A emissão “África em Clave Cultural: personagens e eventos”
desta semana, foi dedicada à lendária figura do jazz, dos Estados Unidos, Louis
Armstrong. Para além disso, inclui informações sobre a participação de quatro
cineastas dos PALOP, com filmes em competição, no FESPACO 2025; sobre a
nomeação da primeira mulher africana como curadora da Bienal de Veneza 2026, na
pessoa da camarunesa, Koyo Kouoh; e ainda sobre o Circo África que está a atuar
em Roma até 2 de fevereiro de 2025.
Dulce Araújo - Vatican News
Para muitos, pode parecer supérfluo falar de Louis
Armstrong, figura sobejamente conhecida no mundo da arte musical,
particularmente do jazz. Mas, nunca é demais visitar o seu percurso e apreciar
a sua voz singular e o seu talento de trompetista, sem deixar de lado o seu
ativismo pelos direitos civis nos Estados Unidos do seu tempo. Foi o que
fizemos juntamente com o Filinto Elísio, poeta, ensaísta, editor (Rosa de
Porcelana Editora) que oferece esta crónica intitulada:
Louis Armstrong: a lenda do jazz e do blues
O trompetista e cantor norte-americano Louis
Armstrong confunde-se com a própria música jazz e também do blues! Não apenas
por ter sido um dos pioneiros do jazz, mas sobretudo por ter estado presente em
toda a evolução deste género, dos anos 20 aos anos 70, do século passado.
Para além da música, ele foi um ativista pelos direitos
civis da população negra norte-americana, sendo emblemáticos o seu
posicionamento em prol da integração de estudantes negros, no
caso Little Rock Central High School e as suas doações para as causas
do Reverendo Marting Luther King, Jr.
Nasceu em Nova Orleães, no estado de Louisiana, em 4 de
agosto de 1901. Louis foi criado apenas pela mãe, Mayann, que enfrentava sérias
dificuldades financeiras para manter a casa sozinha, tendo de trabalhar como
prostituta.
Em 1912, aos 11 anos de idade, foi preso por disparar uma
arma durante as festas do Ano Novo. Encaminhado para uma Casa de Correção,
Louis aprendeu a tocar corneta e teve a oportunidade de desenvolver seus dons
musicais, logo tornando-se o líder da banda da escola.
Com 14 anos, após sair do reformatório, passou a tocar
nas bandas de jazz e nas grandes barcas do rio Mississipi. Durante o dia
trabalhava vendendo papéis velhos, carregando peso nas docas e vendendo carvão.
A vivência musical de Louis nesta época, fez com que ele
decidisse seguir a carreira de músico profissional, tendo como mentor Joe King
Oliver, que era considerado um dos melhores cornetistas da cidade e o convidou
para tocar em sua banda em Chicago.
Nos primeiros anos da década de 20, Louis gravou alguns
álbuns com Oliver, em um dueto de cornetas. Depois disso, mudou-se para Nova
York e se juntou à orquestra do pianista Fletcher Henderson, mas a parceria não
durou muito tempo e Louis retornou para Chicago, passando a integrar o
grupo Dreamland Syncopators, que marca sua troca de instrumento, deixando
a corneta e assumindo o trompete.
Os anos seguintes foram de grande destaque na carreira de
Armstrong. Ele coordenou diversas gravações em estúdio, com os grupos Hot
Five e Hot Sevens, e os discos gravados nessa época são considerados
até hoje os mais influentes de Louis para o jazz. Com solos improvisados no
trompete e vocais expressivos com a inovação do scat, Armstrong atingiu
grande popularidade, levando o músico a muitos tours internacionais. Seguindo
nesta crescente, na década de 30 e com a popularização do rádio, Armstrong
chegou para todos os ouvintes e fez diversas aparições nos cinemas em filmes
musicais.
No final dos anos 40 e com o fim da era das big
bands, Louis passou a liderar um grupo pequeno chamado Louis Armstrong and
His All Stars, com quem gravou sucessos da música pop e se lançou
num tour pela Europa. O Louis Armstrong and His All Stars teve
diversas formações, mas foi o principal grupo de Louis até o fim de sua vida.
Aos 63 anos Armstrong recebeu seu primeiro Grammy na
categoria de Melhor Desempenho Vocal Masculino, pela música Hello,
Dolly!, que atingiu o primeiro lugar nas paradas de sucesso. Poucos anos
depois, lançou a canção What a Wonderful World, com sua
interpretação, tornou-se um grande sucesso mundial. Em 1972, ganhou mais um
Grammy pelo conjunto da obra.
Entre os clássicos de Louis Armstrong destacam-se as
músicas La Vie Em Rose, Moon River, A Kiss to Build a Dream On, Saint
Louis Blues, entre outras. Colaborou com vários artistas do jazz e de
outros géneros, como os duetos sublimes com Ella Fitzgerald e Mahalia
Jackson.
Faleceu em Nova Iorque, no dia 6 de julho de
1971. Marcou, como ninguém, com o seu virtuosismo no trompete e a sua voz
de barítono, o panorama discográfico e o espetáculo da música
contemporânea.
Cineastas dos PALOP na 29ª edição do FESPACO 2025
O cineasta guineense, Sana Na N’hada, é
um dos quatro cineastas de países africanos de expressão oficial portuguesa
(PALOP), selecionados para o FESPACO deste ano. Ele vai apresentar o filme
“Nome”. Os outros três cineastas são Denise Fernandes, com a
longa-metragem Hanami; Welket Bungué com o
documentário, “Latitude Fénix”; e Inadelso Cossa, com
o documentário As Noites Ainda Cheiram a Pólvora.
Os quatro filmes fazem parte dos 235 filmes selecionados em
diversas categorias, de um total de 1.351 candidaturas, oriundas de 48
nacionalidades, desde a África ao Caribe. A 29ª edição do FESPACO, o maior
Festival de Cinema e Televisão da África, vai ter lugar de 22 de fevereiro a 1
de março de 2025, em Ouagadougou, capital do Burkina Faso.
Segundo o jornal on line, Bantuman, Alex Moussa Sawadogo,
Delegado Geral do FESPACO, descreveu, em conferência de imprensa, esta edição
como uma colheita cinematográfica desafiadora, e destacou que há várias
estreias de produções africanas. “Esta é uma das raras ocasiões em que
tantos filmes foram selecionados em todo o continente africano. Estamos muito
orgulhosos desta seleção com muitas estreias mundiais. São filmes que refletem
a dinâmica da produção africana, o espírito de criatividade dos nossos
realizadores. Isto mostra a importância do FESPACO no leque de festivais” -
afirmou.
Bantuman faz ainda saber que o documento oficial do FESPACO
detalha todos os filmes selecionados. O filme “Nome”, de Sana Na N'hada
(Guiné-Bissau), e Hanami, de Denise Fernandes (Cabo Verde), estão
na disputa pelo Yennenga Gold Standard (o principal prémio) na categoria de
longas-metragens de ficção com mais 15 filmes de países diferentes. As
Noites Ainda Cheiram a Pólvora, de Inadelso Cossa (Moçambique) concorre na
categoria de Documentário de Longa-Metragem com mais 14 filmes, e Latitude
Fénix, de Welket Bungué (Guiné-Bissau), na categoria Diversidades.
O Festival Pan-Africano de Cinema e Televisão de
Ouagadougou, FESPACO, é uma das principais celebrações de cinema do continente
africano. Criado em 1969, o evento bienal é organizado pela Delegação Geral do
FESPACO, destacando-se como um dos poucos festivais de cinema patrocinados pelo
Estado que ainda subsistem a nível global - sublinha Bantuman. É uma aposta do
Burkina-Faso na cultura da África como perno de desenvolvimento assente nas
identidades culturais do continente. Aliás, o lema deste ano é “Cinemas da
África e identidades culturais”.
Koyo Kouoh, nomeada Curadora da Bienal das Artes de Veneza
2026
A camaronesa Koyo Kouoh vai ser a curadora artística da
Bienal Internacional de Artes de Veneza 2026. Foi nomeada a 5 de novembro
passado pelo Conselho da Direção do Festival sob proposta do Presidente
Pietrangelo Buttafuoco.
De 57 anos de idade, Koyo Kouoh é, desde 2019, Diretora
Executiva e Curadora Chefe do Museu Zeitz de Arte Contemporânea Africana, o
maior deste género em África, com sede na Cidade do Cabo (África do Sul). Já
foi, entre diversas outras funções e iniciativas de relevo, Diretora artística
fundadora da Raw Material Company, um centro para a arte, o conhecimento e a
sociedade, em Dakar; e em 2020 recebeu o Grande Prémio Meret Oppenheim,
prestigioso galardão suíço que reconhece sucessos no campo das artes, arquitetura,
crítica e exposições. Ela vive e trabalha entre a África do Sul, o Senegal e a
Suíça.
Ao comentar a nomeação de Koyo Kuoh para Curadora artística
do sector das Artes visivas com o encargo de curar a 61ª Exposição
Internacional de Arte de 2026, o Presidente da Bienal de Veneza, Pietrangelo
Buttafuoco, sublinhou que isto é a confirmação da vocação dessa bienal: ser a
casa do futuro, a casa que sabe acolher os olhares novos.
Por seu lado, comentando a sua nomeação, Koyo Kuoh disse que
a Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza é, há mais de um século,
o centro de gravidade da arte. É, por conseguinte, uma honra e um privilégio -
afirmou - seguir as pegadas dos seus predecessores nesta função e criar uma
mostra - espera - que possa ter significado para o mundo em que vivemos e que
queremos construir. Os artistas - continuou - são visionários e cientistas
sociais que nos permitem refletir e projetar de forma única.
Ela manifestou também a sua gratidão ao Presidente
Buttafuoco por lhe ter confiado esta missão tão importante e diz não ver a hora
de trabalhar com toda a equipa - lê-se no site da Bienal.
Esta é a primeira vez, na história da Bienal de Arte de
Veneza que uma mulher africana é escolhida como Diretora do Sector Artes
Visivas da Bienal, com o prestigioso encargo da curadoria da 61ª (sexagésima
primeira) Exposição Internacional de Arte para 2026. Trata-se, por conseguinte,
duma nomeação importante e histórica - sublinham várias fontes de informação.
A história pessoal desta curadora - escreve a revista
italiana “África”, está relacionada com os Camarões, onde nasceu, e a Suíça,
onde cresceu e estudou Economia empresarial, antes de se especializar em Gestão
Cultural, na França. Ela fala francês, alemão, inglês e italiano. Não resta que
acompanhar a Bienal de Veneza para ver o toque pessoal que ela dará à sua
curadoria.
Circo Africano em Roma até 2 de fevereiro de 2025
Em Roma, está a decorrer, desde 19 de dezembro de 2024,
exibições do mágico mundo do Circo Africano que se
prolongará até 2 de fevereiro 2025. É no ex-Velodromo de Eur (Via Oceano
Pacifico 162) e é a primeira vez que se exibe em Itália. Trata-se dos melhores
talentos provenientes de diversos países africanos. Um espetáculo com a
curadoria de Zoppis Show Productions, que disse querer encantar o público com
cores, músicas e espetáculos contagiantes. Uma imersão nas artes performativas
africanas em todas as suas vertentes.
São, segundo a revista África, mais de cinquenta artistas
formados em escolas circenses e provenientes Etiópia, Tanzânia, Tunísia,
Marrocos, Quénia, Egipto, Senegal, África do Sul, celebrando a diversidade
artístico-cultural do continente. Número e performances que já foram
exibidos em prestigiosos festivais em várias partes do mundo e que não envolvem
animais. Acrobacia, malabarismos, contorções e danças se entrelaçam com
melodias entusiasmantes de lendas da música africana Fela Kuti, Miriam Makeba,
Youssou N’Dour, abrilhantadas com a participação de ícones internacionais da
música como Gloria Gaynor, Bob Marley, Shakira, Stevie Wonder e Le Chi. A
música ao vivo dá o ritmo aos acrobatas, saltadores e malabaristas
extraordinários. A não perder, segundo a revista “África”, os saltadores
etíopes e os atletas de basquete acrobáticos quenianos.
Non faltarão emoções, exibições aéreas e performance de
dança que vão da tradição à modernidade, tudo enriquecido com uma incrível
fusão de luzes, cenografias 3D e um jogo visível de tirar o fôlego - nota ainda
a revista “África”.
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