ESPERANÇA
Dom Geraldo dos Reis Maia
Bispo de Araçuaí (MG)
Neste Ano Santo da Graça, caminhamos com a fecunda
consciência com a qual o querido Papa Francisco nos brindou: somos “Peregrinos
de esperança”, acreditando que “a esperança não decepciona” (Rm 5,5), como nos
são indicados tema e lema escolhidos para o Jubileu 2025.
Mas o que é mesmo a esperança? Em sentido concreto é o “ato
de esperar aquilo que se deseja”, explica o dicionário. “Expectativa na
aquisição de um bem que se deseja. É a segunda das três virtudes teologais,
simbolizada por uma âncora ou pela cor verde” (Michaelis). Numa perspectiva
subjetiva, esperança é entendida como “sentimento de quem vê como possível a
realização daquilo que deseja; confiança em coisa boa; aquilo ou aquele de que
se espera algo, em que se deposita a expectativa” (Houaiss).
A esperança nossa de cada dia foi cantada em verso e prosa
pela nossa rica música popular brasileira. A inesquecível voz de Elis Regina
imortalizou a sua teimosia: “A esperança dança/ Na corda bamba de sombrinha/
(…) A esperança equilibrista/ Sabe que o show de todo artista/ Tem que
continuar” (O bêbado e o equilibrista, Aldir Blanc/ João Bosco). Trata-se de um
tema que descortina o horizonte: “Amanhã/ Está toda a esperança/ Por menor que
pareça/ Existe e é pra vicejar” (Amanhã, Guilherme Arantes). E se faz
persistente: “Quando não houver esperança/ Quando não restar nem ilusão/ Ainda
há de haver esperança/ Em cada um de nós” (Enquanto houver sol, Titãs).
Outras canções, mesmo sem citar o termo “esperança”, cantam
o “esperançar”. Assim ilustrou Chico Buarque, em tempos de ditadura: “Apesar de
você/ Amanhã há de ser/ Outro dia” (Apesar de você). Também foi cantada a
dinamicidade da esperança: “Sei que nada será como está/ Amanhã ou depois de
amanhã/ Resistindo na boca da noite um gosto de Sol” (Nada será como antes,
Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos). Esperança é tema que ilustra o recorrente:
“O Sol já nasceu na estrada nova/ E mesmo que eu impeça, ele vai brilhar”
(Estrada Nova, Oswaldo Montenegro/ Mogol).
Mais do que esperança, Paulo Freire falou do esperançar: “É
preciso ter esperança, mas esperança do verbo esperançar; porque tem gente que
tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é
espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é
construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é
juntar-se com outros para fazer de outro modo” (Pedagogia da esperança, 1992,
p. 110-111). Nessa perspectiva, Juvenal Arduini nos garante: “Ainda há
esperança porque a história não terminou” (Destinação antropológica, 1989, p.
177).
Já no primeiro documento do seu pontificado, o Papa
Francisco nos alertava: “Não deixemos que nos roubem a esperança! ” (EG, 86). O
próprio Papa Francisco nos explica o significado desta palavra que lhe é tão
especial, talvez até mesmo uma das marcas de seu rico pontificado, ao lado da
palavra alegria.
Segundo o Papa, esperança “é a mais humilde das três
virtudes teologais, porque fica escondida. A esperança é um risco, uma virtude,
não é uma ilusão” (Meditação, 29/10/2015). “É uma virtude que nunca decepciona:
se nela esperares, nunca serás desiludido”; é uma virtude concreta, “de todos
os dias porque é um encontro com Jesus Cristo” (Meditação, 23/10/2018).
A esperança é o ar que se respira. Perder a esperança é como
parar de respirar, perde-se a vida. É como lançar uma âncora na outra margem e
agarrar-se à corda. É viver voltados para a revelação do Senhor (cf.
Meditações, 29/10/2019). “A esperança – afirma Francisco – faz-nos entrar na
escuridão de um futuro incerto, para caminhar na luz. É bela a virtude da
esperança; dá-nos tanta força para caminhar na vida” (Audiência, 28/12/2016).
Como peregrinos de esperança, temos um longo caminho pela
frente! Na sua Bula de convocação para o Jubileu, o Papa Francisco nos chama a
“olhar para o futuro com esperança”. Isso significa “ter uma visão da vida
carregada de entusiasmo para transmitir” (SNC, 9). Continua o Papa: “No Ano
Jubilar, somos chamados a ser sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos
e irmãs que vivem em condições de dificuldade” (SNC, 10). E Francisco recorda
os presidiários, os doentes, os jovens, os migrantes, os idosos, especialmente
os avôs e as avós, os milhares de milhões de pobres (cf. SNC, 10-15).
O Papa lança dois apelos fortes em favor da esperança: “os
bens da terra se destinam a todos, e não a poucos privilegiados”, pensando de
maneira especial nas pessoas que são privadas de água e de alimentos: “a fome é
uma chaga escandalosa no corpo da nossa humanidade e convida a todos a um
despertar de consciência”. O segundo apelo do Papa se refere ao perdão das
dívidas, e ele aponta a necessidade de superação da “dívida ecológica”. “Se
queremos verdadeiramente preparar no mundo o caminho da paz, precisamos nos
empenhar em superar as causas remotas das injustiças, reformular as dívidas
injustas e impagáveis e saciar os famintos” (SNC, 16).
Neste esperançar, não estamos sozinhos. Francisco nos lembra
que “Maria nos ensina a virtude da esperança; até quando tudo parece sem
sentido, ela permanece sempre confiante no mistério de Deus, até quando Ele
parece desaparecer por culpa do mal do mundo. Que nos momentos de dificuldade,
Maria, a Mãe que Jesus ofereceu a todos nós, possa sempre amparar os nossos
passos e dizer ao nosso coração: ‘Levanta-te! Olha em frente, olha para o
horizonte’, porque Ela é Mãe de esperança” (Catequese, 03/05/2017).
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