Hugues
Lefèvre - Isabella H. de
Carvalho - publicado em 03/12/24
A Iconem é especializada na digitalização 3D de lugares
históricos no mundo inteiro. Seu último desafio: a digitalização da Basílica de
São Pedro, em Roma.
Em breve, o peregrino ou turista que for visitar a Basílica
de São Pedro em Roma poderá mergulhar em uma exposição fascinante que conta a
história e a importância dessa igreja, construída sobre o túmulo do apóstolo
Pedro. Essa viagem incrível, sob a cúpula desenhada por Michelangelo, foi
possível graças ao trabalho de uma pequena empresa francesa aliada ao gigante
americano Microsoft. Fundada em 2013, a Iconem é
especializada na digitalização 3D de lugares excepcionais.
Da cidade de Palmira na Síria, às pirâmides do Egito, a um
templo de Angkor no Camboja, essa startup francesa fez voar seus drones na
África, na Ásia, na Europa e na América para preservar e compartilhar um
patrimônio notável. "Trabalhamos muito em áreas de conflito, como no
Afeganistão, na Síria, no Iraque, na Líbia, onde o patrimônio está
ameaçado", conta Yves Ubelmann, presidente e fundador da Iconem, à
Aleteia.
Os projetos
Ao olhar o mapa dos projetos realizados pela empresa, com cerca
de dez funcionários, é possível ver que o patrimônio cristão ocupa um
lugar de destaque entre as obras realizadas. Na França, por exemplo, a Iconem
fez o modelo digital do Mont-Saint-Michel, assim como a catedral de Reims, a
basílica do Sagrado Coração e a igreja de Saint-Germain-des-Prés em Paris. Na
Armênia, por exemplo, vários mosteiros, como o de Gherart, perto de Erevan,
foram preservados digitalmente.
Os milhões de dados coletados permitem que os cientistas
estudem os sites, compreendam melhor sua história e os preservam de maneira
mais eficaz. A digitalização da abadia de Saint-Roman, na França, por exemplo,
ajudou os trabalhos de estabilização e valorização do local.
"Nós já escaneamos muitos sites cristãos, na Europa, no
Oriente Médio, nos Estados Unidos também. Tomamos consciência da diversidade da
arquitetura cristã", explica Yves Ubelmann. "Na Armênia, por exemplo,
encontramos mosteiros fortificados que serviam para proteger toda a comunidade
e seus tesouros. O mosteiro era um local de culto, um castelo defensivo e
também um banco.”
400.000 fotos da Basílica de São Pedro
Foram feitas 400.000 fotos da Basílica de São Pedro para
capturar cada detalhe do edifício. Drones sobrevoaram a basílica,
capturando imagens em alta resolução de cada detalhe, dentro e fora da igreja.
Os especialistas também utilizaram lasers para reproduzir perfeitamente o
monumento em três dimensões.
"É um dos monumentos mais complexos que já escaneamos.
Dentro da própria basílica, há uma rede labiríntica, salas escondidas aos
visitantes, corredores, escadas", explica Yves Ubelmann, que é arquiteto
de formação. A representação 3D permite entender a maneira como o edifício foi
construído – e reconstruído – ao longo dos séculos. "É uma verdadeira
lição descobrir a criatividade dos arquitetos que responderam a questões
espirituais, mas também muito pragmáticas", destaca Yves Ubelmann.
Para mostrar a engenhosidade dos construtores da época, a
Iconem participou da criação da exposição imersiva que será inaugurada em breve
ao público sob os telhados da Basílica de São Pedro.
O choque do incêndio de Notre-Dame
Segundo Yves Ubelmann a digitalização desse patrimônio
excepcional tem um papel de preservação que se torna cada vez mais evidente.
"Eu havia visitado a ‘floresta’ [a estrutura de madeira do telhado,] da
Notre-Dame de Paris alguns meses antes do incêndio com o objetivo de
digitalizá-la", ele confessa. Mas operações de digitalização mais urgentes
haviam adiado o projeto parisiense. "Foi um choque. Eu percebi que as
prioridades nem sempre são o que pensamos e que precisamos escanear rapidamente
quando temos acesso a um lugar", explica Yves Ubelmann. Com sua equipe,
ele gostaria de poder atuar em outras catedrais na França, em edifícios
excepcionais que não têm a mesma visibilidade que a de Paris, mas que também
guardam muitos tesouros.
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