Atitude pastoral diante do enfermo com depressão
02 de dezembro de 2024
A depressão patológica ou simplesmente existencial constitui
uma experiência que acompanha o homem desde as civilizações mais antigas. Se
antes tratava-se de um fenômeno esporádico, tornou-se, com o passar do tempo,
uma autêntica epidemia, talvez por causa da cultura da falta de sentido e da
morte que se dá no pensamento pós-moderno. A depressão não tem só um aspecto
médico psíquico, mas também social pelas repercussões da doença no entorno do
enfermo.
O sacerdote que encontra um enfermo com depressão, em seu
ministério pastoral, deve levar em conta que deve, antes de tudo, dar-lhe
consolo e esperança. Muitas vezes deve procurar ajudar o doente a encontrar
sentido em sua vida, pois em bastantes ocasiões – em maior ou menor graus,
segundo a gravidade da doença – o enfermo o perdeu. Igualmente lhe ajudará a
retirar de si, se é o caso, o sentido de culpa diante da enfermidade: o enfermo
deve reconhecê-la como ela é, uma doença, e portanto, não é responsável por
ela.
Se, dentre as pessoas que procuram o sacerdote em busca de
ajuda espiritual, chegam pessoas que manifestam sintomas de depressão, o
sacerdote deve levar em conta que sua missão é espiritual, e não médica.
Por isso, não pode pretender substituir o profissional da psiquiatria, e seus
conselhos devem centrar-se na vida espiritual da pessoa. Convêm, no entanto,
conhecer os sintomas da depressão.
A Associação Americana de Psiquiatria afirma que os seguintes
sintomas, quando têm duração de mais de duas semanas, podem conduzir a uma
depressão ou referir-se já a uma pessoa em depressão:
- Mudança
de apetite, ou sua perda e a correspondente perda de peso, ou aumento
de apetite e de peso.
- Insônia ou
excesso de sono e cansaço permanente.
- Falta
de energia.
- Perda
de interesse ou prazer pelas atividades que normalmente agradam a
pessoa afetada.
- Sentimento
de pouco valor pessoal, peso na consciência ou sentimento de
culpa.
- Diminuição
da capacidade de concentração e perturbação de outras
atividades mentais.
- Pensamentos
recorrentes de morte e pensamentos suicidas.
O estado de ânimo triste é um mal-estar psicológico
frequente, mas sentir-se triste ou deprimido não é o suficiente para afirmar
que alguém padece de depressão. Isto pode indicar um sinal, um sintoma, uma
síndrome, um estado emocional, uma reação ou uma entidade clínica bem definida.
Por isto é importante diferenciar entre a depressão como doença e os
sentimentos de infelicidade, abatimento ou desânimo, que são reações habituais
diante de acontecimentos ou situações pessoais difíceis. Numa resposta afetiva normal
nos encontramos com sentimentos transitórios de tristeza e desilusão comuns
na vida diária. Essa tristeza, que denominamos normal, caracteriza-se por ser
adequada e proporcional ao estímulo que a origina, ter uma duração breve, e não
afetar especialmente a esfera somática, ao rendimento professional ou as
atividades de relação.
Segundo Salvador Cervera, professor de psiquiatria da
Universidade de Navarra, “na depressão como estado patológico perde-se
a satisfação de viver, a capacidade de atuar e a esperança de recuperar o
bem-estar. É acompanhada de manifestações clínicas na esfera do estado de ânimo
(tristeza, perda de interesse, apatia, falta de sentido de esperança), do
pensamento (capacidade de concentração diminuída, indecisão, pessimismo, desejo
de morte etc.), da atividade psicomotora (inibição, lentidão, falta de
comunicação ou inquietude, impaciência e hiperatividade) e das manifestações
somáticas (insônia, alterações de apetite e peso corporal, diminuição do desejo
sexual, perda de energia, cansaço etc.). Este conjunto de sintomas põem de
manifesto que nos encontramos diante de um estado patológico específico,
claramente distinto da tristeza normal e que adquire formas e intensidades bem
definidas. Neste sentido, estabeleceram-se diversas formas clínicas de
depressão internacionalmente aceitas, que de menor à maior intensidade são: 1.
Reação depressiva; 2. Transtorno depressivo maior; 3. Distimia; 4. Transtorno
bipolar; 5. Transtorno depressivo orgânico; 6. Depressão melancólica; 7.
Depressão psicótica. Cada uma delas com rasgos diferenciais clínicos bem
estabelecidos.”
Atitude pastoral do sacerdote diante do enfermo com
depressão
O Papa João Paulo II, no discurso aos participantes na
Conferência Internacional sobre a depressão, em 14 de novembro de 2003, indicou
que “a depressão é sempre uma provação espiritual. O papel de quem
atende a uma pessoa deprimida sem uma função especificamente terapêutica
consiste sobretudo em ajudá-la a recuperar a própria estima, a
confiança em suas capacidades, o interesse pelo futuro, a vontade de viver.
