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sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

O Papa: "catástrofe educativa", 250 milhões de crianças não têm instrução

Pelo direito à educação (Vatican News)

Na mensagem de vídeo da intenção de oração para o mês de janeiro, Francisco afirma que "todas as crianças e os jovens têm direito a ir à escola, não importa a sua situação migratória. A educação é uma esperança para todos". "Rezemos para que os migrantes, os refugiados e as pessoas afetadas pela guerra vejam sempre respeitado o seu direito à educação, necessária para construir um mundo mais humano", diz o Papa.

Vatican News

"Pelo direito à educação" é a intenção de oração do Papa Francisco para este mês de janeiro.

Na mensagem de vídeo, divulgada nesta quinta-feira (02/01), o Santo Padre diz que "hoje vivemos uma 'catástrofe educativa'”.

“E não é exagero. Por causa das guerras, das migrações e da pobreza, cerca de 250 milhões de crianças não têm instrução.”

Na verdade, as crianças e jovens que migram ou se deslocam devido às guerras interrompem o seu processo educativo devido à necessidade de abandonar a sua terra natal. Em muitos casos, as escolas em áreas de conflito ou os campos de refugiados têm um acesso muito limitado a materiais educativos, infraestruturas adequadas e docentes bem preparados.

Além disso, quando as crianças e os jovens se mudam para outros países ou regiões, a sua condição de migrantes pode impedi-los de ter acesso ao sistema de ensino e, consequentemente, a um futuro melhor.

“Todas as crianças e os jovens têm direito a ir à escola, não importa a sua situação migratória. A educação é uma esperança para todos: pode salvar os migrantes, os refugiados da discriminação, das redes de delinquência e da exploração... Tantos menores explorados. E ajudá-los a integrarem-se nas comunidades que os acolhem.”

A Igreja na linha de frente

Crianças e adolescentes que fogem dos conflitos ou da pobreza são os protagonistas das imagens que acompanham as palavras de Francisco. O Vídeo do Papa deste mês testemunha o compromisso da Igreja na linha de frente para lhes garantir a educação, mesmo nos contextos mais complicados.

Há centros educativos promovidos pela Fundação italiana AVSI sem fins lucrativos para crianças refugiadas – a maioria, da Síria – na Jordânia e no Líbano. Há escolas salesianas em Palabek, em Uganda, onde 60% dos migrantes provenientes do Sudão do Sul têm menos de 13 anos. Há o Instituto Madre Assunta, em Tijuana, na fronteira entre o México e os Estados Unidos, dirigido pela família scalabriniana, frequentado por menores provenientes de vários países da América Latina. Há o compromisso, em diversos continentes, do Serviço Jesuíta para Refugiados (JRS), presente também no Este do Chade, junto de gerações inteiras nascidas e criadas nos campos de refugiados. Há os voluntários da Associação Papa João XXIII, que acompanham nos estudos os menores chegados à Grécia e à Itália através das rotas migratórias. E não faltam os esforços das organizações internacionais, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), presente com projetos educativos em vários países de acolhimento. Por essa razão, nos últimos anos, muitas crianças que fugiram da guerra na Ucrânia puderam aprender idiomas nos países onde residem.

“A educação abre-nos as portas a um futuro melhor. E assim, os migrantes e refugiados podem contribuir para a sociedade, seja no seu novo país, seja no seu país de origem, se decidirem regressar. E não nos esqueçamos nunca de que quem acolhe um estrangeiro, acolhe Jesus. Rezemos para que os migrantes, os refugiados e as pessoas afetadas pela guerra vejam sempre respeitado o seu direito à educação, necessária para construir um mundo mais humano.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O Mandamento da Caridade (III)

Santa Teresa de Calcutá (Presbíteros)

O Mandamento da Caridade

21. Quatro disposições para alcançar de Deus a graça da caridade.

Mas ainda que a caridade seja dom divino, para possuí-la, todavia, requer-se a disposição de nossa parte. Por isso deve-se saber que duas coisas são necessárias para adquirir a caridade, e duas para aumentar a caridade já adquirida.

  1. Primeira disposição: a escuta da palavra de Deus.

                Para adquirir, pois, a caridade, a primeira coisa é a escuta diligente da palavra de Deus, o que é suficientemente manifesto pelo que ocorre entre nós. Ouvindo, de fato, coisas boas de alguém, somos acesos em seu amor. Assim também, ouvindo as palavras de Deus, somos acesos em seu amor: “A tua palavra é um fogo ardente, e o teu servo a amou” (Salmo 118, 140). E também: “A palavra de Deus o inflamou” (Salmo 104). Por esta causa aqueles dois discípulos, ardendo do amor divino, diziam: “Porventura não ardia em nós o nosso coração, enquanto nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Luc. 24). De onde que também no décimo de Atos se lê que “Pregando Pedro, o Espírito Santo caiu nos ouvintes da palavra divina”. E o mesmo frequentemente acontece nas pregações, isto é, que os que se aproximam com o coração duro, por causa da palavra da pregação, são acesos ao amor divino.

B. Segunda disposição: a meditação.

                Para adquirir a caridade, a segunda coisa é a contínua consideração dos bens recebidos:

“Aqueceu-se o meu coração dentro de mim” (Salmo 38). Se, portanto, queres conseguir o amor divino, meditarás os bens recebidos de Deus. Demasiadamente duro seria, na verdade, quem considerando os benefícios divinos que alcançou, os perigos dos quais escapou, e a bem-aventurança que lhe é prometida por Deus, que não se acendesse ao amor divino. De onde que diz Santo Agostinho: “Dura é a alma do homem que, posto que não queira retribuir o amor, não queira pelo menos agradecer”. E, de modo geral, assim como os pensamentos maus destroem a caridade, assim os bons a adquirem, a alimentam e a conservam, de onde que nos é ordenado: “Retirai os vossos maus pensamentos dos meus olhos” (Is. 1). E também: “Os pensamentos perversos separam de Deus” (Sab. 1).

C. Terceira disposição: afastar o coração das coisas da terra.

               Há também duas coisas que aumentam a caridade possuída, e a primeira é afastar o coração do que é terreno. O coração, de fato, não pode ser trazido perfeitamente a coisas diversas, de onde que ninguém é capaz de amar a Deus e ao mundo. E por isso, quanto mais nos afastarmos do amor do que é terreno, tanto mais nos firmaremos no amor divino. De onde que Santo Agostinho diz no Livro das 83 Questões: “A esperança de conseguir ou reter o que é temporal é veneno da caridade”. O seu alimento é a diminuição da cobiça; sua perfeição, a nenhuma cobiça, porque a raiz de todos os males é a cobiça. Quem quer que, portanto, queira alimentar a caridade, insista em diminuir a cobiça. A cobiça é o amor de conseguir ou obter o que é temporal, e o início de sua diminuição é o temor de Deus, o qual não pode somente ser temido, sem amor. É por esta causa que se ordenaram as religiões, nas quais e pelas quais a alma é trazida do que é mundano e corruptível ao que é divino, conforme se encontra escrito no Segundo de Macabeus, onde se lê: “Refulgiu o Sol, que antes estava entre nuvens” (II Mac 1).  O Sol, isto é, o intelecto humano, está entre nuvens quando entregue às coisas terrenas. Refulgirá, porém, quando for afastado e removido do amor do que é terreno. Resplandecerá, então, e nele crescerá o amor divino.

D. Quarta disposição: a firme paciência na adversidade.

                A segunda coisa que aumenta a caridade é a firme paciência na adversidade. É manifesto, de fato, que quando sustentamos dificuldades por aquele a quem amamos, o próprio amor não é destruído; antes, ao contrário, ele cresce: “As muitas águas”, isto é, as tribulações,

“não puderam extinguir a caridade” (Cant. 8). É assim que os homens santos que sustentam adversidades por Deus mais se firmam em seu amor, assim como o artífice mais amará aquela sua obra na qual mais trabalhou. Daí também vem que os fiéis quanto maiores aflições por Deus sustentam, tanto mais se elevam no seu amor: “Multiplicaram-se as águas“, isto é, as tribulações, “e elevaram a arca ao alto” (Gen. 7), isto é, a Igreja, ou a alma do homem justo.

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Este texto, de Santo Tomás de Aquino, foi retirado do site www.cristianismo.org.br , onde se encontram muitos outros textos interessantes para o estudo e crescimento da fé e da vida espiritual.

Fonte: https://presbiteros.org.br/o-mandamento-da-caridade/

Esperança

A virtude da Esperança (cancaonova)

ESPERANÇA

Dom Geraldo dos Reis Maia
Bispo de Araçuaí (MG)

Neste Ano Santo da Graça, caminhamos com a fecunda consciência com a qual o querido Papa Francisco nos brindou: somos “Peregrinos de esperança”, acreditando que “a esperança não decepciona” (Rm 5,5), como nos são indicados tema e lema escolhidos para o Jubileu 2025.

Mas o que é mesmo a esperança? Em sentido concreto é o “ato de esperar aquilo que se deseja”, explica o dicionário. “Expectativa na aquisição de um bem que se deseja. É a segunda das três virtudes teologais, simbolizada por uma âncora ou pela cor verde” (Michaelis). Numa perspectiva subjetiva, esperança é entendida como “sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja; confiança em coisa boa; aquilo ou aquele de que se espera algo, em que se deposita a expectativa” (Houaiss).

A esperança nossa de cada dia foi cantada em verso e prosa pela nossa rica música popular brasileira. A inesquecível voz de Elis Regina imortalizou a sua teimosia: “A esperança dança/ Na corda bamba de sombrinha/ (…) A esperança equilibrista/ Sabe que o show de todo artista/ Tem que continuar” (O bêbado e o equilibrista, Aldir Blanc/ João Bosco). Trata-se de um tema que descortina o horizonte: “Amanhã/ Está toda a esperança/ Por menor que pareça/ Existe e é pra vicejar” (Amanhã, Guilherme Arantes). E se faz persistente: “Quando não houver esperança/ Quando não restar nem ilusão/ Ainda há de haver esperança/ Em cada um de nós” (Enquanto houver sol, Titãs).

Outras canções, mesmo sem citar o termo “esperança”, cantam o “esperançar”. Assim ilustrou Chico Buarque, em tempos de ditadura: “Apesar de você/ Amanhã há de ser/ Outro dia” (Apesar de você). Também foi cantada a dinamicidade da esperança: “Sei que nada será como está/ Amanhã ou depois de amanhã/ Resistindo na boca da noite um gosto de Sol” (Nada será como antes, Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos). Esperança é tema que ilustra o recorrente: “O Sol já nasceu na estrada nova/ E mesmo que eu impeça, ele vai brilhar” (Estrada Nova, Oswaldo Montenegro/ Mogol).

Mais do que esperança, Paulo Freire falou do esperançar: “É preciso ter esperança, mas esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo” (Pedagogia da esperança, 1992, p. 110-111). Nessa perspectiva, Juvenal Arduini nos garante: “Ainda há esperança porque a história não terminou” (Destinação antropológica, 1989, p. 177).

Já no primeiro documento do seu pontificado, o Papa Francisco nos alertava: “Não deixemos que nos roubem a esperança! ” (EG, 86). O próprio Papa Francisco nos explica o significado desta palavra que lhe é tão especial, talvez até mesmo uma das marcas de seu rico pontificado, ao lado da palavra alegria.

Segundo o Papa, esperança “é a mais humilde das três virtudes teologais, porque fica escondida. A esperança é um risco, uma virtude, não é uma ilusão” (Meditação, 29/10/2015). “É uma virtude que nunca decepciona: se nela esperares, nunca serás desiludido”; é uma virtude concreta, “de todos os dias porque é um encontro com Jesus Cristo” (Meditação, 23/10/2018).

A esperança é o ar que se respira. Perder a esperança é como parar de respirar, perde-se a vida. É como lançar uma âncora na outra margem e agarrar-se à corda. É viver voltados para a revelação do Senhor (cf. Meditações, 29/10/2019). “A esperança – afirma Francisco – faz-nos entrar na escuridão de um futuro incerto, para caminhar na luz. É bela a virtude da esperança; dá-nos tanta força para caminhar na vida” (Audiência, 28/12/2016).

Como peregrinos de esperança, temos um longo caminho pela frente! Na sua Bula de convocação para o Jubileu, o Papa Francisco nos chama a “olhar para o futuro com esperança”. Isso significa “ter uma visão da vida carregada de entusiasmo para transmitir” (SNC, 9). Continua o Papa: “No Ano Jubilar, somos chamados a ser sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade” (SNC, 10). E Francisco recorda os presidiários, os doentes, os jovens, os migrantes, os idosos, especialmente os avôs e as avós, os milhares de milhões de pobres (cf. SNC, 10-15).

O Papa lança dois apelos fortes em favor da esperança: “os bens da terra se destinam a todos, e não a poucos privilegiados”, pensando de maneira especial nas pessoas que são privadas de água e de alimentos: “a fome é uma chaga escandalosa no corpo da nossa humanidade e convida a todos a um despertar de consciência”. O segundo apelo do Papa se refere ao perdão das dívidas, e ele aponta a necessidade de superação da “dívida ecológica”. “Se queremos verdadeiramente preparar no mundo o caminho da paz, precisamos nos empenhar em superar as causas remotas das injustiças, reformular as dívidas injustas e impagáveis e saciar os famintos” (SNC, 16).

Neste esperançar, não estamos sozinhos. Francisco nos lembra que “Maria nos ensina a virtude da esperança; até quando tudo parece sem sentido, ela permanece sempre confiante no mistério de Deus, até quando Ele parece desaparecer por culpa do mal do mundo. Que nos momentos de dificuldade, Maria, a Mãe que Jesus ofereceu a todos nós, possa sempre amparar os nossos passos e dizer ao nosso coração: ‘Levanta-te! Olha em frente, olha para o horizonte’, porque Ela é Mãe de esperança” (Catequese, 03/05/2017).

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

O Mandamento da Caridade (II)

Santa Tereza de Calcutá (Prebíteros)

O Mandamento da Caridade

11. Os efeitos da lei do amor: o amor causa a vida espiritual.

Deve-se saber, também, que esta lei, a do amor divino, produz quatro coisas no homem imensamente desejáveis, a primeira das quais é causar no mesmo a vida espiritual. É, de fato, manifesto que o amado está naturalmente no amante e por isto, quem a Deus ama, possui Deus em si: “Quem permanece na caridade em Deus permanece, e Deus nele” (I Jo. 4).  A natureza do amor é também tal que transforma o amante no amado; de onde que se amamos o que é vil e caduco, vis e instáveis nos tornamos: “Fizeram-se abomináveis assim como o que amaram” (Os. 1). Se, porém, a Deus amarmos, divinos nos tornaremos, porque, como está escrito: “Aquele que se une ao Senhor, constitui com Ele um só espírito” (I Cor. 6). Neste sentido é que Santo Agostinho diz que assim como a alma é a vida do corpo, assim Deus é a vida da alma, e isto é manifesto. Porquanto dizemos o corpo viver pela alma, quando tem as operações próprias da vida, e quando opera e se move. Apartando- se, porém, a alma, nem o corpo opera, nem se move. Assim também a alma opera virtuosa e perfeitamente quando opera pela caridade, pela qual Deus habita nela. Sem a caridade, porém, não opera: “Quem não ama, permanece na morte” (I Jo. 3). Deve-se considerar, também, que se alguém tiver todos os dons do Espírito Santo sem a caridade, não tem a vida. Seja, de fato, a graça de falar em línguas, seja o dom da fé, ou seja, qualquer outro, sem a caridade não concedem a vida. Com efeito, se o corpo dos mortos é vestido de ouro e de pedras preciosas, não obstante isto, morto permanece. Causar a vida espiritual é, portanto, o primeiro dos efeitos da caridade.

12. O amor causa a observância dos mandamentos.

O segundo efeito da caridade é a observância dos mandamentos divinos. Diz São Gregório: “Nunca o amor de Deus é ocioso”. Porquanto, se existe, opera grandes coisas; se, porém, se recusa a operar, amor não é. De onde que um sinal manifesto da caridade é a prontidão na execução dos preceitos divinos. Vemos, de fato, os que amam operar por causa do amado coisas grandes e difíceis. Diz também o Evangelho de João: “Se alguém me ama, observará os meus mandamentos” (Jo. 14). Mas quem observa o mandamento e a lei do amor divino cumpre toda a lei. Pois há dois modos de mandamentos divinos. Alguns são afirmativos, e estes a caridade cumpre porque a plenitude da lei que consiste nos mandamentos é o amor pelo qual os mandamentos são observados. Já outros são proibitórios, e estes também a caridade cumpre, porque “não age maldosamente”, como diz o Apóstolo na primeira aos Coríntios.

13. O amor é refúgio contra as adversidades.

A terceira coisa que faz a caridade é ser refúgio contra as adversidades. Ao que tem caridade, nenhuma adversidade causa dano, antes, se converte em coisa útil: “Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus” (Rom. 8). As coisas adversas e difíceis parecem suaves para os que amam, como entre nós o vemos manifestamente.

14. O amor conduz à eterna BEM-AVENTURANÇA.

O quarto efeito da caridade é o de conduzir à felicidade. Somente aos que tiverem caridade a felicidade eterna é prometida, pois todas as coisas sem a caridade são insuficientes: “Desde já me está reservada a coroa de justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele dia. E não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua vinda” (II Tim. 4)

E deve-se saber que somente segundo a diferença da caridade será a diferença da bem-aventurança, e não segundo nenhuma outra virtude. Muitos, na verdade, fizeram maiores jejuns do que os apóstolos, mas estes na bem-aventurança superam todos os outros por causa da excelência da caridade. Eles, com efeito, foram as primícias dos que têm o Espírito, como diz o Apóstolo, no oitavo de Romanos. De onde que a diferença da bem-aventurança provém da diferença da caridade, e assim são patentes as quatro coisas que em nós faz a caridade.

15. Outros efeitos do amor: o amor produz o perdão dos pecados.

Além destas, porém, a caridade faz outras coisas que não se devem deixar passar. Primeiro, causa o perdão dos pecados, algo que já vemos manifestamente acontecer entre nós. Porquanto, se alguém ofender algum homem e posteriormente vier a amá-lo entranhadamente, o ofendido, por causa do amor com que é amado, perdoará a ofensa. Assim também Deus perdoa os pecados dos que o amam: “A caridade encobre uma multidão de pecados” (I Pe. 4). E diz bem o apóstolo que os encobre, porque para Deus não parece que devam ser punidos. Mas, posto que São Pedro diga que encobre uma multidão, todavia Salomão diz no décimo de Provérbios que “a caridade encobre todos os delitos”, o que o exemplo da Madalena maximamente manifesta: “São-lhe perdoados muitos pecados”, e a causa é mostrada: “já que muito amou” (Luc. 7). Mas talvez alguém dirá: “Então a caridade basta para apagar os pecados, e não é necessário o arrependimento?” Deve-se considerar, porém, que ninguém verdadeiramente ama, que não se arrependa verdadeiramente. De fato, é manifesto que quanto mais amamos a alguém, tanto mais nos afligimos se a ele ofendemos, e isto é um efeito da caridade.

16. O amor produz a iluminação do coração.

A caridade causa também a iluminação do coração. Com efeito, assim diz o livro de Jó: “Estamos todos envolvidos em trevas” (Jó 37). Pois frequentemente não sabemos o que agir, ou desejar. A caridade, porém, ensina tudo o que é necessário à salvação. Por isto está dito: “Sua unção vos ensinará de tudo” (I Jo. 2). Isto é porque, onde está a caridade, lá está o espírito Santo que a tudo conhece, o qual nos conduz no caminho correto, assim como está escrito no Salmo 138. E por isso diz também o Eclesiástico: “Vós, que temeis a Deus, amai-O, e se iluminarão os vossos corações“, a saber, para o conhecimento do que é necessário à salvação.

17. O amor realiza a perfeita alegria.

A caridade também realiza no homem a perfeita alegria. Na verdade, ninguém tem verdadeira alegria a não ser existindo na caridade. Quem quer que deseje algo não está contente, nem se alegra, e nem tem repouso enquanto não o conseguir. E nas coisas temporais sucede que o que se não se tem é apetecido, e o que se tem é desprezado e gera o tédio. Mas não é assim nas coisas espirituais; antes, ao contrário, quem a Deus ama, a Deus possui, e por isso a alma de quem o ama e o deseja nEle repousa: “Quem”, de fato, “permanece na caridade, em Deus permanece, e Deus nele”, como está dito no quarto da primeira Epístola de João.

18. O amor produz a perfeita paz.

Igualmente, a caridade produz a perfeita paz. Pois acontece nas coisas temporais que sejam desejadas com frequência, mas obtidas as mesmas, ainda a alma do que as deseja não repousa, antes, ao contrário, obtida uma, outra apetece: “O coração do ímpio é como um mar revolto, que não pode repousar” (Ecl. 57). E também, no mesmo lugar: “Não há paz para o ímpio, diz o Senhor”. Mas não acontece assim na caridade para com Deus. Quem, de fato, ama a Deus, tem a paz perfeita: “Muita paz aos que amam a Tua lei, e não há tropeço para eles” (Salmo 118). E isto porque somente Deus é capaz de satisfazer o nosso desejo, porquanto Deus é maior do que o nosso coração, como diz o Apóstolo. E por isso diz Santo Agostinho no primeiro livro das Confissões: “Fizeste-nos, ó Senhor, para ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”. E também: “O qual preenche de bens o teu desejo” (Salmo 102). A caridade também torna o homem de grande dignidade. Com efeito, todas as criaturas servem à própria majestade divina, e por ela foram feitas, assim como as coisas artificiais servem ao artífice. Mas a caridade faz do servo um livre e um amigo. De onde diz o Senhor: “Já não vos chamarei de servos, mas de amigos” (Jo. 15). Mas porventura Paulo não é servo? E os outros apóstolos não escreviam de si serem servos? Quanto a isto deve-se saber que há duas servidões. A primeira é a do temor, e esta é penosa e não meritória. Se, de fato, alguém se abstém do pecado somente pelo temor da pena, não merece por isto. Ainda é servo. A segunda servidão é a do amor. Se, na verdade, alguém opera não pelo temor da justiça, mas pelo amor divino, não opera como servo, mas como livre, porque voluntariamente, e é por isto que Cristo diz: “Já não vos chamarei mais de servos”. E por quê? A isto responde o Apóstolo: “Não recebestes o espírito de servidão para recairdes no temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos” (Rom. 8). “Não há, de fato, temor na caridade”, como diz I Jo. 4. O temor tem, certamente, tormento, mas a caridade, deleitação.

19. O amor dignifica o homem.

A caridade igualmente torna não somente livres, mas também filhos, para que, a saber, “sejamos chamados filhos de Deus e de fato o sejamos” (I Jo. 3). Com efeito, o estranho se torna filho adotivo quando adquire para si o direito na herança de Deus, que é a vida eterna. Pois, como diz Romanos: “O próprio Espírito dá testemunho ao nosso espírito que somos filhos de Deus. Se, porém, filhos, também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rom. 8). E também: “Eis que são contados entre os filhos de Deus” (Sab. 5).

20. O amor de caridade só pode ser alcançado pela graça.

Do que já foi dito fica patente a utilidade da caridade. Pois que, portanto, seja tão útil, deve-se trabalhar diligentemente para adquirí-la e retê-la. Deve-se saber, porém, que ninguém pode por si mesmo possuir a caridade. Antes, ao contrário, é dom inteiramente de Deus. De onde que diz João: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele quem nos amou primeiro” (I Jo. 4), porque certamente não por causa de nós o amarmos primeiro que Ele nos ama, mas o próprio fato de o amarmos é causado em nós pelo seu amor. Deve-se considerar também, que ainda que todos os dons sejam do Pai das luzes, todavia este dom, a saber, o da caridade, supera todos os demais dons. De fato, todos os outros podem ser possuídos sem a caridade e o Espírito Santo; com a caridade, porém, possui-se necessariamente o Espírito Santo: “A caridade de Deus foi derramada nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Seja o dom das línguas, portanto, seja o dom da ciência ou o da profecia, todos estes podem ser possuídos sem a graça e o Espírito Santo.

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Este texto, de Santo Tomás de Aquino, foi retirado do site www.cristianismo.org.br , onde se encontram muitos outros textos interessantes para o estudo e crescimento da fé e da vida espiritual.

Fonte: https://presbiteros.org.br/o-mandamento-da-caridade/

IGREJA: O grande coração de Roma (II)

Como o cristianismo conquistou o coração do mundo antigo? (Aventuras na História)

Arquivo 30Giorni nº. 01 - 2001

O grande coração de Roma

Pio XII e o clero romano, as paróquias dos subúrbios e os sacramentos aos “comunistas”, os sermões em dialeto romano e a fé dos analfabetos Memórias da Cidade Eterna dos anos cinquenta, seguindo o fio de uma antiga simpatia.

do Cardeal Giovanni Canestri

Mais uma pequena história que fotografa os nossos subúrbios daquela época: esta é hilariante. O pároco de San Giovanni Battista de Rossi pediu que o ajudassem novamente para tornar a casa de Deus mais acolhedora. Já tinha mandado repintar a igreja, mas agora teve que terminar com o arco triunfal: “Vamos atrair os evangelistas para lá”, disse, apontando do púlpito, e menciona-os um por um: São Marcos, São Mateus, São Lucas e São João. No dia da inauguração, uma senhora idosa aproxima-se do pároco, que entretanto mandou pintar os evangelistas (mas os seus símbolos e não os seus rostos) e diz-lhe abruptamente: "Estilo romano": «Diga um pouco , mas você disse que queria torná-los santos... e você os transformou em animais?».

