Quem foi São Paulo e que legado ele deixou para a Igreja?
Quem foi Paulo de Tarso? São Paulo sofreu perseguições e
conheceu sua própria debilidade enquanto pregava a fé no Ressuscitado. Em
troca, não quis outra coisa senão a misericórdia de Cristo.
24/01/2023
Teologia de São Paulo
Entre os diversos aspectos que compõem o ensinamento
teológico de São Paulo deve-se ressaltar, em primeiro lugar, a figura de Jesus
Cristo. Certamente, em suas cartas não aparecem os traços históricos de Jesus
de Nazaré, tal como nos apresentam os Evangelhos. O interesse pelos numerosos
aspectos da vida terrena de Jesus passa para um segundo plano, assinalando
especialmente o mistério da paixão e morte na cruz. Ao mesmo tempo, observa-se
que Paulo não foi testemunho do caminhar terreno de Jesus, mas que o conhece
pela tradição apostólica que o precede, à qual se refere explicitamente: “eu
vos transmiti em primeiro lugar aquilo que recebi” (12).
Da mesma forma, pode-se descobrir no epistolário paulino
alguns hinos, profissões e enunciados de fé, e afirmações doutrinais que
provavelmente se usavam na liturgia, na catequese ou na pregação da primitiva
Igreja. Jesus Cristo constitui o centro e o fundamento de seu anúncio e de sua
pregação: em seus escritos, o nome de Cristo aparece 380 vezes, superado só
pelo nome de Deus, mencionado 500 vezes. Isto nos faz entender que Jesus Cristo
influiu profundamente em sua vida: em Cristo encontramos o cume da história da
Salvação.
Doutrina da Justificação de Cristo e do Dom Infinito na
Cruz
Olhando para São Paulo podemos nos perguntar como se realiza
o encontro pessoal com Cristo e que relação surge entre Ele e o crente. A
resposta de Paulo concentra-se em dois momentos: por um lado, ele
sublinha o valor fundamental e insubstituível da fé(13). Assim escreve ele aos
romanos: “o homem é justificado pela fé com independência das obras da Lei”
(14); a ideia aparece mais explícita na Carta aos Gálatas: “o homem não é
justificado pelas obras da Lei, mas por meio da fé em Jesus Cristo(15). Quer
dizer, entra-se em comunhão com Deus por obra exclusiva da graça; Ele sai ao
nosso encontro e nos acolhe com a sua misericórdia, perdoando nossos pecados e
permitindo-nos estabelecer uma relação de amor com Ele e com nossos
irmãos”(16).
Nesta doutrina da justificação, Paulo reflete o processo de
sua própria vocação, Ele era um estrito observante da Lei mosaica, que cumpria
até nos mínimos detalhes. Mas isto o levou a sentir-se pago por si mesmo e a
buscar a salvação com suas próprias forças. E nesta situação descobre-se
pecador, enquanto persegue a Igreja do Filho de Deus. A consciência do pecado
será então o ponto de partida para abandonar-se à graça de Deus que nos é dada
em Jesus Cristo.
Aí começa o segundo momento, o encontro com o próprio
Senhor. A doação infinita de Cristo na cruz constitui o convite mais veemente
para sair do próprio eu, a não se vangloriar, pondo ao mesmo tempo toda a
confiança na morte salvadora e na ressurreição do Senhor: aquele que se gloria,
glorie-se no Senhor(17). Esta conversão espiritual comporta, por tanto, não se
buscar a si mesmo, mas revestir-se de Cristo e entregar-se com Cristo, para
participar assim pessoalmente da vida de Cristo até submergir-se n’Ele e
compartilhar tanto de sua morte como de sua vida. Assim o descreve o Apóstolo
mediante a imagem do Batismo: “não sabeis que os que fomos batizados em Cristo
Jesus fomos batizados para nos unirmos a sua morte? Pois fomos sepultados
juntamente com Ele mediante o Batismo para nos unirmos a sua morte, para que,
assim como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, assim
também nós caminhemos em uma vida nova”(18).
Paulo - e com ele, todo cristão – contempla o Filho de Deus
não só como Aquele que morreu por nosso amor, obtendo-nos a remissão de nossos
pecados - dilexit me et tradidit semetipsum pro me, amou-me e
entregou-se a si mesmo por mim -, mas também como Aquele que se faz presente em
sua vida: vivo autem iam non ego, vivit vero in me Christus, vivo,
mas já não vivo eu, mas Cristo vive em mim (19). Nosso Padre gostava de repetir
estas palavras do Apóstolo, porque via Jesus Cristo morto e ressuscitado como a
razão de ser de toda a vida do cristão e de sua missão.
B. Estrada
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12. 1 Cor 15, 3; cf. 11, 23ss.
13. Cf. Bento XVI, Audiência geral, 8-11-2006.
14. Rm 3, 28.
15. Gal 2, 16.
16. Cf. Rm 3, 24.
17. 1 Cor 1, 31.
18. Rm 6, 3s.
19. Gal 2, 20.
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