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segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O manto e a sombra de Jesus: a igreja, lar de nossa santidade (II)

combate-proximidade-missão (Opus Dei)

O manto e a sombra de Jesus: a igreja, lar de nossa santidade

Quando Cristo nos alcança em sua Igreja e nos deixa tocar seu manto, a força que sai dele é a sua própria santidade. Ele nos transforma para que possamos usufruir da “largura, do comprimento, da altura e da profundidade de seu coração”.

09/12/2024

Uma força que transforma

Do manto de nosso Senhor e da sombra de Pedro emerge uma força capaz de curar o corpo; mas, sobretudo, de converter o coração. Quando Cristo nos alcança em sua Igreja e nos deixa tocar seu manto, a força que sai dEle é a sua própria santidade. Assim vai nos transformando para que Ele viva em nós, e possamos usufruir “a largura, o comprimento, a altura e a profundidade” do seu coração (Ef 3,18).

Esta dilatação do coração leva-nos a tornar nossa aquela experiência de são Paulo: fazer-se “tudo para todos, a fim de salvar a todos” (1 Cor 9,22). Quando a Igreja realmente se torna nossa casa, percebemos que desejamos com obras que todos possam experimentar o amor de Deus em suas vidas. “Deus nos chamou (...) para fazer que conheçam a Jesus Cristo tantas inteligências que não sabem nada dele e – ao querer-nos em sua Obra – deu-nos também um modo apostólico de trabalhar, que nos move à compreensão, à desculpa, à caridade delicada com todas as almas”[11].

Um belo sinal de que a força transformadora do coração do Senhor encontra acolhida em nós é que começam a desaparecer certas distâncias ou barreiras interiores para com os outros, que antes pareciam muito difícil de superar. Os motivos humanos que originavam essas atitudes deixam de ser a última palavra e a força do amor de Deus impõe-se com paz em nós. O Senhor dilata o nosso coração para que ele se possa abrir em caridade fraterna para com todos os homens e em todas as direções. Sentimo-nos em comunhão com todos, de modo que nada do que diz respeito aos outros é indiferente para nós.

Jesus quis formar seus primeiros seguidores com esse espírito. Ao escolher os doze, não procurou criar um círculo de pessoas homogêneas, antes pelo contrário. Por isso, humanamente falando, não faltaram motivos para divisão entre. Era quase uma provocação levar a conviver dia após dia pessoas de proveniências, sensibilidades políticas e estratos sociais tão diferentes. E, no entanto, é justamente assim que a Igreja renasce continuamente: quando, por amor ao Senhor e ao Evangelho, os motivos humanos de divisão já não têm a última palavra. O amor de Deus triunfa em nossa conduta quando deixamos que a Igreja faça prevalecer em nós o desejo da comunhão por cima da fácil tendência à divisão.

A santidade que a Igreja suscita em nossa alma por isso também se manifesta num forte desejo de reconciliação, de perdão e de unidade profunda entre todos os filhos de Deus. A comunhão dos santos já não é vista como um ideal, algo que sabemos que é verdadeiro, mas que nos aparece inalcançável. Experimentamos o que escrevia nosso Padre: “cada um sentirá, à hora da luta interior, e à hora do trabalho profissional, a alegria e a força de não estar só”[12]. Essa união com todos na Igreja torna-se assim, um chamado entusiasta ao qual queremos responder com atitudes novas, nascidas do coração de Cristo: “Compreendei-vos, desculpai-vos, amai-vos, vivei com a certeza de estar sempre nas mãos de Deus, acompanhados pela sua bondade (...). Nunca vos sintais sós, sempre acompanhados, e estareis sempre firmes: os pés no chão, e o coração lá em cima, para saber seguir o que é bom”[13].

Dar esperança

Ao lado dessa nova capacidade de amar, a força que sai do Senhor e da sua Igreja leva-nos a olhar a realidade através de uma nova lente: a esperança. O Papa Francisco quis precisamente que celebrássemos o próximo Jubileu da Redenção nessa chave[14]. Jesus continua caminhando através da história e em meio à humanidade. O seu manto é mais amplo do que nossos olhos podem ver. Somos tomados pela certeza de que o Senhor continua atuando, tocando e deixando-se alcançar pelos homens em meio à agitação de um mundo que em tantas coisas parece desorientado. Sem deixar de ver o drama da história, com toda a sua de dor e tragédia, a santidade que a Igreja semeia em nós ajuda-nos a não ceder ao desânimo ou a nostalgia diante de um mundo aparentemente pós-cristão, como se a ampliação ou o estreitamento de certas esferas de influência fossem tudo o que se pode esperar como triunfos ou lamentar como derrotas.

“Depois de ter conhecido Jesus, nós só podemos perscrutar a história com confiança e esperança. Jesus é como uma casa, e nós estamos dentro dela, e das janelas desta casa olhamos para o mundo. Portanto não nos fechemos em nós mesmos, não tenhamos saudades de um passado que se presume dourado, mas olhemos sempre para a frente, para um futuro que não é só obra das nossas mãos, mas que antes de tudo é uma preocupação constante da providência de Deus”[15].A santidade que nasce do seio da Igreja faz-nos recordar que o Senhor está fazendo continuamente “novas todas as coisas” (Ap 21,5). Onde alguns poderiam ver unicamente decadência, nós vemos, apesar de tudo, o germe de uma transformação. Nas bodas em que o vinho acaba, descobrimos a condição necessária para que tragam o novo, aquele que só Cristo pode trazer.

“O desafio mais importante para a Igreja – e para a sociedade em seu conjunto – é dar esperança para cada pessoa, especialmente para os jovens, as famílias e aqueles que padecem de mais necessidades materiais ou espirituais”[16]. E a esperança que a Igreja deseja inspirar em nossos corações é a certeza de que o Senhor não deixa de vir em auxílio dos homens; e que o verdadeiramente definitivo na história é a realidade de nossa redenção, que continua presente e cresce, não obstante a cizânia.


São Josemaria escrevia aos fiéis do Opus Dei que se acostumassem a olhar “primeiro e sempre a Igreja santa”[17]. São palavras que na realidade, valem para todos os cristãos. Na Igreja, o olhar do da pessoa de fé vê o próprio Cristo vivendo entre nós. O mesmo que caminhava entre as multidões e que agora se aproxima de nós, toca-nos e santifica-nos. O olhar de fé vê nela o manto inconfundível de Cristo, que está muito perto de nós, para nos dar vida e comunicar o seu amor infinito. Com este olhar, chega também um sentimento de profunda confiança e afeto, de modo de que tudo que vem dela encontrará sempre em nosso interior “uma atitude de abandono filial esperançoso”[18]. Receberemos assim, como nos dizia São Josemaria, “qualquer notícia que nos venha da Esposa de Jesus Cristo”[19]. Porque não duvidamos que dela só podem vir coisas boas, e que cada uma delas orienta-se sempre para a principal de todas: a nossa santidade.


[11] São Josemaria, Carta 4, n. 1.

[12] São Josemaria, Caminho, n. 545.

[13] São Josemaria, Em diálogo com o Senhor, n. 79

[14] Cfr. Papa Francisco, Spes non confundit, Bula de convocação do Jubileu ordinário do ano 2025.

[15] Papa Francisco, Audiência, 11/10/2017.

[16] Mons. F. Ocáriz, Entrevista de 3/07/2017.

[17] São Josemaria, Carta 18, n. 27.

[18] Mons. F. Ocáriz, Mensagem, 13/09/2023.

[19] São Josemaria, Carta 8, n. 54.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-manto-e-a-sombra-de-jesus-a-igreja-lar-de-nossa-santidade/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF