KIKO ARGÜELLO RECEBE A MEDALHA “PER ARTEM AD DEUM”
3 de dezembro de 2024
Em um ato simples e emocionante, no domingo, 1º de dezembro
de 2024, na igreja do Seminário Redemptoris Mater de Roma, Kiko Argüello,
iniciador do Caminho Neocatecumenal junto com Carmen Hernández, recebeu a
medalha “Per Artem ad Deum” por sua contribuição à arte sacra.
O prêmio é concedido anualmente pela Associação SacroExpo a
artistas ou instituições cujos feitos artísticos contribuem para o
desenvolvimento da cultura e da espiritualidade humana. Conta com a
particularidade de ser o único prêmio patrocinado pelo Dicastério para a
Cultura e a Educação.
Vídeo do ato de
entrega do prêmio
“Nova estética na
Igreja”, Kiko Argüello
Muito bem, muito bem! Posso dizer uma palavra?
Agradeço ao Cardeal Ryś e ao Mons. Arrieta por sua presença.
Agradeço à associação ARTESACRA por esta medalha “PER ARTEM AD DEUM”, que para
mim foi uma surpresa inesperada.
Quando tinha 20 anos, recebi o prêmio nacional
extraordinário de pintura na Espanha. Pouco tempo depois, abandonei minha
carreira como pintor para encontrar Cristo no meio dos pobres. E o Senhor me
recompensou com o cêntuplo, pois um dia fui chamado para pintar o ábside e os
vitrais da catedral de Madri.
O Senhor fez algo impressionante comigo e com Carmen. Porque o mais importante de toda a minha obra artística foi abrir um Caminho de Iniciação Cristã em toda a Igreja, que está ajudando tantas famílias e tantos jovens. Isso, sim, é uma verdadeira obra de arte!
Todos conhecem a famosa frase de Dostoiévski no livro O
Idiota: “A beleza salvará o mundo”. O príncipe a pronuncia e, em seguida, diz
que essa beleza é Cristo. Temos visto a obra em que Deus nos envolveu com o
Caminho de Iniciação Cristã, e estamos completamente impressionados… O Senhor
nos levou a encontrar uma estética, imagens e uma maneira de expressar a fé com
um novo tipo de realização, inclusive da própria Igreja.
A beleza salvará o mundo. Qual beleza? Hoje, a beleza é
importantíssima, porque estamos em um mundo em que o culto a beleza, ao corpo é
muito importante. A beleza é necessária porque sem ela o homem cai no
desespero. São João Paulo II já havia dito que a falta de beleza conduz à falta
de esperança, ao desespero e a um grande número de suicídios entre os jovens.
A beleza, como estudada na filosofia, é um dos
transcendentais do ser, junto com a verdade e a bondade. Gostaria de relacionar
a beleza com o prazer e com a emoção estética. Vou dar a vocês uma pincelada
sobre a beleza.
Se você abrir as Escrituras, verá algo surpreendente. No
livro do Eclesiástico, capítulo 42, está escrito: “Deus fez todas as coisas de
duas em duas, uma diante da outra, e nada criou que seja ruim. Cada coisa
manifesta a excelência da que está ao seu lado”. Diz que tudo o que Deus criou
exalta a excelência do que está ao seu lado. Este é o princípio da beleza. A
relação entre uma coisa e a que está ao lado. Por isso, dizemos que o conteúdo
mais profundo da beleza é o amor. Por exemplo, em uma paisagem: a suavidade do
céu azul canta a beleza das nuvens cinzas ou brancas; a rugosidade das árvores
canta a dureza das rochas; o rio abaixo canta a beleza da praia próxima. Tudo
canta a beleza do que está ao seu lado.
Em que relação? Este é o ponto. Se a relação de amor é
justa, se o que está ao lado canta bem, então a beleza aparece imediatamente.
Poderíamos fazer uma conferência longuíssima e belíssima sobre isso, mas quero
falar de Jesus Cristo, porque tudo isso está ligado a Jesus Cristo. Porque
Dostoiévski diz que a beleza é Cristo, em que sentido? A beleza sempre produz
uma emoção estética, ou seja, prazer. Beleza e prazer, como se Deus quisesse
demonstrar, por meio da beleza, que nos ama, que nos quer bem; por isso tudo é
belo.
Os judeus falam muito de beleza. Deus criou o homem. Criou
Adão e Eva. Sabe-se que Adão deu nomes aos animais, demonstrando seu
conhecimento, mas não encontrou uma ajuda que lhe fosse semelhante. Então, Deus
tomou uma costela e construiu uma mulher. Os judeus dizem que a palavra
‘construir’ já é uma palavra artística, para criar arte. Toda a tradição diz
que não houve mulher mais bela que a primeira Eva. Adão, quando a viu, ficou
impressionado: ‘Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne. Ela será
chamada iššah, porque foi tirada do homem’. Iššah, em hebraico,‘varoa’ (mulher)
em espanhol.
Quando Moisés conduz o povo ao Monte Sinai, Deus aparece e
diz: “Adonai Elohenu, Adonai Ehad, Eu sou o único” e “amarás o Senhor teu Deus
com todo o teu coração”. Deus aparece como um esposo. Deus é amor. Dizem que
Moisés apresenta a Deus a assembleia, assim como Deus apresentou Eva a Adão.
Porque será a esposa de Deus. O profeta Oséias falará do esposo de Israel e
fará um paralelo entre o Gênesis e esse momento da aliança. Mas, atenção,
enquanto a primeira Eva aparece toda belíssima, Israel vem do Egito, vem da
idolatria, onde estiveram em escravidão e estão cheios de discórdia, cheios de
coxos, de cegos. Porque os ídolos te escravizam; era um povo de escravos. Deus,
dizem os rabinos, transforma esse povo, essa assembleia, diz que não há coxos,
porque todos caminhavam; não havia mais surdos, pois todos ouviam a palavra, e
o povo de Israel acampou, no singular, não no plural: não que eles acamparam,
mas que acampou. Isso significa que eles se tornaram um. Deus não podia dar a
Torá a um povo de escravos, constrói uma assembleia profética que anuncia os
novos tempos messiânicos.
Este tema da beleza da assembleia de Israel será
desenvolvido ao longo do rabinismo através de muitos midrash. Cristo conhecia
esses midrash. Quando os discípulos de João se aproximam de nosso Senhor Jesus,
perguntam: “És tu o Messias ou devemos esperar outro?”, ouçam o que Cristo
responde: “Dizei a João: os cegos veem, os coxos andam, os surdos ouvem”. Por
que Ele diz isso? Porque já se esperava o Messias como aquele que organizaria
não apenas o povo de Israel, mas a nova humanidade. Uma nova humanidade.
O mesmo que Cristo fez conosco! Ele nos fez escutar sua
palavra, abriu nossos ouvidos. Abriu nossos olhos, como fez com o cego. Cristo
fez com sua saliva um pouco de barro e o aplicou sobre os olhos do cego. E o
cego viu o amor de Deus, que lhe devolveu a vista. O mesmo que Ele fez conosco
por meio da iniciação cristã. A palavra de Deus, que é como a saliva, ilumina
profeticamente nossa pobreza, nossos pecados. Faz barro e o coloca diante de
nossos olhos. Ele coloca nossos pecados diante de nós com esse barro. E depois
nos diz: ‘Lava-te’. O mais difícil é se considerar pecador, isso não acontece
sem a saliva, a palavra de Cristo. E todos os nossos pecados foram perdoados.
Agora já não somos escravos. Vimos o amor por nós, pecadores.
Efetivamente: os cegos veem, os surdos ouvem, os coxos
andam, caminham ajudando o próximo, os leprosos ficam limpos. Cristo chegou, é
o sinal de que o salvador do mundo chegou, aquele que faz de nós uma nova criação.
Há uma primeira criação, e Israel concebe a aliança como uma nova criação. Vem
o Messias que realiza conosco uma nova aliança, uma nova criação.
Esta nova criação é descrita no Apocalipse, quando se fala
da nova Jerusalém que desce do céu. E fala-se da beleza. Toda resplandecente
como uma noiva, como uma esposa. A beleza! É importantíssima. Hoje estamos em
uma época em que se fala de globalização. Há uma imagem do mundo que é
Babilônia, a grande prostituta do Apocalipse.
Mas, diante de Babilônia, há outra cidade: a Jerusalém
celeste, que vem do céu, vestida de branco como uma esposa, vestida de boas
obras, vestida de linho resplandecente. Há uma obra frente a Babilônia. Deus
está nos chamando para construir a beleza de Cristo. É o corpo de Cristo que
salvará o mundo. A beleza de Cristo. E qual é essa beleza? A nova Jerusalém:
todos se tornaram belos porque Cristo os revestiu de sua santidade, e aparece a
comunidade cristã: a Igreja, toda resplandecente, que é o Cordeiro que vence a
besta. Essa beleza salvará o mundo. O mundo está esperando pelos cristãos.
Estão esperando ver esses homens que enxergam o amor de Deus, quando as pessoas
não veem o amor de Deus em lugar algum. Estão esperando por estes que caminham
para anunciar o Evangelho como os pobres. Estão esperando por estes que escutam
a Palavra, que se amam, que têm um só coração: “Amai-vos como eu vos amei; por
esse amor saberão que sois meus discípulos”. Aparece uma beleza que é Cristo.
Na tradição da Igreja, há um jardim no Éden, e também um
segundo jardim no Monte Sinai, onde o cume aparece como uma árvore que dá
fruto, que é a Torá, mas há um terceiro jardim. Existem o jardim do Éden e o
jardim do Apocalipse, onde aparece a nova Jerusalém, onde há uma árvore da vida
que dá frutos eternos. Porém, há um quarto jardim: o Gólgota. Ali está o horto
onde Cristo foi crucificado. Nesse jardim, há um sepulcro, há um ressuscitado,
há um novo jardineiro, que é Cristo, o novo Adão. Há uma mulher que vem da
prostituição, chamada Maria Madalena, e quando o vê, ela diz: “Rabbuní!” Ela
vai abraçá-lo, mas Cristo lhe diz: “Noli me tangere!”, “Não me toques, porque
ainda não subi ao Pai”. Esse texto: ‘Não me toques!’ é importantíssimo, porque
está relacionado com a nova Jerusalém. “Vai e anuncia que subo ao Pai, meu Pai
e vosso Pai; meu Deus e vosso Deus.” Ele lhe dá o anúncio do Kerygma, vai
realizar uma obra imensa. Cristo toma a natureza humana e a leva à Santíssima
Trindade.
São Paulo diz que na criação há um espelho, uma epifania do
amor de Deus para conosco, através da beleza. Há algo na natureza que te
impressiona, está a sua beleza, há uma espécie de mansidão, como uma
obediência. O que é o homem? É um devir, é um projeto, é um prodígio. O homem!
O homem é um prodígio. Somos um projeto em constante realização, ou seja, em
constante precariedade. Não temos o direito de tirar do homem a possibilidade
de realizar-se tal como Deus o criou, porque é um projeto em constante realização.
São Paulo, na segunda carta aos Coríntios, afirma que Cristo
morreu por todos, para que aqueles que vivem já não vivam para si mesmos, mas
para aquele que morreu e ressuscitou por eles. Esta é a visão do homem segundo
a Revelação, esta é a antropologia cristã: o homem, escravo do pecado, está
obrigado a oferecer-se todo a si mesmo, precisamente porque é escravo, perdeu a
dimensão da beleza que é o amor, o sair de si mesmo para amar o outro. A obra
da salvação consiste em arrancar o homem desta maldição, devolvendo-lhe a
beleza do amor.
Para este homem, estamos tentando criar um novo tipo de
paróquia; fazemos paróquias com uma coroa mistérica onde o céu está presente,
com os mistérios mais importantes da nossa fé. A Igreja de hoje não tem uma
estética definida… Isso nos impulsionou, de certo modo, a buscar uma estética.
Em Madri, fizemos uma paróquia com um teto dourado, pedra branca e cristal, com
um catecumenium: um conjunto de salas que se abrem para uma praça central, com
uma fonte. No andar térreo, encontram-se todos os serviços sociais e, acima, em
outro andar, estão todas as salas de cada comunidade, etc.
Estava falando sobre a beleza. Toda reforma da Igreja trouxe
consigo, inevitavelmente, uma renovação estética: pensemos no gótico, no
barroco… Não poderia ser diferente com o Concílio Vaticano II.
Bom, nós, do Caminho, queremos apresentar essa beleza, que é
a beleza do amor nesta dimensão: Cristo (apontando para a cruz). E
queremos apresentá-la em uma comunidade cristã, porque pensamos… Porque Cristo
diz: “Amai-vos, amai-vos”, mas amar quem? Os primeiros cristãos viviam em uma
pequena comunidade, todos se conheciam. A comunidade não pode ser muito grande
porque se trata de mostrar, de criar um sinal público de amor. O número de uma
comunidade é 30, 40, porque precisamos dar um testemunho concreto de amor. Deve
voltar o grito dos pagãos: “Vede como se amam”, isso gritavam ao ver os
cristãos. Porque Cristo no Evangelho diz: ‘Amai-vos, amai-vos, amai-vos’. Esta
é a beleza que salva o mundo: o amor na dimensão da cruz. Demonstra que, se nos
amamos na dimensão do inimigo, temos dentro de nós a vida eterna. Porque, de
outra maneira, é impossível nos amarmos assim, porque Deus nos deu fé dentro, e
a fé nos dá a vida eterna, a vida imortal… Temos algo dentro de nós que nos
sustenta, que nos mantém, que é a vida de Deus em nós, a vida de Cristo, sua
vitória sobre a morte em nós, concedida pelo Espírito Santo. De fato, o que
devemos proclamar é a ressurreição de Cristo presente em nós.
Queremos ser um Caminho sério, uma via séria, porque estamos
prestes a dar uma grande batalha ao mundo, ao diabo, ao grande dragão, somos a
mulher que está dando à luz ao filho varão, ameaçada pelo grande dragão, que é
o príncipe deste mundo. Os judeus diziam que no mundo sempre vence o diabo.
Interessante, vocês viram isso? O nazismo, primeiro, e o comunismo, depois,
pareciam ter conquistado tudo, tudo, nações inteiras. Entendemos por que toda a
Europa está indo hoje para a apostasia, entendemos por que há uma secularização
total. O diabo parece sempre vencer, porque Cristo, neste mundo, não tem onde
reclinar a cabeça e com Ele, os cristãos. Mas nós, com Cristo, vencemos a morte
e temos uma alegria imensa, por isso devemos anunciar e dar testemunho do amor
que Deus tem por nós, que nos deu a vida eterna dentro de nós.
Cristo diz: ‘Amem-se uns aos outros como eu os amei’. Cristo
nos amou, e neste amor os pagãos secularizados, que nos rodeiam, saberão que
sois meus discípulos. Cristo nos amou na dimensão do inimigo, ou seja, não se
opôs ao nosso mal. O Sermão da Montanha diz: “Não resistais ao mal”. ‘Amai os
vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos
perseguem’. O que é isso? O Cristianismo.
O ponto é este: o que significa ser cristão hoje, de que
devemos dar testemunho? São Paulo diz: “Levamos sempre e por todas as partes o
modo de morrer de Jesus”. O modo de morrer, ou seja, Cristo morto crucificado –
diz – “Levamos sempre e em todas as partes em nosso corpo o modo de morrer,
para que se veja em nosso corpo que Cristo está vivo”. O Concílio Vaticano II
falou da Igreja, sacramento de salvação universal… Cristo nos mostrou uma
justiça, que é a justiça do amor na dimensão da cruz.
A beleza salvará o mundo, que é Cristo que vive nos
cristãos, nas comunidades cristãs. Dissemos à Santa Sé que não queremos fazer
uma congregação, queremos levar esta mensagem à Igreja: é maravilhoso viver a
fé em uma comunidade cristã nas paróquias.
O mais belo das comunidades é que vimos a ação de Deus nos
irmãos, todos se enriquecem com o bem dos outros. Todos em todos. Há uma
riqueza comum e constante em todos. É maravilhoso ver que os cegos veem o amor
de Deus em suas vidas. Cristo venceu a morte, não olhamos para a morte com
horror, nem para a velhice, nem para a doença. E não é que sejamos muito bons,
mas que todos somos pecadores, pobres.
Na ressurreição de Jesus Cristo, Deus demonstra algo
grandioso, que este ressuscitou dos mortos e subiu ao céu; Deus o constituiu
como Kyrios. A palavra ‘kyrios’ é a palavra de Deus no Monte Sinai. Portanto,
este homem que morreu na cruz por nós é o próprio Deus.
Cristo morreu para que o homem possa sair deste círculo de
egoísmo, para que não viva mais para si mesmo, mas para aquele que morreu e
ressuscitou por ele, Cristo, a beleza divina feito homem, que se fez um de nós,
para que o homem pudesse receber a glória de Deus.
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