Translate

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O Mandamento da Caridade (I)

Santa Teresa de Calcutá (Presbíteros)

O Mandamento da Caridade

Introdução.

   Três coisas são necessárias à salvação do homem, a saber: a ciência do que se há de crer, a ciência do que se há de desejar, e a ciência do que se há de operar. A primeira nos é ensinada no Credo, onde nos é ensinada a ciência dos artigos da fé. A segunda, no Pai Nosso. A terceira na Lei. Agora a nossa intenção é acerca da ciência do que se há de operar, para tratar da qual encontramos quatro leis.

  1. A lei da natureza.

            A primeira lei é dita lei da natureza, e esta nada mais é do que a luz da inteligência colocada em nós por Deus, pela qual conhecemos o que devemos agir e o que devemos operar. Esta luz e esta lei Deus a deu ao homem na criação, mas muitos acreditam dela poderem desculpar-se por ignorância se não a observarem. Contra estes diz, porém, o profeta no salmo quarto: “Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem?”, como se ignorassem o que é para se operar. Mas o próprio profeta no mesmo lugar responde: “Sobre nós está assinalada a luz do teu semblante, ó Senhor”, luz, a saber, do intelecto, pela qual nos é conhecido o que se deve agir. De fato, ninguém ignora que aquilo que não quer que seja feito a si, não o faça ao outro, e outras tais.

2. A lei da concupiscência.

            Posto, porém, que Deus na criação deu ao homem esta lei, a saber, a da natureza, o demônio, todavia, semeou sobre esta uma outra lei, a da concupiscência. Com efeito, até quando no primeiro homem a alma foi submissa a Deus, observando os divinos preceitos, também a carne foi submissa em tudo à alma, ou à razão. Mas depois que o demônio pela tentação afastou o homem da observância dos preceitos divinos, também a carne se tornou desobediente à razão. De onde aconteceu que ainda que o homem queira o bem segundo a razão, todavia é inclinado ao contrário pela concupiscência. E isto é o que nos diz o Apóstolo no sétimo de Romanos: “Mas vejo outra lei nos meus membros que se opõe à lei da minha razão”. Daqui é que frequentemente a lei da concupiscência corrompe a lei da natureza e a ordem da razão, e por isso acrescenta o Apóstolo: “Acorrentando-me à lei do pecado“.

3. A lei da Escritura, ou do temor.

            A lei da natureza, pois, estava destruída pela lei da concupiscência. Fazia-se, portanto, necessário que o homem fosse restituído à obra da virtude e fosse afastado dos vícios. Para isto foi necessária a lei da Escritura. Deve-se saber, porém, que o homem é afastado do mal e induzido ao bem por duas coisas, a primeira das quais sendo o temor. De fato, a primeira coisa pela qual alguém maximamente principia a evitar o pecado é a consideração das penas do inferno e do juízo final. Por isso é que o Eclesiástico nos diz: “O início da Sabedoria é o temor do Senhor”, e também: “O temor do Senhor expulsa o pecado“, pois, ainda que aquele que por temor não peca não seja justo, todavia daqui principia a justificação. É deste modo que o homem é afastado do mal e induzido ao bem pela lei de Moisés, a qual punia os transgressores com a morte: “Quem transgride a Lei de Moisés é condenado à morte, sem piedade, com base em duas ou três testemunhas“. Hb. 10

4. A lei Evangélica, ou do amor.

            O modo do temor, porém, é insuficiente, e a lei que foi dada por Moisés desta maneira, afastando do mal pelo temor, também foi insuficiente. De fato, ainda que obrigasse a mão, não obrigava a alma. Por isso há um outro modo de afastar do mal e induzir ao bem, a saber, o modo do amor, e deste modo foi dada a lei de Cristo, a lei Evangélica, que é lei de amor.

5. A lei do amor torna livre.

            Deve-se considerar, entretanto, que entre a lei do temor e a lei do amor são encontradas três diferenças. A primeira consiste em que a lei do temor faz de seus observantes servos, enquanto que a lei do amor os faz livres. Pois quem opera somente pelo temor opera pelo modo de servo; quem, porém, o faz por amor, o faz por modo de livre, ou de filho. De onde que diz o Apóstolo: “Onde está o Espírito do Senhor, lá está a liberdade“, II Cor. 3, porque, a saber, estes por amor agem como filhos.

6. A lei do amor introduz nos bens celestes.

            A segunda diferença está em que os observadores da primeira lei eram introduzidos nos bens temporais, conforme diz Isaías: “Se quiserdes, e me ouvirdes, comereis dos bens da terra” (Is. 1). Mas os observadores da segunda lei são introduzidos nos bens celestes: “Se queres entrar na vida, observa os mandamentos” (Mt. 19). E também: “Fazei penitência” (Mt. 2).

7. A lei do amor é leve.

            A terceira diferença é que a primeira é pesada: “Por que quereis impor um jugo sobre nós que nem nós, nem nossos pais puderam suportar?” (At 15).  A segunda, porém, é leve: “O meu jugo é suave, e o meu peso é leve” (Mt. 11). E também: “Não recebestes um espírito de servidão para recairdes no temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos” (Rm. 8).

10. Conclusão: simplicidade e retidão da lei de Cristo.

            Assim, portanto, como já foi dito, encontram-se quatro leis, a primeira sendo a lei da natureza, que Deus infundiu no homem na criação, a segunda a lei da concupiscência, a terceira a lei da Escritura, a quarta a lei da caridade e da graça que é a lei de Cristo. Como, porém, é evidente que nem todos podem ser versados na ciência, foi-nos dada por Cristo uma lei breve, para que por todos pudesse ser sabida, e ninguém por ignorância pudesse escusar-se de sua observância, e esta é a lei do amor divino. Como diz o Apóstolo: “Fará o Senhor uma palavra abreviada sobre a terra” (Rm. 9). Deve-se saber, ademais, que esta lei deve ser a regra de todos os atos humanos. Com efeito, assim como vemos nas coisas feitas pela arte humana, em que cada obra é dita boa e correta quando segue a regra da arte, assim também qualquer obra humana é reta e virtuosa quando concorda com a regra do amor divino. Quando, porém, discorda desta regra, não é boa, nem reta, ou perfeita. Portanto, para que os atos humanos se tornem bons, é necessário que concordem com a regra do amor divino.

***

Este texto, de Santo Tomás de Aquino, foi retirado do site www.cristianismo.org.br , onde se encontram muitos outros textos interessantes para o estudo e crescimento da fé e da vida espiritual.

Fonte: https://presbiteros.org.br/o-mandamento-da-caridade/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF