25 DE JANEIRO – CONVERSÃO DE SÃO PAULO
(Século I)
Com sua conversão – que a Igreja latina, desde o século VI,
comemora conjuntamente com a festa litúrgica deste dia – são Paulo recebeu
diretamente de Cristo a missão de evangelizar os povos. O milagroso evento teve
profunda repercussão na história da Igreja. Um de seus mais ativos
perseguidores tornou-se o mais zeloso e incansável missionário.
‘Não sou digno de ser chamado apóstolo’, escreve sobre si
mesmo, recordando à primeira comunidade cristã os tempos de hostilidade de sua
juventude. Acrescenta, em seguida, com legítima ufania: ‘mais do que qualquer
outro, lutei’.
Eis suas credenciais de apóstolo: viu Jesus ressuscitado;
pode, pois, testemunhá-lo; foi chamado e enviado para pregar o Evangelho, como
o outros apóstolos.
‘Quem és, Senhor?’: está implícita na pergunta de Saulo –
caído por terra, por causa da grande luz divina, a caminho de Damasco -, a
prova de sua boa-fé. E a resposta é igualmente repleta de significado: ‘Eu sou
Jesus, a quem tu estás perseguindo’. Foi revelada a Paulo a misteriosa verdade
do Corpo místico da Igreja. A sequência também desvenda o segredo dessa alma
generosa, intolerante àqueles que reputa traidores e hereges: ‘A ti é difícil
recalcitrar contra o aguilhão’.
Paulo, de fato, fora atingido pelo ‘aguilhão’ da graça, e
aquela profusão de luz, que o deixou momentaneamente cego, abriu-lhe os olhos
para a obra redentora de Cristo. O milagre da graça condensara naquele raio
fulgurante toda a teologia paulina – pão substancioso a ser dividido com os
irmãos, oralmente e por escrito. Cada uma das cartas dirigidas às várias
comunidades desenvolve os grandes temas dessa mensagem divina.
Em 36, Saulo estava presente quando foi lapidado o primeiro
mártir cristão, Estêvão, mas ele não tomou parte nisso, pois era ainda ‘muito
moço’, dizem os Atos dos Apóstolos. Em 62, Paulo escreve que já era ‘velho’.
Daí se pode deduzir que tenha nascido entre os anos 6 e 10 e tenha sido
decapitado em 69 – sua atividade apostólica desenvolve-se num período de vinte
anos, seis dos quais transcorridos na prisão.
Conheça mais sobre a Conversão de São Paulo Apóstolo
O apóstolo Paulo de Tarso, cujo nome original era Sha’ul
(“Saulo”) (Tarso, c. 3 – Roma, c. 66) é considerado por muitos cristãos como o
mais importante discípulo de Jesus e, depois de Jesus, a figura mais importante
no desenvolvimento do Cristianismo nascente.
Paulo de Tarso foi um apóstolo diferente dos demais, por ter
dado maior ênfase aos irmãos gentios, pois seu chamado era destinado a eles que
estavam espalhados pelo mundo (Atos 13:47). Paulo, assim como os outros
Verdadeiros Apóstolos, também teria visto Jesus Cristo (Atos 9:17, I Coríntios
15:8, dentre outros textos). Paulo era um homem culto, frequentou uma escola em
Jerusalém (a Escola de Gamaliel), tinha feito uma carreira no Templo (era
Fariseu), onde foi sacerdote. Destaca-se dos outros apóstolos pela sua cultura,
considerando-se que em sua maioria era de pescadores. A língua materna de Paulo
era o grego. É provável que também dominasse o aramaico.
Educado em duas culturas (grega e judaica), Paulo fez muito
pela difusão do Cristianismo entre os gentios e é considerado uma das
principais fontes da doutrina da Igreja. As suas Epístolas formam uma secção
fundamental do Novo Testamento. Alguns afirmam que ele foi quem verdadeiramente
transformou o cristianismo numa nova religião, e não mais uma seita do
Judaísmo.
Foi a mais destacada figura cristã a favorecer a abolição da
necessidade da circuncisão e dos estritos hábitos alimentares tradicionais
judaicos. Esta opção teve a princípio a oposição de outros líderes cristãos,
mas, em consequência desta revolução, a adoção do cristianismo pelos povos
gentios tornou-se mais viável, ao passo que os Judeus mais conservadores,
muitos deles vivendo na Europa, permaneceram fiéis à sua tradição, que não tem
um móbil missionário.
Biografia – Infância
Paulo nasceu em Tarso, na Cilícia, que atualmente pertence à
Turquia, numa família judaica da Diáspora (dispersão) (na altura já havia uma
diáspora de judeus que viviam espalhados pelo mundo, sobretudo na Pérsia, mas
também em torno do mediterrâneo, em Alexandria e no norte de África, na
Turquia, Grécia e outras partes do Império Romano, incluindo a atual Espanha).
Nasceu numa data desconhecida mas “sem dúvida antes do ano 10 da nossa era”
(Étienne Trocme). Seu pai, em circunstâncias que se desconhece, adquiriu a
cidadania romana mantendo a fé judaica, educou-o na tradição judaica. Durante
toda sua vida sua cidadania romana foi um meio de proteção física. Como ele
próprio diz, foi circuncidado ao oitavo dia e mantém-se sempre na lei mosaica.
Diz-se mesmo um Fariseu. A sua formação primária foi feita numa escola de
cultura grega, como atestam as suas cartas. Mas ele afirma que recebeu também o
ensino por parte de rabinos.
Jerusalém
Em determinada altura Paulo deve ter ido viver em Jerusalém.
As cartas dos apóstolos afirmam que ele foi aluno do rabino Gamaliel em
Jerusalém. Não há dúvida de que passou uma parte importante da juventude em
Jerusalém. Foi em Jerusalém que Paulo participou no apedrejamento daquele que
ficaria conhecido como Santo Estêvão, um líder de um grupo fervoroso dos
seguidores de Jesus, nesta época não se chamava de Cristianismo ainda a
doutrina do Cristo, mas sim de “Caminho”. Paulo foi um perseguidor destes seguidores
de Jesus, núcleo de cristãos que procuravam difundir a nova fé entre os judeus
de Jerusalém.
O argumento de Paulo na sua perseguição aos seguidores do
“Caminho” era a defesa da “tradição dos pais” e da lei mosaica, que ele via
como ameaçada pelos seguidores de Jesus. Alguns autores chegam mesmo a colocar
a hipótese de Paulo ter sido um zelote, dado o seu fervor religioso. Também o
fato de sua vida ter sido colocada em perigo após ter tomado partido pelos cristãos
leva Étienne Trocmé a dizer que isso “corresponde bem ao pouco que sabemos
sobre a organização do partido zelote”.
Em determinado momento, Paulo de Tarso saiu do mundo judaico
e foi para Atenas pregar. Os relatos contam que, na sua estada na Acrópole, ele
consegue converter Dionísio Ariopaseta.
Missão de Damasco
Saulo, fervoroso defensor da tradição judaica (e por isso
talvez mesmo um zelote), foi enviado a Damasco para fazer face à agitação dos
seguidores do “Caminho”.
Foi durante esta missão a Damasco que Saulo tomou o partido
dos cristãos que perseguia anteriormente. Foi aqui que Saulo, indo no caminho
de Damasco, já perto da cidade, viu um resplendor de luz no céu que o cercou, e
caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, porque me
persegues?”. (Atos 9.1-22) Saulo muda de lado. A esta mudança de partido ele
fez corresponder uma mudança de nome. Abandonou o nome Saulo e, deste momento
em diante, fez-se conhecer como Paulo.
Viagens e apostolado
Após muitos anos de atividade missionária, com três grandes
viagens apostólicas descritas na Bíblia (incluindo Grécia, Macedônia e Ásia
Menor nos itinerários), onde fundou diversas comunidades, foi preso em
Jerusalém por volta do ano 61 d.C. sob a falsa acusação de estar infiltrando
gentios no Templo de Jerusalém, o que era punido com a morte pelos judeus.
Conseguindo se desvencilhar das mãos das autoridades do templo, apelou ao
Imperador Romano, sendo enviado a Roma, onde, após um naufrágio e uma rápida parada
na Ilha de Malta, teria sido julgado e, após cerca de dois anos encarcerado,
foi libertado.
Segundo a tradição e pelo que é descrito em suas cartas,
reiniciou sua atividade missionária, sendo que, muito provavelmente, visitou a
Espanha e retornou à Ásia Menor, onde, em Trôade, foi denunciado por um
ferreiro de nome Alexandre, sendo repentinamente preso e, mais uma vez, enviado
a Roma. Lá, ficou encarcerado no Segundo Subsolo do Cárcere Marmetino.
Foi julgado e condenado à morte sob Nero que, naqueles
tempos, estava perseguindo duramente os cristãos. Em face de ser cidadão
romano, em vez de ser crucificado, Paulo teria sido decapitado em 67 d.C. em um
lugar conhecido como Águas Salvias. Seu túmulo encontra-se na Basílica de São
Paulo Extra-Muros, na Via Ostiense, local tradicionalmente aceito como sendo de
seu martírio.
Aspecto físico
Não temos qualquer relato confiável do aspecto físico de
Paulo. Os únicos relatos que possuímos são dos finais do século II e não são
mais do que a projeção dos ideais estéticos a uma figura lendária. Dizia-se que
Paulo era manco de uma perna, tinha problemas de vista e era calvo, tinha
aproximadamente 1,50 metros de altura. Há indícios de que Paulo tinha problemas
de saúde, padecendo de uma doença crónica e dolorosa, da qual ignoramos a
natureza, mas que lhe terá sido um obstáculo à sua atividade normal. Por volta
dos anos 58-60 ele descrevia-se a si próprio como um velho.
Paulo escreveu várias epístolas para as comunidades que
visitara, pregando e ensinando as máximas cristãs. As cartas relacionadas a
seguir (conhecidas como Corpus Paulinum) são aquelas que, tradicionalmente, são
atribuídas a Paulo:
• Romanos
• I Coríntios
• II Coríntios
• Gálatas
• Efésios
• Filipenses
• Colossenses
• I Tessalonicenses
• II Tessalonicenses
• I Timóteo
• II Timóteo
• Tito
• Filémon
• Hebreus, anônima, mas tradicionalmente atribuída a Paulo.
Bibliografia:
• Étienne Trocmé, “L’enfance du christianisme”, Edit.
Hachette, 1999
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