Quem foi São Paulo e que legado ele deixou para a Igreja?
Quem foi Paulo de Tarso? São Paulo sofreu perseguições e
conheceu sua própria debilidade enquanto pregava a fé no Ressuscitado. Em
troca, não quis outra coisa senão a misericórdia de Cristo.
24/01/2023
Viver no Espírito, segundo São Paulo
Identificar-se com Cristo significa viver no Espírito. São
Lucas enfatiza em seu segundo livro o papel dinâmico e operativo do Espírito
Santo; e comenta São Josemaria: apenas existe uma página dos Atos dos
Apóstolos na qual não nos fale d’Ele bem como da ação pela qual
guia, dirige e anima a vida e as obras da primitiva comunidade cristã: Ele é
quem inspira a pregação de São Pedro (cf. Atos 4,8), quem confirma em sua fé
aos discípulos (cf. Atos 4,31), quem sela com sua presença a chamada dirigida
aos gentios (cf. Atos 10, 44-47), quem envia Saulo e Barnabé para terras
longínquas, para abrir novos caminhos aos ensinamentos de Jesus (cf. Atos 13,
2-4). Em uma palavra, sua presença e sua atuação dominam tudo (20).
Em seus escritos, Paulo põe em relevo a presença da Terceira
Pessoa da Santíssima Trindade na vida do cristão. O Espírito habita em nossos
corações(21); foi enviado por Deus para que nos identifique com o Filho e
possamos exclamar Abba, Pai!(22). Deixar-se conduzir pelo Espírito, que nos dá
a vida em Cristo Jesus, liberta da lei do pecado e da morte; leva a que se
manifestem na vida do crente as obras – os frutos – do Espírito Santo: a
caridade, a alegria, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fé, a
mansidão, a continência. Contra esses frutos, não há lei. Os que são de Jesus
Cristo crucificaram sua carne com suas paixões e concupiscências. Se vivemos
pelo Espírito, caminhemos também segundo o Espírito(23)
O Apóstolo nos diz que a oração autêntica só existe quando
está presente o Espírito: do mesmo modo também o Espírito acode em ajuda de
nossa fraqueza: porque não sabemos o que devemos pedir, como convém; mas o
mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis(24). Com palavras de
Bento XVI, é como dizer que o Espírito Santo “é a alma de nossa alma, a parte
mais secreta de nosso ser, da qual se eleva incessantemente até Deus um
movimento de oração, cujos termos não podemos nem sequer precisar”(25). Paulo
nos convida a ser cada vez mais sensíveis, a estar mais atentos à presença do
Espírito em nós e a aprender a transformá-la em oração.
O primeiro dos frutos do Espírito na alma do cristão é o
amor. Com efeito, o amor de Deus foi derramado em nossos corações por meio do
Espírito Santo que nos foi dado(26). Se, por definição, o amor une, o Espírito
é quem gera a comunhão na Igreja: é a força de coesão que mantém unidos os
fiéis ao Pai, por Cristo, e atrai os que ainda não gozam da plena comunhão. O
Espírito Santo guia a Igreja em direção à unidade.
Rumo à Unidade dos Cristãos
Este é outro aspecto, entre os múltiplos dos quais trata o
Apóstolo em suas epístolas, que vale a pena ter em conta no início deste Ano
Paulino: a unidade dos cristãos. É motivo de consolação e de
estímulo para pedir insistentemente ao Senhor esta graça – tão grande como
difícil de alcançar – que o Patriarca ecumênico Bartolomeu I, seguindo as
pegadas do Vigário de Cristo, também tenha convocado para a Igreja ortodoxa um
Ano Paulino.
O ensinamento de Paulo nos recorda que a plena comunhão
entre todos os cristãos encontra seu fundamento no fato de ter um só Senhor,
uma só fé, um só batismo(27). Devemos rezar “para que a fé comum, o único
batismo para o perdão dos pecados e a obediência ao único Senhor e Salvador se
manifestem plenamente na dimensão comunitária e eclesial” (28).
São Paulo nos mostra o caminho mais eficaz para a unidade,
com palavras que também nos propunha o Concílio Vaticano II em seu decreto
sobre o ecumenismo: assim, pois, eu vos rogo, o prisioneiro do Senhor, que
vivais uma vida digna da vocação a que fostes chamados, com toda humildade e
mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros com caridade,
continuamente dispostos a conservar a unidade do Espírito com o vínculo da paz
(29).
O Apóstolo empenhou-se sempre em conservar essa imensa
graça da unidade. Aos cristãos de Corinto convida-os, já desde o começo de sua
primeira carta, a evitar as divisões entre eles (30). Suas exortações e suas
chamadas de atenção podem servir-nos também hoje. Diante da humanidade do
terceiro milênio, cada vez mais globalizada e. paradoxalmente, mais dividida e
fragmentada pela cultura hedonista e relativista, que põe em dúvida a
própria existência da verdade(31), a oração do Senhor – ut omnes
unum sint, que todos sejam um(32) - é para nós a melhor promessa de união
com Deus e de unidade entre os homens.
B. Estrada
________________________________________________
20. É Cristo que passa, n. 127.
21. Cf. Rm 8, 9.
22. Gal 4, 6.
23. Gal 5, 22-24.
24. Rm 8,26.
25. Bento XVI, Audiência geral, 15-11-2006.
26. Rm 5, 5.
27. Ef 4, 5.
28. Bento XVI, Discurso durante o encontro com Bartolomeu I
na abertura do Ano Paulino, 28-06-2008.
29. Ef 4, 1-3.
30. Cf. 1 Cor 1, 10.
31. Cf. Bento XVI, Discurso durante o encontro com
Bartolomeu I na abertura do Ano Paulino, 28-06-2008.
32. Jo 17, 21.
Nenhum comentário:
Postar um comentário