ANO JUBILAR: ALÉM DA PORTA SANTA, ABRIR OUTRAS PORTAS
Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo eleito de Macapá (AP)
Um dos símbolos mais significativos do ano jubilar é a
“Porta Santa”. Neste Jubileu de 2025, por desejo do Papa Francisco, as
Portas Santas foram abertas apenas em Roma nas seguintes basílicas: São Pedro,
São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Fora dos Muros. Uma exceção
foi a abertura de uma Porta Santa no complexo penitenciário de Rebibbia, em
Roma. O Papa Francisco no dia da sua abertura, fez questão de enfatizar o
sentido dela: estimular o respeito pela dignidade humana, fomentar a promoção da
justiça, sensibilizar para a necessidade da conversão. As “Portas Santas”
marcam o início e a conclusão do ano Santo. Mas, para melhor compreendermos o
significado delas, é necessário ir além da porta material dos santuários.
Aprofundando o sentido da “porta santa” tomaremos
consciência de que ela não está simplesmente em Roma, mas em todos os lugares,
em todas as instituições, povos e nações; pode estar em todas as famílias,
comunidades, grupos ou em cada pessoa. A porta é uma estrutura o que nos
possibilita o acesso ou a saída de um ambiente! A Porta Santa é um convite para
a entrada numa experiência mais intensa de Deus e de fraternidade. A porta nos
fala de entrada, de decisão, de compromisso; a porta é lugar de abertura, passagem,
movimento, de acolhida e de despedida! Portanto, a abertura da Porta Santa
significa um convite a fazermos uma experiência de encontro com Aquele que
habita os santuários, mas sobretudo, vive em nós, que é Deus.
Jesus disse: “Eu sou a porta. Quem entra por mim, será
salvo. Entrará, e sairá, e encontrará pastagem” (Jo 10,9). Ele é o único
Salvador e não há outra porta para a Salvação: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). São Pedro declarou: “Não
existe salvação em nenhum outro, pois debaixo do céu não existe outro nome dado
aos homens, pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12). A abertura da “Porta
Santa” significa o convite para o encontro com Jesus Cristo, o Senhor, que nos
educa para o Amor. Não adianta passar pela porta santa de um santuário se a
porta do coração e da mente continuarem trancadas.
O autêntico e eterno Bom Pastor, Jesus Cristo, nos convida a
entrar no curral das suas ovelhas, a sair do isolamento, a escutar a sua voz,
seguir seus passos, deixando-nos conduzir para fora (cf. Jo 10,3), que
significa a prática do amor, da acolhida, da solidariedade, do perdão, da
misericórdia, da compaixão, da justiça, da reconciliação. Sem o acesso a essas
experiências não haverá mudança interior e nem Ano Santo!
Sendo a porta lugar de trânsito, passar pela porta santa
significa o nosso dinamismo interior de abertura, de conversão, de caminho, de
proximidade, de esforço, de movimento para a entrada no dinamismo dos valores e
das atitudes do Reino de Deus. Jesus convidou seus discípulos “a passar pela
porta estreita” (Mt 7,13), ou seja, a serem capazes de fazer esforços pela
própria salvação; pois ela é dom e responsabilidade. O amor requer esforço
pessoal e, sem ele, não haverá perdão, reconciliação e nem paz!
Enfim, da Porta Santa física dos santuários, somos chamados
a passar para o cuidado de outras portas que devemos abrir para melhorar a
qualidade da nossa vida. Abrindo a porta do coração nos predispomos para a amar
e perdoar. Abrindo a porta da inteligência para o Espírito de Deus passamos a
buscar a Sabedoria que nos leva a colocar nosso intelecto a serviço do Bem.
Abrindo a porta da memória aprendemos a reconhecer os dons de Deus e a ser
gratos com todos e nos exercitando na gratuidade. Abrindo as portas das mãos
seremos capazes de doação pessoal, partilhar e sermos voluntários.
Escancarando a porta da esperança jamais seremos refém do pessimismo, do medo,
do derrotismo e viveremos sempre com otimismo e alegria.
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