Bem, é assim que éramos. Foi necessária muita paciência na preparação e na realização da catequese. Ainda hoje, claro, por outros motivos. Nada de novo sob o sol! Naquela época, o pároco era verdadeiramente considerado uma autoridade no bairro e, se durante a homilia se permitia julgar as pessoas ou os acontecimentos, as pessoas imediatamente os faziam seus, porque "o pároco assim o disse". Padre Marcello Urilli, meu pároco de San Giovanni Battista de Rossi, foi companheiro de seminário e amigo dos cardeais Ottaviani, Spellman, Borgoncini Duca e Vagnozzi, e os tratou com a mesma franqueza simples que usou conosco assistente paroquial sacerdotes. Não houve falsa reverência pela Cúria Romana, nem sequer ansiedade pelos debates culturais de alto nível: tudo o que era essencial passava pela pastoral quotidiana. Por se expressarem com simplicidade, o professor Enrico Medi e o engenheiro Giuseppe Grimaldi, amigo de Piergiorgio Frassati que morava na região, eram particularmente bem-vindos para conferências, ou melhor, para simples conversas.

Um breve aparte daqueles anos, a respeito de Pio XII: a guerra e os judeus. Sabia-se entre nós, sacerdotes, que os judeus tinham sido acolhidos por ordem de Pio XII no Seminário Romano, em São Paulo e nas Basílicas extraterritoriais. Na época eu era seminarista e depois vice-pároco, não sei mais nada sobre o assunto. Um dos nossos irmãos que mantinha judeus com ele – as reitorias não eram extraterritoriais! – ele recebeu uma visita dos militares e, portanto, problemas que estavam longe de serem pequenos.

Outro padre dos missionários de San Vincenzo, Don Morosini, trouxe armas para dentro de casa e escondeu-as atrás da estante do convento. Os militares, seguindo espiões, os encontraram e ele foi condenado à morte; nem mesmo o próprio Pio XII poderia salvá-lo. Até ao final, Morosini foi assistido por Monsenhor Traglia que o confortou, confessou-lhe e serviu-lhe a missa que celebrou na noite anterior ao tiroteio. Traglia o acompanhou até a execução. Quando Dom Morosini caiu, deu-lhe a extrema unção.
Durante a ocupação alemã, fui confessar-me, com o pouco inglês remendado que possuía, aos soldados católicos ingleses incógnitos em Roma.

Novamente para recriar o clima romano daqueles anos, recordo o regresso à Itália de Dom Luigi Sturzo. Foi hóspede das freiras canossianas mesmo em frente ao colégio San Filippo, na paróquia de Ognissanti. Aproximei-me dele porque em 49 – ano em que o Santo Ofício interveio contra os comunistas – tive que fazer alguns trabalhos sobre o código soviético sobre os temas “família”, “propriedade” e “trabalho”. Pude consultar o P. Sturzo graças à Srta. Oliveri, que trabalhava para ele como secretária e frequentava a nossa paróquia. Lembro-me de padre Sturzo como um sacerdote exemplar, competente e humilde.

Se bem me lembro, a intervenção do Santo Ofício tornada pública em 1º de julho de 1949 não foi a excomunhão dos comunistas, como havia sido dito. Na realidade foi uma recusa dos sacramentos, da confissão e da Eucaristia, mas não do casamento: foram encontrados aqueles que simpatizavam com a esquerda e pediam para casar na igreja. Deve-se notar que o Cardeal Marchetti, que era ao mesmo tempo vigário do Papa em Roma e chefe do Santo Ofício (na época não era chamado de prefeito, porque o Papa era prefeito, mas era chamado de secretário), tinha "as mãos no torta" sobre o assunto, e em 50, mandando-me abrir a paróquia na vila romana de Ottavia, disse-me: «Não comecemos pelos comunistas! Para a Páscoa chame um bom frade capuchinho de mangas largas e confesse em paz! No subúrbio muitos eram membros do PCI porque não havia bar e o único ponto de encontro eram as duas pequenas salas do Partido Comunista, mas lá não faziam realmente nenhuma referência a ideologias.

Ao tornar-me pároco em Ottavia, o que deixei a San Giovanni Battista de Rossi...? Deixei o pároco, padre Marcello Urilli, falecido aos sessenta anos, de muito trabalho, pobre, fiel, piedoso, zeloso, romano há pelo menos sete gerações. Se assim posso dizer, o seu único limite foi a sua atualização, porque em nove anos quase nunca o vi com um livro na mão, mas foram anos de guerra, de fome, de medos, de confrontos políticos, de eleições… Deu tudo de si, percorreu as casas, foi visitar os doentes. Eu não pude deixar de justificar. Mas fiquei um pouco impressionado com o facto de ele ter tantos jovens sacerdotes à sua volta - eram quatro vice-párocos e às vezes cinco - e ele nunca nos chamou de volta ao nosso dever de estudo, aliás, quase o atrapalhou. Ai se ficássemos no quarto durante o dia, se quiséssemos estudar só havia horário noturno. Contudo, o seu espírito de oração, humildade, amor aos pobres e caridade pastoral fizeram dele um grande pároco. Durante a guerra, contando com o benemérito Circolo San Pietro, Dom Marcello distribuiu oito mil sopas por dia!

Como era a situação em Otávia? A aldeia separava-se do distrito de Monte Mário por cerca de três quilómetros. Não havia luz nas ruas à noite, não havia estradas asfaltadas, nem esgotos, não havia linhas telefónicas, mas apenas um telefone público. Não havia delegacia, nem farmácia, nem médico... O único ônibus era para Monte Mário e circulava no máximo quatro ou cinco vezes por dia, não havia bar e o único ponto de encontro de homens e jovens era a sede do PCI. As freiras canossianas faziam um bom trabalho há vários anos e tinham uma creche e uma escola primária. Mas a maioria dos homens não tinha a quinta série. Recorremos a escolas noturnas populares que oferecem ambientes e professores na freguesia. Também foram chamados de “populares” porque realizaram um bom trabalho educativo (leitura, escrita e aritmética), fizeram exames da quinta série e finalmente obtiveram o diploma do ensino fundamental. Aí então, alguns diziam que o pároco era comunista, porque boa parte desses homens que vinham à escola na freguesia tinham cartão de membro do PCI. Após a Segunda Guerra Mundial, a política criou intermináveis ​​problemas e mal-entendidos para nós (mesmo em Roma). Tendo tomado certas orientações políticas, os homens e os jovens tiveram dificuldade em serem vistos na igreja. Mas no final ninguém recusou os sacramentos. Isso explica a confusão do coração humano…!

A aldeia imediatamente encheu-se de habitantes e casas (naturalmente sem um plano diretor). Fazíamos catequese em salas pequenas e quando terminamos o curso de primeira comunhão e crisma (juntos!), tivemos que sair imediatamente porque chegou o turno seguinte: não foi possível manter as crianças nos cursos de dois anos. Quero também salientar como em Otávia e também em Casalbertone um grupo de sacerdotes romanos vindos do Seminário Romano e de Capranica, e empregados nos escritórios da Cúria Romana, vieram em grupo para exercer o ministério no domingo: precisamente apenas para o amor de Deus.

No mês de outubro de 1950, Ano Santo - eu era pároco desde 23 de março e havia entrado na paróquia em 12 de abril - partimos de Ottavia para o Jubileu com dois ônibus com placa SCV. Eles estavam realmente desconfortáveis! Mas havia menos para gastar...

Tive a graça de viver o Jubileu de 1950 em Roma.

O tema daquele Ano Santo foi “o grande retorno e o grande perdão”. Entre os acontecimentos solenes daquele Ano Jubilar esteve a canonização de Santa Maria Goretti, no dia 24 de maio. Foi a primeira celebração realizada na Praça de São Pedro, mas não houve missa: Pio XII presidiu uma celebração com a canonização e no dia seguinte celebrou missa, em homenagem ao novo santo, na Basílica, com sua mãe e também presente aquele que matou Maria Goretti.

Seguiu-se então, em 1º de novembro de 1950, a proclamação do dogma da Assunção de Maria. Ali também estive presente, como Santa Maria Goretti. Acredito que foi a maior e mais concorrida manifestação de Pio XII: as pessoas chegaram ao final da Via della Conciliazione e ocuparam as ruas adjacentes. Os romanos simpatizavam amplamente com o Papa Pacelli, “o defensor romano da civitatis ”.

Nós, párocos, também estivemos no adro de São Pedro. Nunca teríamos acreditado que estaríamos presentes na definição do dogma da Assunção! O vicariato também convidou os fiéis a iluminar as janelas das casas naquela noite e foi um espetáculo fazer um passeio pelos subúrbios e pela aldeia de Ottavia. Foi muito lindo e simples: todos tinham colocado apenas quatro velas, mas eram em homenagem a Nossa Senhora Assunta e todos queriam se destacar nisso.

Quando fui pároco em Casalbertone, na igreja de Santa Maria Consoladora, ocupei o lugar de padre Carlo Maccari. Ele tinha uma caneta fácil e capacidade para uma oratória forte e brilhante, com ideias às vezes polêmicas e muitas vezes emocionantes e comoventes. Mas lembro-me com alegria de Don Carlo, especialmente por quão inteligente e zeloso ele era; nos quatro anos e meio da sua estadia conseguiu orientar cerca de quinze jovens aldeões ao encontro diário com Jesus na Eucaristia e cerca de cinquenta à comunhão dominical. E muitas coisas deveriam ser ditas também sobre a pastoral em Roma e a devoção mariana...

Fonte: https://www.30giorni.it/

Cardeal Tempesta: 58º Dia Mundial da Paz 2025

Pomba - Paz  (©sakepaint - stock.adobe.com)

Este é o 58º Dia Mundial da Paz e o tema da mensagem deste ano é: “Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz” ou em outra tradução: “Perdoai-nos as nossas ofensas: dai-nos a vossa Paz”, as mensagens para esse dia sempre têm como motivação animar todos os povos e encorajá-los para se unirem na construção de um mundo melhor para todos.

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Todos os anos é publicado em primeiro de janeiro a mensagem do Santo Padre o Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz. No primeiro dia do ano, além de ser para nós católicos o dia de Santa Maria Mãe de Deus, o mundo inteiro celebra o Dia da Confraternização Universal ou Dia Mundial da Paz. Na mensagem, o Papa Francisco pede que todos busquem a paz, pois somente ela é capaz de unir a todos os povos.

Além da mensagem, que é publicada nesse dia 1º de janeiro, o Papa Francisco profere diretamente de Roma a benção “Urbi et Orbi”, ou seja, a cidade de Roma e ao mundo. Essa benção que o sucessor de Pedro profere em Roma é a benção da paz que vem do Senhor, conforme o que ouvimos na liturgia da Palavra desse dia: “Que Deus nos dê a sua graça e a sua benção” (Sl 66/67). Independente de raça ou religião, a benção que o Papa profere nesse dia é para todos os povos do mundo e todos devem acolher a benção e a mensagem proferida pelo Papa Francisco.

Este é o 58º Dia Mundial da Paz e o tema da mensagem deste ano é: “Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz” ou em outra tradução: “Perdoai-nos as nossas ofensas: dai-nos a vossa Paz”, as mensagens para esse dia sempre têm como motivação animar todos os povos e encorajá-los para se unirem na construção de um mundo melhor para todos. A mensagem sempre tem cunho humanitário e independe de religião, tornando-a universal. Todos os povos são chamados a edificarem um mundo melhor e se unirem por construir a paz.

O desejo de Deus é que todos os povos fossem um, por isso rezamos “Pai-Nosso”, no plural. É obrigação de todos os povos se unirem na construção da paz. O desejo de Deus é que os povos do mundo inteiro se unissem e promovessem a paz e não as guerras.

Todas as mensagens já publicadas têm como tema central a paz, mas em especial a desde ano devido ao momento atual que o mundo atravessa com duas grandes guerras, que inclusive o Papa Francisco mencionou na benção “Urbi et orbi” do Natal. Quando o Papa Francisco usa o tema “Perdoai-nos as nossas ofensas”, ele pede que Deus perdoe as ofensas de toda a humanidade que infelizmente é incapaz de dialogar e promover a paz, e ao invés disso preferem as armas.

O Papa Francisco faz uma súplica ao Senhor, que perdoe as ofensas de todos nós quando, infelizmente, não conseguimos construir a paz em nossa casa, em nosso ambiente de trabalho, na escola, enfim, em nosso convívio social. O caminho para a edificação da paz deve começar, em primeiro lugar, de cada um de nós, a partir disso é possível pedir ao Senhor a paz para todo o mundo, pois se não conseguirmos manter a paz no ambiente em que vivemos, não podemos pedir ao Senhor a paz para restante do mundo.

Por isso, em primeiro lugar devemos pedir o perdão ao Senhor por todas as vezes que não conseguimos manter a paz e depois pedir ao Senhor a paz tão necessária. Infelizmente, através das guerras, muitos inocentes acabam morrendo, pessoas que não têm nada a ver com as guerras, sobretudo as crianças, enfermos e idosos, conforme afirmou o papa na benção de Natal. As guerras acontecem por causa da dureza do coração do ser humano e pela ganância do ter e do poder. O coração humano se afasta de Deus e não há espaço para amar ao próximo, mas somente para guerras e para o ódio.

Neste ano de 2025 a Igreja vive o Jubileu da Esperança: que essa esperança invada o coração de todos para que a situação das guerras melhore e tenhamos a paz. Peçamos ao Senhor o fim de todas as guerras e que as novas gerações que estão nascendo agora tenham no coração o desejo da paz e de um mundo melhor. Os conceitos esperança e perdão são o coração de todo o jubileu. Pois, ao longo de todo o jubileu poderemos obter de Deus o perdão para os nossos pecados, e cada fiel é convidado a esperar com todo amor nesse Deus misericordioso.

Deus chama a cada um para confiar em sua misericórdia, Deus não condena ninguém, não olha a quantidade de nossos pecados, mas sempre está pronto para nos dar o seu perdão. Tenhamos a esperança na reconciliação e no amor de Deus por nós, tendo esperança na misericórdia do Senhor é possível se abrir ao perdão do próximo e amá-lo com toda confiança. Cabe a cada pessoa pacificar, conversar, dialogar, e não guerrear e disseminar o ódio.

É missão de todos os governos e autoridades das nações promoverem condições de vida digna para a população, desde saneamento básico, saúde, educação e moradia, mas também é missão das autoridades promoverem a paz e não as guerras. E ainda, cuidarem da segurança pública das cidades, municípios e país, pois conforme já sabemos, temos algumas guerras em curso no mundo, mas infelizmente vivemos uma guerra civil em muitos estados e cidades do Brasil, por causa da violência urbana.

Rezemos pela paz mundial e pela paz em nosso país, cidade e estado. Rezemos antes de tudo pela conversão daqueles que só tem o desejo de ódio e violência no coração, para que se convertam e optem pelo caminho da paz e justiça. Unamo-nos ao Papa Francisco nesse dia e rezemos junto com o tema dessa mensagem: “Perdoai-nos as nossas ofensas: dai-nos a vossa Paz” (“Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz”).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Basílio Magno

São Basílio Magno (A12)
02 de janeiro
Localização: Turquia (Capadócia)
São Basílio Magno
(+379)

Basílio, nascido na Capadócia (Turquia) em 329, foi mais um dos santos da sua família: seus pais eram São Basílio, o Velho, e Santa Emília de Cesaréia, e seus irmãos São Gregório de Nissa, São Pedro, bispo de Sebaste, e Santa Macrina, virgem. Além disso, teve por amigo São Gregório Nazianzeno.

Estudou em Atenas, sob mestres famosos, e em Constantinopla. Conheceu a vida monástica do Oriente e depois, com seu santo amigo, dedicou-se aos sacros estudos e a uma vida ascética. Desenvolveu normas para a vida monástica, as “Constituições”, sábias regras de vida espiritual ainda utilizadas hoje nos mosteiros orientais.

Em 370 foi eleito bispo de Cesaréia. Pastor exemplar, destacou-se por combater a heresia ariana, deixando também muitos escritos – sermões, cartas – bem como pela preocupação com os problemas que afligiam a população, fundando hospital, abrigos, escolas, orfanatos. Por sua erudição doutrinal e vigorosa ação, recebeu dos contemporâneos o título de Magno; seu nome, em grego, significa “rei”, e de fato foi um magnífico regente do seu rebanho. Da Igreja, recebeu posteriormente também o título de Doutor.

Apesar de grande fragilidade física e doenças, trabalhava com vigor e empenho. Faleceu com apenas 49 anos, a 2 de janeiro de 379. Disse dele São Gregório Nazianzeno: "Basílio santo, nasceu entre os santos. Basílio pobre viveu pobre entre os pobres. Basílio, filho de mártires, sofreu como um mártir. Basílio pregou sempre; com seus lábios e com seus exemplos, e seguirá pregando sempre com seus escritos admiráveis".

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A convivência com santas pessoas nos facilita imensamente chegar a Deus. São Basílio, nascido e criado entre santos, também sofreu a tentação das veleidades do mundo (ninguém nesta vida deixa de ter que escolher entre a virtude e o vício), sonhando com glórias e riquezas mundanas após os estudos, mas as santas amizades que cultivou o levaram para o caminho da verdadeira grandeza, a de alma. Nem todos nós temos parentes santos ou canonizados, mas podemos escolher nossas companhias. Deus sempre providenciará para que tenhamos boas opções de escolha do nosso destino.

Oração:

Senhor Deus, nosso Rei e Pastor providente e bom, concedei-nos por intercessão de São Basílio Magno a graça de buscarmos o auxílio de que necessitamos, para a nossa felicidade nesta vida e salvação na vida futura, na proximidade Convosco pelos Mandamentos e Sacramentos e na companhia de pessoas que Vos sigam verdadeiramente. Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, e Maria Santíssima. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O Mandamento da Caridade (I)

Santa Teresa de Calcutá (Presbíteros)

O Mandamento da Caridade

Introdução.

   Três coisas são necessárias à salvação do homem, a saber: a ciência do que se há de crer, a ciência do que se há de desejar, e a ciência do que se há de operar. A primeira nos é ensinada no Credo, onde nos é ensinada a ciência dos artigos da fé. A segunda, no Pai Nosso. A terceira na Lei. Agora a nossa intenção é acerca da ciência do que se há de operar, para tratar da qual encontramos quatro leis.

  1. A lei da natureza.

            A primeira lei é dita lei da natureza, e esta nada mais é do que a luz da inteligência colocada em nós por Deus, pela qual conhecemos o que devemos agir e o que devemos operar. Esta luz e esta lei Deus a deu ao homem na criação, mas muitos acreditam dela poderem desculpar-se por ignorância se não a observarem. Contra estes diz, porém, o profeta no salmo quarto: “Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem?”, como se ignorassem o que é para se operar. Mas o próprio profeta no mesmo lugar responde: “Sobre nós está assinalada a luz do teu semblante, ó Senhor”, luz, a saber, do intelecto, pela qual nos é conhecido o que se deve agir. De fato, ninguém ignora que aquilo que não quer que seja feito a si, não o faça ao outro, e outras tais.

2. A lei da concupiscência.

            Posto, porém, que Deus na criação deu ao homem esta lei, a saber, a da natureza, o demônio, todavia, semeou sobre esta uma outra lei, a da concupiscência. Com efeito, até quando no primeiro homem a alma foi submissa a Deus, observando os divinos preceitos, também a carne foi submissa em tudo à alma, ou à razão. Mas depois que o demônio pela tentação afastou o homem da observância dos preceitos divinos, também a carne se tornou desobediente à razão. De onde aconteceu que ainda que o homem queira o bem segundo a razão, todavia é inclinado ao contrário pela concupiscência. E isto é o que nos diz o Apóstolo no sétimo de Romanos: “Mas vejo outra lei nos meus membros que se opõe à lei da minha razão”. Daqui é que frequentemente a lei da concupiscência corrompe a lei da natureza e a ordem da razão, e por isso acrescenta o Apóstolo: “Acorrentando-me à lei do pecado“.

3. A lei da Escritura, ou do temor.

            A lei da natureza, pois, estava destruída pela lei da concupiscência. Fazia-se, portanto, necessário que o homem fosse restituído à obra da virtude e fosse afastado dos vícios. Para isto foi necessária a lei da Escritura. Deve-se saber, porém, que o homem é afastado do mal e induzido ao bem por duas coisas, a primeira das quais sendo o temor. De fato, a primeira coisa pela qual alguém maximamente principia a evitar o pecado é a consideração das penas do inferno e do juízo final. Por isso é que o Eclesiástico nos diz: “O início da Sabedoria é o temor do Senhor”, e também: “O temor do Senhor expulsa o pecado“, pois, ainda que aquele que por temor não peca não seja justo, todavia daqui principia a justificação. É deste modo que o homem é afastado do mal e induzido ao bem pela lei de Moisés, a qual punia os transgressores com a morte: “Quem transgride a Lei de Moisés é condenado à morte, sem piedade, com base em duas ou três testemunhas“. Hb. 10

4. A lei Evangélica, ou do amor.

            O modo do temor, porém, é insuficiente, e a lei que foi dada por Moisés desta maneira, afastando do mal pelo temor, também foi insuficiente. De fato, ainda que obrigasse a mão, não obrigava a alma. Por isso há um outro modo de afastar do mal e induzir ao bem, a saber, o modo do amor, e deste modo foi dada a lei de Cristo, a lei Evangélica, que é lei de amor.

5. A lei do amor torna livre.

            Deve-se considerar, entretanto, que entre a lei do temor e a lei do amor são encontradas três diferenças. A primeira consiste em que a lei do temor faz de seus observantes servos, enquanto que a lei do amor os faz livres. Pois quem opera somente pelo temor opera pelo modo de servo; quem, porém, o faz por amor, o faz por modo de livre, ou de filho. De onde que diz o Apóstolo: “Onde está o Espírito do Senhor, lá está a liberdade“, II Cor. 3, porque, a saber, estes por amor agem como filhos.

6. A lei do amor introduz nos bens celestes.

            A segunda diferença está em que os observadores da primeira lei eram introduzidos nos bens temporais, conforme diz Isaías: “Se quiserdes, e me ouvirdes, comereis dos bens da terra” (Is. 1). Mas os observadores da segunda lei são introduzidos nos bens celestes: “Se queres entrar na vida, observa os mandamentos” (Mt. 19). E também: “Fazei penitência” (Mt. 2).

7. A lei do amor é leve.

            A terceira diferença é que a primeira é pesada: “Por que quereis impor um jugo sobre nós que nem nós, nem nossos pais puderam suportar?” (At 15).  A segunda, porém, é leve: “O meu jugo é suave, e o meu peso é leve” (Mt. 11). E também: “Não recebestes um espírito de servidão para recairdes no temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos” (Rm. 8).

10. Conclusão: simplicidade e retidão da lei de Cristo.

            Assim, portanto, como já foi dito, encontram-se quatro leis, a primeira sendo a lei da natureza, que Deus infundiu no homem na criação, a segunda a lei da concupiscência, a terceira a lei da Escritura, a quarta a lei da caridade e da graça que é a lei de Cristo. Como, porém, é evidente que nem todos podem ser versados na ciência, foi-nos dada por Cristo uma lei breve, para que por todos pudesse ser sabida, e ninguém por ignorância pudesse escusar-se de sua observância, e esta é a lei do amor divino. Como diz o Apóstolo: “Fará o Senhor uma palavra abreviada sobre a terra” (Rm. 9). Deve-se saber, ademais, que esta lei deve ser a regra de todos os atos humanos. Com efeito, assim como vemos nas coisas feitas pela arte humana, em que cada obra é dita boa e correta quando segue a regra da arte, assim também qualquer obra humana é reta e virtuosa quando concorda com a regra do amor divino. Quando, porém, discorda desta regra, não é boa, nem reta, ou perfeita. Portanto, para que os atos humanos se tornem bons, é necessário que concordem com a regra do amor divino.

***

Este texto, de Santo Tomás de Aquino, foi retirado do site www.cristianismo.org.br , onde se encontram muitos outros textos interessantes para o estudo e crescimento da fé e da vida espiritual.

Fonte: https://presbiteros.org.br/o-mandamento-da-caridade/

IGREJA: O grande coração de Roma (I)

Como o cristianismo conquistou o coração do mundo antigo? (Aventuras na História)

Arquivo 30Giorni nº. 01 - 2001

O grande coração de Roma

Pio XII e o clero romano, as paróquias dos subúrbios e os sacramentos aos “comunistas”, os sermões em dialeto romano e a fé dos analfabetos Memórias da Cidade Eterna dos anos cinquenta, seguindo o fio de uma antiga simpatia.

do Cardeal Giovanni Canestri

Estas são algumas memórias pessoais de Roma, como seminarista, vice-pároco – brevemente em Pietralata, quando Pietralata era… Pietralata! – e por mais tempo na paróquia de San Giovanni Battista de Rossi em Alberone – e depois pároco no distrito de Ottavia e em Casalbertone. Digo-lhes sem muita obediência à cronologia estrita, mas seguindo o fio de uma antiga simpatia.

