O ADVENTO SEGUNDO GUARDINI
Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Nestes dias que nos preparam para o Natal li novamente um
texto do grande teólogo ítalo-germânico Romano Guardini sobre o Advento.
Entendo ser tão atual este texto que nem parece ter sido escrito há décadas.
Reparto neste artigo a beleza dessa mensagem para este tempo.
Ele inicia afirmando que as festas da Igreja recordam
certamente acontecimentos passados, mas são também presentes, uma realização
viva; visto que o que aconteceu uma vez na história deve ocorrer continuamente
na vida daquele que crê. No caso do Advento e Natal, Guardini recorda que Jesus
já veio para todos, mas Ele deve sempre voltar para cada um. Cada um de nós
deve experimentar a espera, cada um de nós a chegada, para que a salvação
surja.
O escritor nos recorda que o Salvador veio da liberdade de
Deus: num povo pequeno, que certamente nenhum conselho de nações teria
escolhido; numa época que ninguém conseguia provar ser a certa. E o tempo de
Advento nos faz rezar e meditar sobre o milagre desta vinda. O Redentor
não vem apenas à humanidade como um todo, mas também a cada ser humano em
particular: nas suas alegrias e nas suas ansiedades, no seu conhecimento claro,
nas suas perplexidades e nas suas tentações, em tudo o que constitui sua natureza
e sua vida.
O Advento é o tempo que nos adverte a perguntar-nos, no
fundo da consciência: Ele veio até mim? Tenho notícias Dele? Existe confiança
entre Ele e eu? Ele é médico e professor para mim? Mas então surge
imediatamente a outra questão: a porta está aberta para Ele nas minhas
profundezas? E a decisão: quero abrir bem.
Guardini alerta, porém, que não basta apenas refletir sobre
a vinda do Natal, pois é preciso rezar orar. Devemos orar para que o Espírito
Santo, o único que tem conhecimento do Cristo vivo, trabalhe para que a figura
sagrada do Senhor se torne luminosamente evidente para nós. Que aconteça
conosco o que João quer dizer quando diz: “Vimos a sua glória, glória como do
Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).
Enfim, Romano Guardini alerta que não se pode conhecer
Cristo como se conhece qualquer pessoa na história, mas apenas a partir daquela
profundidade interior que se desperta no amor. São João diz: “Quem não ama o
seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20). Assim, é
preciso exercer o amor, para que os nossos olhos se abram para ver Cristo.
Queremos fazê-lo onde estamos, em relação às pessoas com quem convivemos:
dar-lhes o direito de serem como são; acolhê-los continuamente e viver com eles
em amizade.
Com Guardini, precisamos compreender que o verdadeiro
Advento surge de dentro. Da profundidade do coração humano crente e sobretudo
da profundidade do amor de Deus. Mas devemos preparar o caminho para o seu
amor.
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