demandas contemporâneas e criar um ambiente verdadeiramente
sinodal e missionário.
Longe de ser uma escolha opcional, a missão é uma resposta
imprescindível ao Evangelho e aos desafios do tempo presente. Essa tarefa
demanda conversão, coragem e corresponsabilidade de todos os batizados,
permitindo que o Espírito Santo continue a guiar a Igreja em sua vocação. Dessa
forma, a missão torna-se uma expressão prática, viva e concreta de uma Igreja
sinodal no coração do mundo.
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