Translate

sábado, 21 de dezembro de 2024

Antonin: “Em Notre-Dame, eu realmente trabalhei para Deus”

Antonin, trabalhando no canteiro de obras da Igrja Notre-Dame (Opus Dei)

Antonin: “Em Notre-Dame, eu realmente trabalhei para Deus”.

Por ocasião da reabertura da Notre-Dame de Paris no domingo, 8 de dezembro de 2024, oferecemos o testemunho de Antonin, que teve a sorte de trabalhar nesse canteiro de obras único.

10/12/2024

Antonin, você é canteiro de pedras. O que seu trabalho envolve em termos práticos?

Como canteiro especializado em monumentos históricos, trabalho principalmente na restauração de pedras antigas e em projetos de design artístico. Meus clientes geralmente são representantes de monumentos históricos ou galerias que desejam implementar o projeto de um artista, como um brasão de armas.

Você é um dos cerca de 2.000 artesãos que tiveram a chance de trabalhar na reconstrução de Notre-Dame. Como você chegou a participar dessa aventura?

Em janeiro de 2024, eu deveria estar treinando para me tornar um técnico de acesso por corda, mas o curso acabou sendo cancelado. Com uma agenda mais leve, decidi avisar às pessoas que estava disponível, pois já me haviam chamado três vezes para trabalhar no local da Notre-Dame. Por três vezes, tive que recusar, com pesar, é claro, justamente por falta de disponibilidade. Felizmente, houve uma quarta vez, e me convidaram para colaborar na obra. Esse foi o início de uma aventura incrível! Foram dois meses excepcionais, apesar das restrições de segurança muito rigorosas. A atmosfera era fantástica, e conheci pessoas realmente incríveis de diferentes profissões. Às vezes, havia até 400 de nós no local ao mesmo tempo. Além disso, eu nunca tinha visto um lugar tão limpo e bem organizado: parecia uma clínica!

Antonin, trabalhando no canteiro de obras da Igrja Notre-Dame (Opus Dei)

Qual é a diferença entre essa obra e as outras? Qual foi a sensação de contribuir para a construção?

A Notre-Dame é um lugar único para os cristãos de todo o mundo, mas também é um local mítico para nós, artesãos. Poder contemplar o pôr do sol do alto da torre de Notre-Dame, no coração de Paris, é realmente incrível. A emoção que senti ao trabalhar lá foi ainda maior porque, quando cheguei ao local, eu havia sido batizado apenas 6 meses antes - fui batizado na missa de Páscoa de 2023! Assim que comecei a trabalhar em Notre-Dame, fiquei impressionado. Fiquei particularmente impressionado com a enorme estátua de Cristo, abençoando a cidade com suas mãos feridas pelos estigmas, que domina a fachada sul e sob a qual eu estava trabalhando. Realmente me senti como se estivesse ajudando a construir um edifício para Deus, aos pés de Deus.

Pode nos dar uma descrição concreta do seu trabalho em Notre-Dame?

Trabalhei na fachada sul, acima da grande rosácea. Nossa tarefa era reconstruir completamente duas torres de 8 metros de altura em cada lado da pequena rosácea. Para isso, elas tiveram que ser desmontadas, reconstruídas e pré-cortadas no tamanho certo. Em seguida, cada peça foi remontada com o uso de um guindaste, ajustada milimetricamente, antes que eu, como canteiro, fosse recortá-las no local. Foi um trabalho de precisão e paixão, pois cada pedra tinha que ser perfeita.

Antonin, trabalhando no canteiro de obras da Igrja Notre-Dame (Opus Dei)

Como a sua conversão afetou sua forma de trabalhar e os relacionamentos com seus colegas de trabalho?

No canteiro de obras, um católico malgaxe começou a me chamar de “o padre” porque, quando estávamos esperando os guindastes colocarem uma nova pedra, às vezes eu pegava o meu terço. Afinal de contas, estávamos trabalhando para Nossa Senhora! Algumas pessoas às vezes zombavam de mim, mas os malgaxes sempre vinham em minha defesa, dizendo: “Deixem o padre em paz, ele está rezando por nós!” Rezar o terço naquela torre sul, seguindo o caminho do sol ao longo do dia, era incrível!

Minha conversão teve um impacto enorme em meu trabalho. Todas as manhãs, por exemplo, eu peço ajuda a São José, o santo padroeiro dos artesãos. Se eu não rezar, realmente sinto que meu trabalho fica prejudicado. Minha fé também influencia a maneira como trabalho com meus colegas, a quem digo que sou católico e com quem tento compartilhar minha alegria. Explico a eles que saber que não estou sozinho diante da adversidade, mas que sou apoiado por Alguém que está sempre ao meu lado, me ajuda a seguir em frente.

Ouvi dizer que você descobriu recentemente o livro Caminho de São Josemaria. Houve alguma coisa em particular que o tenha impressionado?

Caminho é perfeito para quem trabalha em obras! Ao contrário das longas homilias, que às vezes podem ser difíceis de ler, aqui você encontra frases curtas, francas e diretas que falam ao nosso coração e às vezes nos colocam em nosso lugar. Eu devorei esse livro. Ele me impressionou tanto que decidi comprar outro exemplar e dar de presente a um amigo da obra. Alguns de nós, embora nem todos católicos, ficamos impressionados, logo na primeira página de Caminho, com o ponto em que São Josemaria escreve: Sê homem - esto vir! Isso “devastou” mais de um de nós no canteiro de obras.

Não digas: “Eu sou assim…, são coisas do meu caráter”. São coisas da tua falta de caráter. Sê homem - esto vir. Os pontos sobre o trabalho têm uma ressonância especial em nosso mundo de artesãos: fazer bem a tarefa e encontrar a perfeição na beleza. Para mim, que sou canteiro e, portanto, uma pessoa bastante solitária, descobrir essa dimensão cristã é uma verdadeira vantagem: agora sei que o Senhor está ao meu lado, levando-me ao longo do caminho.

São Josemaria gostava de levar os estudantes ao topo da Catedral de Burgos para lhes mostrar a beleza do trabalho realizado para a glória de Deus. O que isso inspira em você?

Quando você trabalha em igrejas, vê coisas magníficas que são invisíveis para as pessoas na rua. O que fizemos na torre sul é realmente muito bonito, mas não o fizemos para as pessoas, fizemos para Deus. Há realmente algo de graça nisso. Eu também já tive a forte sensação de que estava fazendo meu trabalho com Deus e para Deus: um dia, estava esculpindo o altar-mor na igreja do mosteiro de Saint-Wandrille, enquanto eu trabalhava, os monges estavam cantando a liturgia das horas. Meu trabalho se tornou oração! Eu estava realmente feliz.

Um trabalho humano com raízes divinas

Gostava de subir a uma torre, para que contemplassem os lavores cimeiros, um autêntico rendilhado de pedra, fruto de um trabalho paciente, custoso. Nessas conversas, fazia-os notar que aquela maravilha não se via lá de baixo. E, para materializar o que com repetida frequência lhes havia explicado, comentava-lhes: Assim é o trabalho de Deus, a obra de Deus!: acabar as tarefas pessoais com perfeição, com beleza, com o primor destas delicadas rendas de pedra. Diante dessa realidade que entrava pelos olhos dentro, compreendiam que tudo isso era oração, um diálogo belíssimo com o Senhor. Os que haviam consumido as suas energias nessa tarefa sabiam perfeitamente que das ruas da cidade ninguém apreciaria o seu esforço: era só para Deus. Entendes agora como é que a vocação profissional pode aproximar de Deus? Faze tu o mesmo que aqueles canteiros, e o teu trabalho será também operatio Dei, um trabalho humano com raízes e perfis divinos.

Amigos de Deus, n. 65.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/antonin-em-notre-dame-eu-realmente-trabalhei-para-deus/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF