Com procedimento de canonização equipolente, o Papa
Francisco decidiu estender à Igreja inteira o culto das 16 carmelitas descalças
de Compiègne guilhotinadas durante a Revolução Francesa. Serão beatos dois
mártires: um do comunismo, o arcebispo Eduardo Profittlich, e um do nazismo, o
sacerdote Elia Comini. Tornam-se veneráveis os servos de Deus Áron Márton,
bispo, Giuseppe Maria Leone, sacerdote, e Pietro Goursat, leigo francês.
Vatican News
Durante a audiência concedida, nesta quarta-feira (18/12),
ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro,
o Papa Francisco aprovou os votos favoráveis da Sessão Ordinária dos Cardeais e
Bispos, Membros do Dicastério, e decidiu estender a toda a Igreja o culto à
Beata Teresa de Santo Agostinho, no século, Maria Madalena Claudia
Lidoine, e 15 companheiras da Ordem das Carmelitas Descalças de
Compiègne, mártires, mortas por ódio à fé durante a Revolução
Francesa, em 17 de julho de 1794, em Paris, França, inscrevendo-as no catálogo
dos Santos, Canonização Equipolente, uma prática iniciada por Bento XIV com a
qual o Papa estende o culto de um servo de Deus ainda não canonizado a toda a
Igreja por meio de um decreto. A Beata Teresa de Santo Agostinho e suas
companheiras são agora santas.
A Comunidade de Compiègne foi a quinquagésima terceira
fundação da ordem na França, que ocorreu após a chegada ao país da Beata Ana de
Jesus, discípula de Santa Teresa de Ávila. Com a eclosão da Revolução, membros
do Comitê de Saúde Pública local foram ao convento para induzir as religiosas a
abandonar a vida religiosa. Elas se recusaram e, quando - entre junho e
setembro de 1792 - os episódios de violência aumentaram, seguindo a inspiração
da priora, irmã Teresa de Santo Agostinho, todas se ofereceram ao Senhor como
um sacrifício para que a Igreja e o Estado pudessem encontrar a paz.
Expulsas do mosteiro, separadas e vestidas com roupas civis,
elas continuaram sua vida de oração e penitência, embora divididas em quatro
grupos em várias partes de Compiègne, mas unidas por correspondência, sob a
direção da superiora. Descobertas e denunciadas, em 24 de junho de 1794, foram
transferidas para Paris e encarceradas na prisão Conciergerie, onde também
estavam detidos muitos sacerdotes, religiosos e religiosas condenados à morte.
As religiosas carmelitas também foram exemplares em sua
prisão. Em 17 de julho, no dia seguinte à festa de Nossa Senhora do Carmo, que
elas tinham celebrado na prisão entoando hinos de júbilo, as dezesseis foram
condenadas à morte pelo tribunal revolucionário por, entre outros motivos,
“fanatismo” relacionado à sua fervorosa devoção aos Sagrados Corações de Jesus
e Maria.
Distribuídas em duas carroças, enquanto eram conduzidas para
a execução, cantaram os Salmos e, quando chegaram ao pé da guilhotina, entoavam
o Veni creator, renovando seus votos uma após a outra. Seus corpos
foram enterrados numa vala comum, junto com os de outros condenados, no local
que se tornou o atual cemitério de Picpus, onde uma placa recorda seu martírio.
Elas foram beatificadas na Basílica de São Pedro por São Pio X em 27 de maio de
1906.
Beato Eduardo Profittlich, mártir durante o comunismo
Durante a mesma audiência, Francisco também autorizou o
Dicastério a promulgar o decreto relativo ao martírio do servo de Deus Eduardo
Profittlich, da Companhia de Jesus, arcebispo titular de Adrianópolis e
administrador apostólico da Estônia. Nascido em 11 de setembro de 1890 em
Birresdorf, Alemanha, faleceu em 22 de fevereiro de 1942 ex aerumnis
ordinis (devido ao sofrimento sofrido na prisão) em Kirov (Rússia).
Criado no seio de uma numerosa família camponesa, depois de
concluir os estudos clássicos, em 1912, ingressou no seminário de Trier, mas no
ano seguinte, atraído pela espiritualidade dos jesuítas, foi aceito no
noviciado em Heerenberg, na Holanda. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial,
ele foi chamado de volta ao exército alemão e designado para o serviço de
saúde. Depois da guerra, retomou os estudos de Filosofia e Teologia,
tornando-se sacerdote em 27 de agosto de 1922. Enviado para a Polônia, obteve o
doutorado em filosofia e o doutorado em Teologia na Universidade Jaguelônica de
Cracóvia; mais tarde foi enviado para a Estônia como parte da Missão Oriental
da Companhia de Jesus e a paróquia dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo em
Tallinn foi confiada aos seus cuidados pastorais. Em 11 de maio de 1931, Pio XI
nomeou-o administrador apostólico da Estônia, onde Profittlich apoiou
significativamente o desenvolvimento da comunidade cristã local com seu
trabalho. Em novembro de 1936, foi nomeado arcebispo titular de Adrianópolis
por Pio XI e recebeu a consagração em dezembro seguinte. Após a invasão
soviética da Estônia, em 17 de junho de 1940, quase todos os sacerdotes foram
presos: Profittlich poderia ter regressado a casa, mas optou por permanecer na
Estônia, com os seus fiéis. Em 27 de junho de 1941 foi preso e deportado para
Kirpov, na Rússia, onde foi submetido a várias torturas, às quais respondeu
declarando que a sua única missão tinha sido destinada à educação religiosa dos
fiéis que lhe foram confiados. Condenado à morte, faleceu antes da execução da
pena devido ao sofrimento da prisão.
Beato Elia Comini, mártir do nazismo
Outro decreto relativo a um mártir é o do servo de
Deus Elia Comini, sacerdote salesiano nascido em Calvenzano di
Vergato (Itália) em 7 de maio de 1910 e assassinado in odium fidei, em 1º de
outubro de 1944, em Pioppe di Salvaro (Itália).
Nascido numa família modesta, Comini frequentou a escola dos
herdeiros de Dom Bosco em Finale Emilia, onde se amadureceu a sua vocação. Em
1926, depois do noviciado, fez a primeira profissão e foi enviado para
completar os estudos em Turim Valsalice e na Universidade Estadual de Milão. Em
16 de março de 1935 foi ordenado sacerdote e dedicou-se à educação dos jovens
nas escolas salesianas de Chiari e Treviglio, onde também se tornou diretor.
Todos os anos passava um período de férias com a sua mãe
idosa e ajudava o pároco de Salvaro, onde vivia a sua família de origem, no
serviço pastoral da aldeia. Mesmo no verão de 1944, o servo de Deus foi para
lá, embora aquela área estivesse no centro dos combates envolvendo soldados
alemães, aliados e grupos de guerrilheiros.
Naquele contexto de guerra, pe. Elia, juntamente com o
pároco, organizou o acolhimento de várias famílias deslocadas que encontraram
refúgio na paróquia de San Michele in Salvaro. Colaborou com eles um jovem
sacerdote dehoniano, padre Martino Capelli, com quem pe. Elia estabeleceu um
bom entendimento.
Quando os soldados nazistas se espalharam pela zona de Monte
Sole, pe. Comini prestou ajuda à população, enterrando os mortos e escondendo
cerca de setenta pessoas numa sala adjacente à sacristia. A pedido de um grupo
de guerrilheiros, ele celebrou uma missa em memória de alguns de seus caídos em
batalha. No dia 29 de setembro de 1944, depois do massacre perpetrado pelos
nazistas na cidade vizinha chamada “Creda”, o servo de Deus, junto com o padre
Cappelli, correu para levar conforto aos moribundos. Ao chegar, acusado por um
informante de ser espião dos guerrilheiros, foi preso e obrigado a transportar
munições. Foi levado com o padre Cappelli e mais cem presos, incluindo outros
três sacerdotes, para um estábulo em Pioppe di Salvaro, onde testemunhou os numerosos
atos de violência perpetrados pelos invasores, sempre pronto a confortar,
ajudar e proporcionar o ministério da Confissão.
Fracassadas as tentativas de mediação com que várias partes
tentaram salvá-lo, na noite de 1° de outubro de 1944 o servo de Deus foi
assassinado junto com o padre Cappelli e um grupo de outras pessoas
consideradas “inaptas para o trabalho”, apesar de gozarem de boa forma física.
