O DESAFIO DE SER CRISTÃOS
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
09/01/2025
Jesus foi visitado pelos pobres pastores dos arredores de
Belém, e nós contemplamos este mistério com serenidade e alegria. Surpreendeu a
todos, a seu tempo, a misteriosa visita daqueles Magos, Sábios chegados do
Oriente, que estudavam a posição das estrelas, trazendo presentes muito
significativos àquele que é Deus, Rei e plenamente homem, tanto que passaria
pelo sofrimento e pela morte. Passam os anos e Jesus é proclamado publicamente
pelo Pai Eterno como o Filho amado, sobre o qual repousa o Espírito Santo. E no
início de seu ministério, a água transformada em vinho, nas Bodas de Caná,
conduz à fé discípulos titubeantes, noivos e humanidade. Depois de tais
manifestações, resta a todos nós a coragem da decisão diante dele, em quem se
cumprem promessas antigas e novas, assim como os sonhos de realização e
felicidade de toda a humanidade.
Temos a clareza de que Deus nos constituiu como um corpo o
Povo de Deus, que age e testemunha a própria fé. De fato, se “Deus aceita quem
o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (cf. At
10,35), aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente,
excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que o
conhecesse na verdade e o servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação
israelita para seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente,
manifestando-se a si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e
santificando-o para si. Todas estas coisas aconteceram como preparação e figura
da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida e da
revelação mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito
carne. Esta nova aliança instituiu-a Cristo, o novo testamento no seu sangue
(cf. 1 Cor 11,25), chamando o seu povo de entre os judeus e os gentios, para
formar um todo, não segundo a carne mas no Espírito, e tornar-se o Povo de
Deus. Com efeito, os que creem em Cristo, regenerados não pela força de germe
corruptível mas incorruptível por meio da Palavra de Deus vivo (cf. 1 Pd 1,23),
não pela virtude da carne, mas pela água e pelo Espírito Santo (cf. Jo 3, 5-6),
são finalmente constituídos em raça escolhida, sacerdócio real, nação santa,
povo conquistado, que outrora não era povo, mas agora é povo de Deus» (1 Pd 2,
9-10)” (Cf. Lumen gentium 9).
E agora, passados os séculos, está em nossas mãos a
responsabilidade de, como povo escolhido, dar testemunho de Jesus, sendo sal,
luz e fermento nos tempos que correm, sem discriminar as outras pessoas, mas
atraí-las com amor ao amor de Cristo. Em nosso coração e em nossas mãos estão
os instrumentos oferecidos pela Igreja: a Palavra de Deus, a Vida em
Comunidade, a Fé, a Esperança e a Caridade, e os Sacramentos, que nos
mergulharam na vida da Santíssima Trindade.
Ser cristão hoje equivale a ser testemunhas em todos os
ambientes de nossa fé em Jesus Cristo Ressuscitado, Salvador do mundo. Como
testemunhas, haveremos de mostrar em nossa vida de batizados, redimidos, que
Jesus venceu o pecado em nossa própria vida, porque nos fez filhos de Deus e
adotamos seus sentimentos e as atitudes evangélicas expressas nas
bem-aventuranças: pobreza de espírito, mansidão, fome e sede de justiça,
misericórdia, pureza de coração, solidariedade, reconciliação e fraternidade.
Se queremos demonstrar de verdade que nós encontramos o Messias, aquele que dá
sentido à história humana e dá esperança a toda a humanidade e à vida de cada
um de nós, devemos proclamar, com a palavra e as obras, que Jesus, na plenitude
do Espírito Santo, é luz para todas as áreas escuras da história humana e de
cada pessoa, e que ele, com sua Ressurreição, torna possível a esperança num
futuro melhor, a confiança nas pessoas e a transformação do mundo, através da
única revolução eficaz, a conversão pessoal ao amor e à justiça, que vêm de
Deus (cf. La Parola per ogni giorno, Basilio Caballero, Pauline, 1991). Há
alguns anos houve pessoas que pensavam estar diante de um cristianismo anônimo,
perdido no meio da massa, e sabemos como cresceu esta massa! Não se trata disso!
Hoje, devemos nos perguntar como responder com identidade própria e clareza aos
desafios que se apresentam, sem fanatismos, opções ideológicas de qualquer
lado, cujo desenrolar se revela estéril, ou tentativas anacrônicas, igualmente
estéreis, de volta a um clima de cristandade! Abertura ao Espírito Santo,
intensa vida de oração, processos claros de discernimento, criatividade,
espírito apostólico e missionário, esta é a estrada para viver como cristãos em
nosso tempo.
Respostas? Eis algumas propostas, destinadas a provocar
continuidade na reflexão e o inadiável compromisso pessoal. A primeira delas é
olhar ao nosso redor, identificando pessoas e situações, estabelecendo conexões
com quem tem as mesmas inquietações e o desejo de superar uma prática religiosa
de fachada ou um tentador indiferentismo. Quem está rezando seriamente? Que
pessoas estão comprometidas diretamente com a caridade? Já descobriu em seu
ambiente de trabalho gente que não suja as mãos com o egoísmo, a corrupção e a
imoralidade? Será que não chama a sua atenção aquelas pessoas que sempre se
dispõem a algum serviço na Comunidade?
Justamente aqui surge uma outra ideia! Tomar iniciativa! Se
muitos não frequentam a Missa, sua presença mostrará o quanto constrói o Corpo
de Cristo, que é a Igreja, sua participação Eucarística, a busca do Sacramento
da Reconciliação! E se muitos não praticam a justiça, comece por você
mesmo!
E se queremos ampliar nosso horizonte, a pessoas que tomam
decisões semelhantes, caberá também a disposição para o diálogo com quem pensa
diferente, na diversidade de nosso mundo. Tal atitude contribuirá para que o
senso do bem comum, suscitado pelo Espírito Santo além de todas as fronteiras,
seja redescoberto e promova gestos e programas de ação no conjunto da
sociedade.
À nossa capacidade de reflexão, à inteligência da fé
concedida nos Sacramentos da Iniciação Cristã e, mais ainda, à ação do Espírito
Santo que nos conduz, lançamos o desafio de continuar esta lista de propostas
para sermos, diante do mundo que clama por sentido, os peregrinos da Esperança,
a fim de que o Jubileu que vivemos seja tempo de graça, perdão, reconciliação e
acolhida para muitos!
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