A primeira grande emoção da minha estadia em Roma foi a participação com todo o seminário na inauguração da Universidade Lateranense, no dia 3 de novembro de 1937. Pela primeira vez vi o Papa, sucessor de São Pedro, Pio XI... Você é Peter! Fiquei muito orgulhoso e muito emocionado e cada vez - muitas vezes - que mais tarde vi o Sumo Pontífice, Bispo de Roma, professei a minha fé: acredito na Igreja, una, santa, católica e apostólica.

Lembro-me bem de Pio XII. Eu estava na Praça de São Pedro quando ele apareceu na loggia após a eleição, imitando muito brevemente seu antecessor Pio. O comentário dos meus colegas de dormitório com o prefeito Pietro Fiordelli: «Ele é romano, finalmente!». E eu também gostei.

A minha memória pessoal mais importante de Pio XII diz respeito à dispensa de idade para o sacerdócio. Em 41, no dia 25 de fevereiro, o Papa recebeu pela primeira vez os seminaristas do Seminário Romano e do Colégio Capranica. Três do nosso grupo de teologia do quarto ano foram excluídos da ordenação sacerdotal devido à idade: um homem de Bérgamo, um siciliano de Catânia e eu. Precisávamos de uma dispensa de dezoito meses, mas a Congregação para os Seminários nos negou. Esta foi a situação quando fomos a uma audiência com o Papa e Pappalardo inventou: “Agora ficamos um atrás do outro e pedimos dispensa ao Papa”. O homem de Bérgamo adiantou-se e, com a sua atitude habitualmente precipitada, disse: «Santidade, a Congregação estabelece estes limites... mas desejamos uma dispensa. Santo Padre, só o Papa pode nos dá-lo!..." Pio XII permaneceu suspenso por um momento; muito menos o reitor do seminário, Monsenhor Ronca, que estava ao lado do Papa e nos apresentou: ele não esperava, não lhe tínhamos contado nada! O Papa voltou-se para o reitor e disse: “Tudo bem”; sabia-se que ele não gostava de contornar as Congregações, mas daquela vez ele disse: “Tudo bem”. Então eu cheguei. Eu tinha visto o rosto do reitor... Hesitante, ajoelhei-me, beijei o anel do Papa e, permanecendo por um momento incerto, nas minhas costas, por trás, veio-me um punho e um convite: «Fala!» : eu falo: « Santo Padre, eu também preciso...». Pio XII faz um gesto para ver quanto tempo poderia durar tal fila de “mendigos”. O reitor, apontando para mim, disse: “É por Roma”, porque fui incardinado em Roma. “Falaremos com o cardeal vigário”, interrompeu-me o Papa Pappalardo, e também ele recebeu a mesma mensagem: “Falaremos com o cardeal vigário”. Imediatamente após a audiência fomos ao pátio do Belvedere para tirar uma foto em grupo. Não sou alto e acabei na primeira fila, porque naturalmente os mais altos ficaram atrás. O reitor veio dar-nos ordem... estética e ordem, e ordenou-me: «Canestri, vem mais!». Mas eu já estava na primeira fila, não entendia; «avança, hoje é um dia de glória para ti!». Era o anúncio da tempestade: viriam os relâmpagos, os trovões e o enxágue. Na verdade, quando chegamos ao seminário, o reitor nos chamou e... os temas da reprimenda foram a educação, a humildade, o respeito à autoridade, a obediência... apenas uma bronca solene, lembrando-nos que éramos simples diáconos e depreciativos a maneira imprudente e imprudente como agimos. Depois desta revisão, resignado e sincero, pedi desculpa: «Vamos esperar, vamos esperar estes meses extras se for preciso», e não foi por acaso que nos solidarizamos com Pappalardo.

Passaram-se quinze dias intermináveis ​​e o reitor levou-nos ao cardeal vigário, Marchetti Selvaggiani. O reitor passou três quartos de hora discutindo em particular com o cardeal os problemas do seminário, enquanto esperávamos ansiosamente na antecâmara. A porta se abriu – não consigo descrever a angústia, nunca tinha falado com um cardeal – e ouviu-se um “vamos lá!”, enquanto o cardeal Marchetti agitava a bengala, que usava devido à perna um pouco fraca. «Vamos!... Reverendos bochecha!!!». Ao que Pappalardo e eu compreendemos imediatamente que não tinha corrido mal... O cardeal apontou-nos com a sua bengala, colocando-a quase debaixo do nosso nariz: «Bem, se eu fosse o Papa, teria dado a vocês o sacerdócio com esse! Mas o Papa é bom... Organize-se!

Depois da ordenação - que aconteceu em San Giovanni in Laterano - eu, que permaneci no clero romano, fui prestar homenagem ao cardeal vigário Marchetti, que me tratou com muito paternalismo e, entre outras coisas, me perguntou: «Durante o período espiritual exercícios você fez as resoluções?”.

Felizmente não respondi de imediato, mas ia confessar "muitos", e ele imediatamente disse: "Por favor... só algumas resoluções e depois alguns erros!". Marchetti era realmente muito romano. Se eu pensar bem... Que coragem, Eminente Prompter!!! E obrigado novamente!

O vice-gerente Traglia tinha simpatia por nós, jovens. Depois da minha ordenação, naquele 12 de abril, aproximei-me e perguntei a um romano como ele como poderia ser sacerdote em Roma “com poucos erros”. Traglia olhou para mim e disse: “Seja bom e você nunca erra”. Depois de ter recebido a plenitude do sacerdócio, quis voltar ao Cardeal Traglia, que mais uma vez me impôs as mãos, para pedir conselhos, curioso para saber o que me responderia desta vez, sobre como ser bispo auxiliar em Roma. Ele, que se lembrava perfeitamente da cena de vinte anos antes, deu-me um exemplo de sabedoria romana: «Mas eu já te disse! Seja bom e nunca cometa erros...".

Como era Roma naqueles anos? Lembro-me, entre outras coisas, da imigração e do urbanismo. Muitas pessoas vieram para Roma vindas do Lácio após o desembarque dos Aliados em Nettuno. Vi muitos caminhões chegando ao bairro Alberone, na Via Appia, carregados de pessoas que literalmente não conseguiam levar nada consigo. Nós, em Alberone, fomos os primeiros subúrbios de Roma “fora da Porta San Giovanni”: demos-lhes cobertores, acolhemos alguns para dormirem no cinema por baixo da igreja.

Eles foram movidos por um medo apocalíptico da retirada dos alemães e da perseguição dos Aliados. O quartel do Borghetto Latino surgiu dentro dos limites da freguesia.

Lembro-me das aldeias. Seria interessante reescrever toda a sua história: vários deles surgiram nos arredores de Roma naqueles anos: foi o Cardeal Vigário Clemente Micara, que em 14 anos de serviço como Vigário abriu cerca de noventa paróquias! Construir tantas igrejas e casas paroquiais em catorze anos não foi possível, mas "começou" a nós, sacerdotes, a celebrar a Eucaristia em garagens, em lojas, em pré-fabricados, em porões abafados... Padres diocesanos e congregações religiosas masculinas juntos assumiram a responsabilidade pastoral destes novos bairros romanos pobres sem ter edifícios de culto, adaptando-se em apartamentos tão temporários que nada tinham a ver com reitoria... mas não havia mais. As freiras já se tinham “adaptado” a ir às aldeias, por isso quando o vicariato abriu as novas paróquias já havia freiras no local com a capela, com o oratório e o catecismo, com a creche e alguma escola primária, com um grupo de meninas e também com escolas de costura: já era uma preciosa presença cristã.

Havia muito analfabetismo. A forma de pregar hoje é diferente: não podemos e não devemos usar discursos ou vocabulário difícil, não, não... mas então fomos realmente obrigados a falar de forma simples... O Cardeal Traglia pregou frequentemente em dialeto romano, e precisamente porque muitas pessoas eram analfabetos, pelo menos de fato.

Lembro-me sempre de um rapaz que veio uma noite: «É permitido?», diz-me ele, «é porque tenho que casar...». Depois, de cabeça baixa, diz: “Não fiz a primeira comunhão”, e era um rapaz de vinte ou vinte e dois anos, “nem a confirmação, nem nunca me confessei”. Eu lhe disse: “Venha à noite e faremos um catecismo”. E ele: «Como faço isso? Não posso, eu trabalho...". «E o que você faz?». Consegui arrancar-lhe que trabalhava como operário num dos hotéis da estação Termini: todas as noites tinha que esperar o último trem, guardar as bagagens dos turistas e então estaria à minha disposição, porque ele poderia ir para casa, mas às dez da noite. “Então faça uma coisa: lave-se, jante e depois venha”, eu disse a ele. «Mas já é meia-noite!». «Tudo bem, espero por você à meia-noite!» concluiu. Então fiz algumas catequeses para ele naquela época; coitado, ele me olhou cansado e ausente. Não sei, passaram dez noites desses encontros e eu disse a ele: “Escute, até agora eu sempre falei, por que você não fala alguma coisa?”. Ele ficou sério, triste e me disse: «Eu… ouvi o que você me disse, são todas coisas lindas, mas não sou capaz de repeti-las…». Aí me veio uma dúvida, e perguntei a ele: “Quem está usando a camisa rosa hoje em dia?”, era o mês de maio, tinha a Volta à Itália de bicicleta e todos os jornais escreviam sobre isso. Ele começou a pensar seriamente e murmurou alguma coisa. «Meu primo Agostino». "Quem?? Ele usa a camisa rosa? Eu entendi: aquele menino era analfabeto. Então eu lhe disse assim, de maneira paternal: «Venha amanhã, vamos nos confessar pedindo perdão ao Senhor pelas faltas que você cometeu, depois no domingo você comungará, recebendo Jesus vivo, depois a confirmação e então você receberá casado: tudo ficará bem ordenado». O primo de Agostino foi embora feliz e me prometeu que iria à missa todos os domingos.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa: como Maria, acolhamos o convite a proteger a vida, a cuidar das vidas feridas

Santa Missa na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus (Vatican News)

O termo "nascido de uma mulher", contido na segunda leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas, guiou a homilia de Francisco na missa celebrada por ocasião da Solenidade de Maria Santíssima e Dia Mundial da Paz.

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, dia em que a Igreja celebra o Dia Mundial da Paz, o Papa presidiu à Santa Missa na Basílica de São Pedro.

No início de um novo ano, disse Francisco, é bom erguer o olhar do nosso coração para Maria. Ao se abrir a Porta Santa para iniciar o Jubileu, hoje recordamos que Maria é a porta pela qual Cristo entrou neste mundo.

O apóstolo Paulo resume este Mistério afirmando que «Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher». E a estas palavras – “nascido de uma mulher” – o Pontífice dedicou sua homilia.

O Verbo se fez carne e se revelou na fragilidade

Antes de mais, esta expressão nos remete ao Natal: o Verbo se fez carne.

“Hoje em dia, há uma tentação que fascina muitas pessoas e pode enganar também muitos cristãos: imaginar ou fabricar para nós um Deus “abstrato”, ligado a uma vaga ideia religiosa, a uma fugaz agradável emoção. Ao invés, Ele nasceu de uma mulher, tem um rosto e um nome, e chama-nos a manter uma relação com Ele. É um de nós: por isso, pode nos salvar.

A expressão nascido de uma mulher fala também da humanidade de Cristo, para nos dizer que Ele se revela na fragilidade da carne. E em toda a sua vida, Jesus confirma esta opção de Deus, da escolha da pequenez e do escondimento. “Ele nunca sucumbirá ao fascínio do poder divino para realizar grandes sinais e impor-se aos outros, como o demônio lhe tinha sugerido, mas revelará o amor de Deus na beleza da sua humanidade, habitando entre nós, partilhando a vida comum feita de trabalhos e sonhos, compadecendo-se dos sofrimentos do corpo e do espírito.”

Ao dar à luz Jesus, disse ainda o Papa, Maria nos recorda que o lugar privilegiado onde podemos encontrá-lo é, antes de mais, a nossa vida, a nossa frágil humanidade e a de quem passa por nós todos os dias.

Momento do ofertório (Vatican News)

A grandeza de Deus na pequenez da vida

Invocando-a como Mãe de Deus, afirmamos que Cristo é o Salvador do mundo, mas podemos encontrá-Lo e devemos procurá-Lo no rosto de cada ser humano.

“Confiemos, pois, a Maria, Mãe de Deus, este novo ano que começa, para que como Ela também nós aprendamos a encontrar a grandeza de Deus na pequenez da vida”, afirmou Francisco, para que aprendamos a cuidar de toda a criatura nascida de uma mulher, protegendo o dom precioso da vida.

Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus (Vatican News)

Cuidar da vida

Neste Dia Mundial da Paz, prosseguiu, todos somos chamados a acolher este convite: proteger a vida, cuidar das vidas feridas, restituir a dignidade à vida de cada ser “nascido de uma mulher” é a base fundamental para construir uma civilização de paz.

“Por isso, faço apelo a um firme compromisso de promover o respeito pela dignidade da vida humana, desde a concepção até à morte natural, para que cada pessoa possa amar a sua vida e olhar para o futuro com esperança”, exortou o Pontífice, citando sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano de 2025.

Confiemos a Maria este novo ano jubilar, acrescentou o Papa, entregando-lhe as nossas questões, preocupações, sofrimentos, alegrias e tudo o que trazemos no coração. “Confiemos-lhe o mundo inteiro, para que a esperança renasça e a paz germine finalmente em todos os povos da terra.”

Vamos aclamar Maria!

Ao concluir sua homilia, Francisco recordou que, em Éfeso, quando os bispos entraram na igreja, os fiéis, com cajados nas mãos, gritaram: “Mãe de Deus!”.

"Hoje não temos cajados, mas sim um coração de filho, uma voz. Portanto, todos juntos, vamos saudar a Santa Mãe de Deus", convidando a assembleia a repetir três a expressão “Santa Mãe de Deus”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Réveillon ou solenidade, por onde começar o ano?

925am | Shutterstock

Valdemar De Vaux - publicado em 31/12/24

É tradicional começar o ano com um réveillon festivo, com amigos. Liturgicamente, no entanto, o ano civil começa com a solenidade de “Maria, Mãe de Deus”.

Em muitos países, o dia 1º de janeiro é feriado. Nada melhor do que um dia de folga para começar um novo ano civil, dirão alguns. Nada melhor do que esse tempo para se recuperar das festividades do “réveillon da noite de 31”, dirão outros. A tradição, que tem suas origens nas festas romanas em honra de Saturno, no momento em que o sol começa a retornar, está agora bem estabelecida. Foi Carlos IX quem estabeleceu o 1º de janeiro como o começo do ano civil, data que muitos celebram alegremente a cada ano. Para a liturgia, no entanto, o primeiro dia do primeiro mês honra a Virgem Maria por meio de uma solenidade, a de “Mãe de Deus”.

“O novo ano começa sob o signo da Santa Mãe de Deus, sob o signo da Mãe. O olhar materno é o caminho para renascer e crescer”, indicava o Papa Francisco em sua homilia de 1º de janeiro de 2022. Começar o ano dessa maneira não é algo sem significado, a liturgia nos indica que cada um de nós é colocado “sob a proteção desta mulher, a Santa Mãe de Deus, que é nossa mãe”, para “que Ela nos ajude a guardar e meditar tudo, sem ter medo das provações, na jubilosa certeza de que o Senhor é fiel e sabe transformar as cruzes em ressurreições”.

Um hábito desde o Concílio de Éfeso

Honrar a Virgem Maria sob esse título, o que os cristãos fazem desde o Concílio de Éfeso em 431, que a proclamou “theotokos” (literalmente « Mãe de Deus »), é colocar todo o ano sob o signo da Encarnação, para meditar, ao longo dos meses, sobre a incrível vinda do Salvador ao nosso mundo. É aceitar a necessidade de ser guiado, especialmente por aquela que acolheu em si o Menino-Deus. É reconhecer, e os debates conciliares foram intensos a esse respeito, que Deus é capaz de confiar a uma criatura a maior das graças, prefigurando o dom perpétuo — e imerecido — da graça para cada um.

“Invoquemo-La, também hoje, como fez o Povo de Deus em Éfeso”, disse o Papa Francisco na mesma homilia. E para iniciar este ano que vem “ponhamo-nos todos de pé, fixemos o olhar em Nossa Senhora e, como fez o povo de Deus em Éfeso repitamos três vezes o seu título de Mãe de Deus. Todos juntos: Santa Mãe de Deus, Santa Mãe de Deus, Santa Mãe de Deus!”

Fonte: https://pt.aleteia.org/2024/12/31/reveillon-ou-solenidade-por-onde-comecar-o-ano

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF