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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

O Advento segundo Guardini

Advento - tempo de espera e anseio (Opus Angelorum)

O ADVENTO SEGUNDO GUARDINI

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Nestes dias que nos preparam para o Natal li novamente um texto do grande teólogo ítalo-germânico Romano Guardini sobre o Advento. Entendo ser tão atual este texto que nem parece ter sido escrito há décadas. Reparto neste artigo a beleza dessa mensagem para este tempo. 

Ele inicia afirmando que as festas da Igreja recordam certamente acontecimentos passados, mas são também presentes, uma realização viva; visto que o que aconteceu uma vez na história deve ocorrer continuamente na vida daquele que crê. No caso do Advento e Natal, Guardini recorda que Jesus já veio para todos, mas Ele deve sempre voltar para cada um. Cada um de nós deve experimentar a espera, cada um de nós a chegada, para que a salvação surja. 

O escritor nos recorda que o Salvador veio da liberdade de Deus: num povo pequeno, que certamente nenhum conselho de nações teria escolhido; numa época que ninguém conseguia provar ser a certa. E o tempo de Advento nos faz rezar e  meditar sobre o milagre desta vinda. O Redentor não vem apenas à humanidade como um todo, mas também a cada ser humano em particular: nas suas alegrias e nas suas ansiedades, no seu conhecimento claro, nas suas perplexidades e nas suas tentações, em tudo o que constitui sua natureza e sua vida.  

O Advento é o tempo que nos adverte a perguntar-nos, no fundo da consciência: Ele veio até mim? Tenho notícias Dele? Existe confiança entre Ele e eu? Ele é médico e professor para mim? Mas então surge imediatamente a outra questão: a porta está aberta para Ele nas minhas profundezas? E a decisão: quero abrir bem. 

Guardini alerta, porém, que não basta apenas refletir sobre a vinda do Natal, pois é preciso rezar orar. Devemos orar para que o Espírito Santo, o único que tem conhecimento do Cristo vivo, trabalhe para que a figura sagrada do Senhor se torne luminosamente evidente para nós. Que aconteça conosco o que João quer dizer quando diz: “Vimos a sua glória, glória como do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). 

Enfim, Romano Guardini alerta que não se pode conhecer Cristo como se conhece qualquer pessoa na história, mas apenas a partir daquela profundidade interior que se desperta no amor. São João diz: “Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20). Assim, é preciso exercer o amor, para que os nossos olhos se abram para ver Cristo. Queremos fazê-lo onde estamos, em relação às pessoas com quem convivemos: dar-lhes o direito de serem como são; acolhê-los continuamente e viver com eles em amizade. 

Com Guardini, precisamos compreender que o verdadeiro Advento surge de dentro. Da profundidade do coração humano crente e sobretudo da profundidade do amor de Deus. Mas devemos preparar o caminho para o seu amor. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF