Translate

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

KIKO ARGÜELLO RECEBE A MEDALHA “PER ARTEM AD DEUM” (I)

Kiko Argüello, Cardeal Grzegorz Ryś e Andrzej Mochoń (neocatechumenaleiter.org)

KIKO ARGÜELLO RECEBE A MEDALHA “PER ARTEM AD DEUM”

3 de dezembro de 2024

Em um ato simples e emocionante, no domingo, 1º de dezembro de 2024, na igreja do Seminário Redemptoris Mater de Roma, Kiko Argüello, iniciador do Caminho Neocatecumenal junto com Carmen Hernández, recebeu a medalha “Per Artem ad Deum” por sua contribuição à arte sacra.

O prêmio é concedido anualmente pela Associação SacroExpo a artistas ou instituições cujos feitos artísticos contribuem para o desenvolvimento da cultura e da espiritualidade humana. Conta com a particularidade de ser o único prêmio patrocinado pelo Dicastério para a Cultura e a Educação.

Vídeo do ato de entrega do prêmio

https://youtu.be/HzAO9ZNcw34

“Nova estética na Igreja”, Kiko Argüello

Muito bem, muito bem! Posso dizer uma palavra?

Agradeço ao Cardeal Ryś e ao Mons. Arrieta por sua presença. Agradeço à associação ARTESACRA por esta medalha “PER ARTEM AD DEUM”, que para mim foi uma surpresa inesperada.

Quando tinha 20 anos, recebi o prêmio nacional extraordinário de pintura na Espanha. Pouco tempo depois, abandonei minha carreira como pintor para encontrar Cristo no meio dos pobres. E o Senhor me recompensou com o cêntuplo, pois um dia fui chamado para pintar o ábside e os vitrais da catedral de Madri.

O Senhor fez algo impressionante comigo e com Carmen. Porque o mais importante de toda a minha obra artística foi abrir um Caminho de Iniciação Cristã em toda a Igreja, que está ajudando tantas famílias e tantos jovens. Isso, sim, é uma verdadeira obra de arte!

Kiko Argüello e Andrzej Mochoń (neocatechumenaleiter.org)

Todos conhecem a famosa frase de Dostoiévski no livro O Idiota: “A beleza salvará o mundo”. O príncipe a pronuncia e, em seguida, diz que essa beleza é Cristo. Temos visto a obra em que Deus nos envolveu com o Caminho de Iniciação Cristã, e estamos completamente impressionados… O Senhor nos levou a encontrar uma estética, imagens e uma maneira de expressar a fé com um novo tipo de realização, inclusive da própria Igreja.

A beleza salvará o mundo. Qual beleza? Hoje, a beleza é importantíssima, porque estamos em um mundo em que o culto a beleza, ao corpo é muito importante. A beleza é necessária porque sem ela o homem cai no desespero. São João Paulo II já havia dito que a falta de beleza conduz à falta de esperança, ao desespero e a um grande número de suicídios entre os jovens.

A beleza, como estudada na filosofia, é um dos transcendentais do ser, junto com a verdade e a bondade. Gostaria de relacionar a beleza com o prazer e com a emoção estética. Vou dar a vocês uma pincelada sobre a beleza.

neocatechumenaleiter.org

Se você abrir as Escrituras, verá algo surpreendente. No livro do Eclesiástico, capítulo 42, está escrito: “Deus fez todas as coisas de duas em duas, uma diante da outra, e nada criou que seja ruim. Cada coisa manifesta a excelência da que está ao seu lado”. Diz que tudo o que Deus criou exalta a excelência do que está ao seu lado. Este é o princípio da beleza. A relação entre uma coisa e a que está ao lado. Por isso, dizemos que o conteúdo mais profundo da beleza é o amor. Por exemplo, em uma paisagem: a suavidade do céu azul canta a beleza das nuvens cinzas ou brancas; a rugosidade das árvores canta a dureza das rochas; o rio abaixo canta a beleza da praia próxima. Tudo canta a beleza do que está ao seu lado.

Em que relação? Este é o ponto. Se a relação de amor é justa, se o que está ao lado canta bem, então a beleza aparece imediatamente. Poderíamos fazer uma conferência longuíssima e belíssima sobre isso, mas quero falar de Jesus Cristo, porque tudo isso está ligado a Jesus Cristo. Porque Dostoiévski diz que a beleza é Cristo, em que sentido? A beleza sempre produz uma emoção estética, ou seja, prazer. Beleza e prazer, como se Deus quisesse demonstrar, por meio da beleza, que nos ama, que nos quer bem; por isso tudo é belo.

Kiko Argüello (neocatechumenaleiter.org)

Os judeus falam muito de beleza. Deus criou o homem. Criou Adão e Eva. Sabe-se que Adão deu nomes aos animais, demonstrando seu conhecimento, mas não encontrou uma ajuda que lhe fosse semelhante. Então, Deus tomou uma costela e construiu uma mulher. Os judeus dizem que a palavra ‘construir’ já é uma palavra artística, para criar arte. Toda a tradição diz que não houve mulher mais bela que a primeira Eva. Adão, quando a viu, ficou impressionado: ‘Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne. Ela será chamada iššah, porque foi tirada do homem’. Iššah, em hebraico,‘varoa’ (mulher) em espanhol.

Quando Moisés conduz o povo ao Monte Sinai, Deus aparece e diz: “Adonai Elohenu, Adonai Ehad, Eu sou o único” e “amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração”. Deus aparece como um esposo. Deus é amor. Dizem que Moisés apresenta a Deus a assembleia, assim como Deus apresentou Eva a Adão. Porque será a esposa de Deus. O profeta Oséias falará do esposo de Israel e fará um paralelo entre o Gênesis e esse momento da aliança. Mas, atenção, enquanto a primeira Eva aparece toda belíssima, Israel vem do Egito, vem da idolatria, onde estiveram em escravidão e estão cheios de discórdia, cheios de coxos, de cegos. Porque os ídolos te escravizam; era um povo de escravos. Deus, dizem os rabinos, transforma esse povo, essa assembleia, diz que não há coxos, porque todos caminhavam; não havia mais surdos, pois todos ouviam a palavra, e o povo de Israel acampou, no singular, não no plural: não que eles acamparam, mas que acampou. Isso significa que eles se tornaram um. Deus não podia dar a Torá a um povo de escravos, constrói uma assembleia profética que anuncia os novos tempos messiânicos.

Este tema da beleza da assembleia de Israel será desenvolvido ao longo do rabinismo através de muitos midrash. Cristo conhecia esses midrash. Quando os discípulos de João se aproximam de nosso Senhor Jesus, perguntam: “És tu o Messias ou devemos esperar outro?”, ouçam o que Cristo responde: “Dizei a João: os cegos veem, os coxos andam, os surdos ouvem”. Por que Ele diz isso? Porque já se esperava o Messias como aquele que organizaria não apenas o povo de Israel, mas a nova humanidade. Uma nova humanidade.

Kiko Argüello e María Ascensión (neocatechumenaleiter.org)

O mesmo que Cristo fez conosco! Ele nos fez escutar sua palavra, abriu nossos ouvidos. Abriu nossos olhos, como fez com o cego. Cristo fez com sua saliva um pouco de barro e o aplicou sobre os olhos do cego. E o cego viu o amor de Deus, que lhe devolveu a vista. O mesmo que Ele fez conosco por meio da iniciação cristã. A palavra de Deus, que é como a saliva, ilumina profeticamente nossa pobreza, nossos pecados. Faz barro e o coloca diante de nossos olhos. Ele coloca nossos pecados diante de nós com esse barro. E depois nos diz: ‘Lava-te’. O mais difícil é se considerar pecador, isso não acontece sem a saliva, a palavra de Cristo. E todos os nossos pecados foram perdoados. Agora já não somos escravos. Vimos o amor por nós, pecadores.

Efetivamente: os cegos veem, os surdos ouvem, os coxos andam, caminham ajudando o próximo, os leprosos ficam limpos. Cristo chegou, é o sinal de que o salvador do mundo chegou, aquele que faz de nós uma nova criação. Há uma primeira criação, e Israel concebe a aliança como uma nova criação. Vem o Messias que realiza conosco uma nova aliança, uma nova criação.

Esta nova criação é descrita no Apocalipse, quando se fala da nova Jerusalém que desce do céu. E fala-se da beleza. Toda resplandecente como uma noiva, como uma esposa. A beleza! É importantíssima. Hoje estamos em uma época em que se fala de globalização. Há uma imagem do mundo que é Babilônia, a grande prostituta do Apocalipse.

Equipe responsável internacional Kiko, P. Mario e María Ascensión. Atrás Segundo e Ezechiele (Foto: Tomasz Marynowski)

Mas, diante de Babilônia, há outra cidade: a Jerusalém celeste, que vem do céu, vestida de branco como uma esposa, vestida de boas obras, vestida de linho resplandecente. Há uma obra frente a Babilônia. Deus está nos chamando para construir a beleza de Cristo. É o corpo de Cristo que salvará o mundo. A beleza de Cristo. E qual é essa beleza? A nova Jerusalém: todos se tornaram belos porque Cristo os revestiu de sua santidade, e aparece a comunidade cristã: a Igreja, toda resplandecente, que é o Cordeiro que vence a besta. Essa beleza salvará o mundo. O mundo está esperando pelos cristãos. Estão esperando ver esses homens que enxergam o amor de Deus, quando as pessoas não veem o amor de Deus em lugar algum. Estão esperando por estes que caminham para anunciar o Evangelho como os pobres. Estão esperando por estes que escutam a Palavra, que se amam, que têm um só coração: “Amai-vos como eu vos amei; por esse amor saberão que sois meus discípulos”. Aparece uma beleza que é Cristo.

Na tradição da Igreja, há um jardim no Éden, e também um segundo jardim no Monte Sinai, onde o cume aparece como uma árvore que dá fruto, que é a Torá, mas há um terceiro jardim. Existem o jardim do Éden e o jardim do Apocalipse, onde aparece a nova Jerusalém, onde há uma árvore da vida que dá frutos eternos. Porém, há um quarto jardim: o Gólgota. Ali está o horto onde Cristo foi crucificado. Nesse jardim, há um sepulcro, há um ressuscitado, há um novo jardineiro, que é Cristo, o novo Adão. Há uma mulher que vem da prostituição, chamada Maria Madalena, e quando o vê, ela diz: “Rabbuní!” Ela vai abraçá-lo, mas Cristo lhe diz: “Noli me tangere!”, “Não me toques, porque ainda não subi ao Pai”. Esse texto: ‘Não me toques!’ é importantíssimo, porque está relacionado com a nova Jerusalém. “Vai e anuncia que subo ao Pai, meu Pai e vosso Pai; meu Deus e vosso Deus.” Ele lhe dá o anúncio do Kerygma, vai realizar uma obra imensa. Cristo toma a natureza humana e a leva à Santíssima Trindade.

Kiko Argüello e Andrzej Mochoń com Dom Francesco Donega, reitor SRM Roma (neocatechumenaleiter.org)

São Paulo diz que na criação há um espelho, uma epifania do amor de Deus para conosco, através da beleza. Há algo na natureza que te impressiona, está a sua beleza, há uma espécie de mansidão, como uma obediência. O que é o homem? É um devir, é um projeto, é um prodígio. O homem! O homem é um prodígio. Somos um projeto em constante realização, ou seja, em constante precariedade. Não temos o direito de tirar do homem a possibilidade de realizar-se tal como Deus o criou, porque é um projeto em constante realização.

São Paulo, na segunda carta aos Coríntios, afirma que Cristo morreu por todos, para que aqueles que vivem já não vivam para si mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles. Esta é a visão do homem segundo a Revelação, esta é a antropologia cristã: o homem, escravo do pecado, está obrigado a oferecer-se todo a si mesmo, precisamente porque é escravo, perdeu a dimensão da beleza que é o amor, o sair de si mesmo para amar o outro. A obra da salvação consiste em arrancar o homem desta maldição, devolvendo-lhe a beleza do amor.

Para este homem, estamos tentando criar um novo tipo de paróquia; fazemos paróquias com uma coroa mistérica onde o céu está presente, com os mistérios mais importantes da nossa fé. A Igreja de hoje não tem uma estética definida… Isso nos impulsionou, de certo modo, a buscar uma estética. Em Madri, fizemos uma paróquia com um teto dourado, pedra branca e cristal, com um catecumenium: um conjunto de salas que se abrem para uma praça central, com uma fonte. No andar térreo, encontram-se todos os serviços sociais e, acima, em outro andar, estão todas as salas de cada comunidade, etc.

Equipe de pintores e arquitetos itinerantes (neocatechumenaleiter.org)

Estava falando sobre a beleza. Toda reforma da Igreja trouxe consigo, inevitavelmente, uma renovação estética: pensemos no gótico, no barroco… Não poderia ser diferente com o Concílio Vaticano II.

Bom, nós, do Caminho, queremos apresentar essa beleza, que é a beleza do amor nesta dimensão: Cristo (apontando para a cruz). E queremos apresentá-la em uma comunidade cristã, porque pensamos… Porque Cristo diz: “Amai-vos, amai-vos”, mas amar quem? Os primeiros cristãos viviam em uma pequena comunidade, todos se conheciam. A comunidade não pode ser muito grande porque se trata de mostrar, de criar um sinal público de amor. O número de uma comunidade é 30, 40, porque precisamos dar um testemunho concreto de amor. Deve voltar o grito dos pagãos: “Vede como se amam”, isso gritavam ao ver os cristãos. Porque Cristo no Evangelho diz: ‘Amai-vos, amai-vos, amai-vos’. Esta é a beleza que salva o mundo: o amor na dimensão da cruz. Demonstra que, se nos amamos na dimensão do inimigo, temos dentro de nós a vida eterna. Porque, de outra maneira, é impossível nos amarmos assim, porque Deus nos deu fé dentro, e a fé nos dá a vida eterna, a vida imortal… Temos algo dentro de nós que nos sustenta, que nos mantém, que é a vida de Deus em nós, a vida de Cristo, sua vitória sobre a morte em nós, concedida pelo Espírito Santo. De fato, o que devemos proclamar é a ressurreição de Cristo presente em nós.

Foto: Tomasz Marynowski

Queremos ser um Caminho sério, uma via séria, porque estamos prestes a dar uma grande batalha ao mundo, ao diabo, ao grande dragão, somos a mulher que está dando à luz ao filho varão, ameaçada pelo grande dragão, que é o príncipe deste mundo. Os judeus diziam que no mundo sempre vence o diabo. Interessante, vocês viram isso? O nazismo, primeiro, e o comunismo, depois, pareciam ter conquistado tudo, tudo, nações inteiras. Entendemos por que toda a Europa está indo hoje para a apostasia, entendemos por que há uma secularização total. O diabo parece sempre vencer, porque Cristo, neste mundo, não tem onde reclinar a cabeça e com Ele, os cristãos. Mas nós, com Cristo, vencemos a morte e temos uma alegria imensa, por isso devemos anunciar e dar testemunho do amor que Deus tem por nós, que nos deu a vida eterna dentro de nós.

Cristo diz: ‘Amem-se uns aos outros como eu os amei’. Cristo nos amou, e neste amor os pagãos secularizados, que nos rodeiam, saberão que sois meus discípulos. Cristo nos amou na dimensão do inimigo, ou seja, não se opôs ao nosso mal. O Sermão da Montanha diz: “Não resistais ao mal”. ‘Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos perseguem’. O que é isso? O Cristianismo.

O ponto é este: o que significa ser cristão hoje, de que devemos dar testemunho? São Paulo diz: “Levamos sempre e por todas as partes o modo de morrer de Jesus”. O modo de morrer, ou seja, Cristo morto crucificado – diz – “Levamos sempre e em todas as partes em nosso corpo o modo de morrer, para que se veja em nosso corpo que Cristo está vivo”. O Concílio Vaticano II falou da Igreja, sacramento de salvação universal… Cristo nos mostrou uma justiça, que é a justiça do amor na dimensão da cruz.

Foto: Tomasz Marynowski

A beleza salvará o mundo, que é Cristo que vive nos cristãos, nas comunidades cristãs. Dissemos à Santa Sé que não queremos fazer uma congregação, queremos levar esta mensagem à Igreja: é maravilhoso viver a fé em uma comunidade cristã nas paróquias.

O mais belo das comunidades é que vimos a ação de Deus nos irmãos, todos se enriquecem com o bem dos outros. Todos em todos. Há uma riqueza comum e constante em todos. É maravilhoso ver que os cegos veem o amor de Deus em suas vidas. Cristo venceu a morte, não olhamos para a morte com horror, nem para a velhice, nem para a doença. E não é que sejamos muito bons, mas que todos somos pecadores, pobres.

Na ressurreição de Jesus Cristo, Deus demonstra algo grandioso, que este ressuscitou dos mortos e subiu ao céu; Deus o constituiu como Kyrios. A palavra ‘kyrios’ é a palavra de Deus no Monte Sinai. Portanto, este homem que morreu na cruz por nós é o próprio Deus.

Cristo morreu para que o homem possa sair deste círculo de egoísmo, para que não viva mais para si mesmo, mas para aquele que morreu e ressuscitou por ele, Cristo, a beleza divina feito homem, que se fez um de nós, para que o homem pudesse receber a glória de Deus.

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br/kiko-arguello-recebe-a-medalha-per-artem-ad-deum/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF