"Para proclamar o Evangelho, não podemos ficar parados
num só lugar. Temos que ser peregrinos e peregrinos de esperança que não
esmorece, que não decepciona. Jesus sempre está a caminho e caminha até em cima
do perigo das águas volumosas, caminha sobre o mar, símbolo nas Sagradas
Escrituras da morte. Caminhar sobre as águas é vencer o dilúvio e o mar
vermelho que produziram a morte de muitos."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Estamos vivendo o Ano Jubilar, no qual somos convidados a
ser “Peregrinos de Esperança”. E o peregrino – como recentemente
recordou o Papa - não é apenas aquele que caminha, mas aquele que tem
uma meta, e essa meta é Jesus Cristo, que nos permite entrar na vida nova,
livres da escravidão do pecado”.
Sim, Jesus é a meta, e neste caminho, “não estamos
sozinhos”, pois é o próprio Jesus que “caminha ao nosso lado”, que nos
acompanha, “porque quer encontrar-nos”. “É por isso que dizemos que o núcleo do
cristianismo é um encontro: o encontro com Jesus”, disse Francisco em uma homilia
na Casa Santa Marta, recordando que “há uma antiga regra de peregrinação,
que diz que o verdadeiro peregrino deve ir ao ritmo da pessoa mais lenta. E
Jesus é capaz disto, faz isto, não acelera, espera que demos o primeiro passo.”
Na reflexão “Jesus é um Peregrino de Esperança”, Pe.
Gerson Schmidt* nos traz a dimensão do peregrinar de Jesus:
"O Ano Jubilar tem como tema “Peregrinos
de Esperança”. Somos todos peregrinos e a esperança nos anima a continuar
no caminho, rumo à eternidade. Maria mesma “é caminho, caminho que conduz a
Cristo, caminho que conduz «ao Caminho»”87. Jesus mesmo disse no Evangelho
joanino: “Eu sou O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA” (Jo 14,6). Ele sempre se põe a
caminho e se declara ser Ele mesmo o caminho.
No Catecismo
da Igreja Católica, no número 583, diz que Jesus subia ao templo todos os
anos, ao menos pela Páscoa, durante a vida oculta. O seu próprio ministério
público foi ritmado pelas peregrinações a Jerusalém nas grandes festas judaicas
(Cf. Jo 2,13-14;5,1.14;7,1.10.14;8,2;10,22-23). Encontramos isso em diversos
textos do Evangelho de São João.
Na narrativa dos evangelhos uma das caraterísticas de Jesus
nitidamente perceptíveis é o seu estar «a caminho». Ele nasce na viagem, como
recém-nascido tem de viajar para se refugiar num país estrangeiro, durante a
sua vida pública desloca-se a um ritmo permanente, de aldeia em aldeia, de
cidade em cidade, dos lugares desertos para as praças, de casa para a sinagoga,
da estrada para o campo, da beira-mar para a montanha: quando se aproxima «a
hora de passar deste mundo para o Pai» (Jo 13,1), toma a firme decisão de se
pôr a caminho de Jerusalém» (Lc 9,51). Jesus sempre está a caminho e precisa
pregar o Evangelho em toda a parte, como pediu depois aos discípulos que o
fizessem. “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc
16,15). Para proclamar o Evangelho, não podemos ficar parados num só lugar.
Temos que ser peregrinos e peregrinos de esperança que não esmorece, que não
decepciona. Jesus sempre está a caminho e caminha até em cima do perigo
das águas volumosas, caminha sobre o mar, símbolo nas Sagradas Escrituras da
morte. Caminhar sobre as águas é vencer o dilúvio e o mar vermelho que
produziram a morte de muitos.
Uma enchente avassaladora, como a que aconteceu em maio de
2024 no sul do Brasil, é sinônimo de tragédia e devastação. Diante de tantas
mortes e descaminhos, da guerra e da perseguição, a Igreja nos convida no Ano
Jubilar da encarnação do Verbo Divino a sermos “peregrinos de Esperança”. Como
Jesus peregrino, também nós devemos peregrinar. Não somente peregrinar para um
lugar sagrado para lucrar a Indulgência Plenária oferecida nesse ano, mas a
peregrinar no anúncio da Boa Nova e de promoção social. o Jubileu busca
reacender a fé em um mundo desafiado por conflitos e desigualdades. A
celebração do Ano Jubilar inclui peregrinações, momentos de oração e ações
concretas de solidariedade, como apoio a presos, doentes, jovens e
marginalizados. Além disso, o Papa convoca a Igreja a ser sinal de esperança,
promovendo a paz, a unidade entre cristãos, especialmente na celebração comum
da Páscoa e a justiça social.
Jesus foi peregrino até a morte, peregrinando rumo ao
calvário. Jesus morre fora de casa, a terminar uma via-crúcis. Ele mesmo é «o
caminho» (Jo 14,6). Com um «segue-Me» envolve muitos a pôr-se a caminho
juntamente com Ele: mesmo depois da sua morte, os seus discípulos são
conhecidos como «os da via», de um grupo que chamavam “O Caminho” (At 9,2).
Pedro captou bem a identidade do Mestre quando o anuncia com esta frase
sintética: «Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o
qual andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos» (At 10,38). A
imagem que fascinou os primeiros convertidos ao Cristianismo é a de Jesus que
caminha conduzido pelo Espírito e fazendo bem por onde passa.
A Bíblia é um livro cheio de caminhos e de viagens, a
história entre Deus e a humanidade é um entrelaçado dinâmico entre sair e
chegar, ir e vir, partir e voltar, entre êxodo e advento. O Salmo 121 diz que
“Deus abençoe tua partida e tua chegada” (Sl 121,8). O caminhar de Maria
insere-se neste movimento, neste sistema de encontro divino-humano, sempre
aberto ao imprevisto, à surpresa e à novidade, mas sempre guiado pelo sopro do
Espírito. A sua mãe assemelha-se a Cristo nisto. A imagem de Maria a caminho emerge
com nitidez nos evangelhos. Da Galileia à Judeia faz o mesmo percurso que mais
tarde Jesus fará. Caminhando apressadamente pelos montes, ela evoca o célebre
texto profético: «Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que
apregoa a boa-nova…» (Is 52,7).
Que a peregrinação a um templo possa ser uma grande
motivação para o Ano Jubilar, mobilizando nossas caravanas, nossas comunidades
para um tempo novo de Igreja, um “caminhar juntos”, na sinodalidade e, como
Jesus e Maria, um peregrinar constante na fé."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro
de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em
Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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