Por isso, é importante estender a mão aos enfermos, fazê-los perceber a ternura
de Deus, integrá-los numa comunidade de fé e de vida na qual se sintam
acolhidos, compreendidos, sustentados, numa palavra, dignos de amar e de serem
amados.”
No cuidado pastoral dessa pessoa deve estar sempre presente
a companhia e a eficácia da graça da adoção divina. Em Cristo, fomos
reconciliados com o Pai (cfr. Rm 5, 10). Deus nos recebe e nos ama como somos:
remidos por Jesus Cristo e presenteados com a presença e a graça do Espírito
Santo. O sacerdote, nos casos de enfermos com depressão, deve esmerar-se em
dar-lhe atenção. O primeiro conselho para o sacerdote refere-se à paciência
que deve mostrar: muitas vezes essas pessoas requerem bastante atenção por
parte do sacerdote. Procure, nestes casos, atendê-lo com amabilidade, ainda que
nos casos mais agudos pode fazer-lhe compreender, com delicadeza, que há mais
gente esperando o sacerdote. Em qualquer caso, o sacerdote deve precaver-se
para dedicar-lhe mais tempo que o habitual.
O segundo conselho é a compreensão: quem padece
depressão, sofre verdadeiramente, e, às vezes, bastante. E, muitas vezes, parte
de seu sofrimento consiste na impossibilidade de demonstrar seu sofrimento,
pois – ao não ser uma doença física – não tem sintomas mesuráveis: não se pode
medir, como sim se pode medir a febre ou a profundidade de uma ferida. Parte de
seu sofrimento, pois, consiste em que, por vezes, aqueles que convivem com ele
não lhe compreendem ou não acreditam em seu sofrimento. Portanto, o sacerdote
não porá nunca em dúvida seu sofrimento nem diminuirá sua importância. Pode,
isso sim, dar-lhe argumentos sobrenaturais e ajudá-lo a levá-lo por amor de
Deus.
Também é prudente, desde as primeiras vezes que se vejam,
que o sacerdote comprove se ele vai ao médico: se o sacerdote
pensa que ele deveria ir ao médico e não o faz, talvez devesse aconselhá-lo que
vá. Se ele vai regularmente ao médico, o sacerdote deve levar em conta os
conselhos dos profissionais da psiquiatria. Neste caso, pode pedir ao enfermo,
dentro do âmbito da direção espiritual, que siga os conselhos do médico, ainda
que lhe resultem difíceis. De todas as maneiras, impõe-se a prudência na hora
de valorizar os conselhos dos médicos: um médico, para tratar a depressão, não
deve dar conselhos ilícitos ou contrários à moral. Se fosse o caso, o sacerdote
deverá desaconselhar que cumpra esses conselhos, e procurará orientar o enfermo
a outro médico que tenha reto critério moral.
Também é recomendável fazê-lo valorizar o sentido do
sofrimento como parte do plano previsto por Deus para a salvação.
Fazer-lhe ver que seu sofrimento, se o oferece a Deus, tem valor. Muitas vezes,
dar ao enfermo intenções concretas pelas quais oferecer seu sofrimento lhe
ajuda: pelo Papa, pela Igreja, por necessidades locais ou pessoais e
familiares. Quem acompanha espiritualmente o enfermo com depressão, pode
sugerir-lhe que se una ao sofrimento do Senhor na Cruz, não ao sofrimento
físico, mas às palavras que o Senhor pronunciou: “Meu Deus, meu Deus,
por quê me abandonaste?”
O enfermo com depressão com certeza é capaz de levar
uma profunda vida interior. Certamente a profundidade de sua vida interior
não será quantitativa, mas qualitativa. Deve-se valorizar o esforço do paciente
por levar uma vida interior, sem compará-lo com a de uma pessoa saudável.
Normalmente qualquer atividade lhe custa muito mais esforço que a uma pessoa
sadia. Mas – ainda quando sua vida interior seja quantitativamente inferior –
um enfermo com depressão não deve renunciar a ter vida de oração, e a tudo o
que leva consigo uma autêntica vida interior. Ainda mais, sua vida de relação
com Deus pode supor um consolo e uma referência clara para ele, e muitas vezes
lhe ajudará a superar mais rapidamente a depressão.
O sacerdote, por outro lado, deve prestar atenção à família
do enfermo, para ajudá-los também a eles que saibam ver a vontade de Deus no
fato de que em sua família há um doente.
Escrito por Pedro María Reyes Vizcaín
Publicado originalmente em Vida
Sacerdotal.
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