Durante a execução de cerca de quarenta pessoas metralhadas, o corpo do pe.
Comini protegeu um dos três sobreviventes do que ficou conhecido como massacre
de Pioppe di Salvaro. O sobrevivente, testemunha decisiva destes fatos, contribuiu
para dar a conhecer o martírio do servo de Deus, cujo corpo, como o das outras
vítimas, se tinha perdido nas águas do Rio Reno.
Os veneráveis Áron Márton, Giuseppe Maria Leone e Pietro
Goursat
Quanto aos servos de Deus que se tornam veneráveis,
são Áron Márton, bispo de Alba Julia, nascido em 28 de agosto de
1896, em Csíkszentdomokos (atual Romênia) e falecido em 29 de setembro de 1980
em Alba Iulia (Romênia); Giuseppe Maria Leone, sacerdote professo da
Congregação do Santíssimo Redentor, nascido em 23 de maio de 1829 em
Casaltrinità (atual Trinitapoli, Itália) e falecido em Angri (Itália) em 9 de
agosto de 1902; e Pietro Goursat, fiel leigo, nascido em 15 de agosto de 1914
em Paris (França) e ali falecido em 25 de março de 1991.
Áron Márton lutou na Primeira Guerra Mundial antes de se
tornar sacerdote, dedicando-se também ao ensino. Como bispo de Alba Julia,
dedicou-se a fortalecer os laços entre o clero, dividido pela guerra e pelo
ódio racial. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, ele se posicionou
abertamente contra as leis raciais nazistas e cuidou de refugiados, exilados e
judeus. No pós-guerra, a sua ação pastoral visava salvaguardar a fé contra o
ataque dos comunistas romenos que oprimiam a minoria húngara na Transilvânia.
Preso em 1949, foi julgado e condenado a duras prisões e trabalhos forçados.
Ele também sofreu muito fisicamente e, depois de deixar a liderança de sua
diocese, em 2 de abril de 1980, por estar doente com câncer, morreu poucos
meses depois.
Giuseppe Maria Leone estudou no seminário apesar
da oposição do pai e, após o noviciado com os Redentoristas, fez a profissão
religiosa em 1851. Depois de ter estado em Vallo della Lucania e Angri, quando,
em 1860, as ordens religiosas foram suprimidas, regressou à sua cidade natal
realizando um fecundo apostolado em colaboração com o clero local. Tornou-se
pregador e confessor, mantendo-se próximo das famílias afetadas pela epidemia
de cólera que se espalhou pela população em 1867. Em 1880, quando foi possível
retomar a vida religiosa, regressou na comunidade redentorista de Angri e
assumiu diversas funções, dedicando-se também à publicação e reedição de
algumas das suas obras de caráter ascético e espiritual. Distinguiu-se como
confessor, diretor espiritual e pregador de exercícios espirituais a
sacerdotes, seminaristas e religiosas, contribuindo significativamente para a
renovação da vida religiosa e também para o crescimento espiritual dos fiéis
leigos. De saúde muito debilitada, seu estado piorou no início de 1902 e ele
faleceu poucos meses depois.
Pietro Goursat viveu uma infância difícil devido
a um pai com problemas mentais que abandonou a família. Leigo consagrado,
desenvolveu intensa atividade no meio cultural francês e, ao se reaproximar do
pai, desenvolveu um interesse crescente pelos pobres e pelas pessoas com
dificuldades físicas e mentais, dedicando-se sobretudo aos jovens ameaçados
pelas drogas e pela delinquência, tanto que acolheu alguns deles na casa-barco
Péniche. Iniciou alguns grupos de oração que chamou de “Emanuel”, organizando
sessões de formação para eles no Santuário do Sagrado Coração de Jesus em
Paray-Le-Monial. O bispo local confiou o cuidado deste santuário à Comunidade
Emanuel, que o tornou um importante centro de espiritualidade. Depois de sofrer
um infarto, em 1985, decidiu retirar-se do governo da Comunidade, passando a
última parte de sua vida escondido e em oração, numa atitude de confiante
abandono a Deus.
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