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quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

O Mandamento da Caridade (II)

Santa Tereza de Calcutá (Prebíteros)

O Mandamento da Caridade

11. Os efeitos da lei do amor: o amor causa a vida espiritual.

Deve-se saber, também, que esta lei, a do amor divino, produz quatro coisas no homem imensamente desejáveis, a primeira das quais é causar no mesmo a vida espiritual. É, de fato, manifesto que o amado está naturalmente no amante e por isto, quem a Deus ama, possui Deus em si: “Quem permanece na caridade em Deus permanece, e Deus nele” (I Jo. 4).  A natureza do amor é também tal que transforma o amante no amado; de onde que se amamos o que é vil e caduco, vis e instáveis nos tornamos: “Fizeram-se abomináveis assim como o que amaram” (Os. 1). Se, porém, a Deus amarmos, divinos nos tornaremos, porque, como está escrito: “Aquele que se une ao Senhor, constitui com Ele um só espírito” (I Cor. 6). Neste sentido é que Santo Agostinho diz que assim como a alma é a vida do corpo, assim Deus é a vida da alma, e isto é manifesto. Porquanto dizemos o corpo viver pela alma, quando tem as operações próprias da vida, e quando opera e se move. Apartando- se, porém, a alma, nem o corpo opera, nem se move. Assim também a alma opera virtuosa e perfeitamente quando opera pela caridade, pela qual Deus habita nela. Sem a caridade, porém, não opera: “Quem não ama, permanece na morte” (I Jo. 3). Deve-se considerar, também, que se alguém tiver todos os dons do Espírito Santo sem a caridade, não tem a vida. Seja, de fato, a graça de falar em línguas, seja o dom da fé, ou seja, qualquer outro, sem a caridade não concedem a vida. Com efeito, se o corpo dos mortos é vestido de ouro e de pedras preciosas, não obstante isto, morto permanece. Causar a vida espiritual é, portanto, o primeiro dos efeitos da caridade.

12. O amor causa a observância dos mandamentos.

O segundo efeito da caridade é a observância dos mandamentos divinos. Diz São Gregório: “Nunca o amor de Deus é ocioso”. Porquanto, se existe, opera grandes coisas; se, porém, se recusa a operar, amor não é. De onde que um sinal manifesto da caridade é a prontidão na execução dos preceitos divinos. Vemos, de fato, os que amam operar por causa do amado coisas grandes e difíceis. Diz também o Evangelho de João: “Se alguém me ama, observará os meus mandamentos” (Jo. 14). Mas quem observa o mandamento e a lei do amor divino cumpre toda a lei. Pois há dois modos de mandamentos divinos. Alguns são afirmativos, e estes a caridade cumpre porque a plenitude da lei que consiste nos mandamentos é o amor pelo qual os mandamentos são observados. Já outros são proibitórios, e estes também a caridade cumpre, porque “não age maldosamente”, como diz o Apóstolo na primeira aos Coríntios.

13. O amor é refúgio contra as adversidades.

A terceira coisa que faz a caridade é ser refúgio contra as adversidades. Ao que tem caridade, nenhuma adversidade causa dano, antes, se converte em coisa útil: “Todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus” (Rom. 8). As coisas adversas e difíceis parecem suaves para os que amam, como entre nós o vemos manifestamente.

14. O amor conduz à eterna BEM-AVENTURANÇA.

O quarto efeito da caridade é o de conduzir à felicidade. Somente aos que tiverem caridade a felicidade eterna é prometida, pois todas as coisas sem a caridade são insuficientes: “Desde já me está reservada a coroa de justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele dia. E não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua vinda” (II Tim. 4)

E deve-se saber que somente segundo a diferença da caridade será a diferença da bem-aventurança, e não segundo nenhuma outra virtude. Muitos, na verdade, fizeram maiores jejuns do que os apóstolos, mas estes na bem-aventurança superam todos os outros por causa da excelência da caridade. Eles, com efeito, foram as primícias dos que têm o Espírito, como diz o Apóstolo, no oitavo de Romanos. De onde que a diferença da bem-aventurança provém da diferença da caridade, e assim são patentes as quatro coisas que em nós faz a caridade.

15. Outros efeitos do amor: o amor produz o perdão dos pecados.

Além destas, porém, a caridade faz outras coisas que não se devem deixar passar. Primeiro, causa o perdão dos pecados, algo que já vemos manifestamente acontecer entre nós. Porquanto, se alguém ofender algum homem e posteriormente vier a amá-lo entranhadamente, o ofendido, por causa do amor com que é amado, perdoará a ofensa. Assim também Deus perdoa os pecados dos que o amam: “A caridade encobre uma multidão de pecados” (I Pe. 4). E diz bem o apóstolo que os encobre, porque para Deus não parece que devam ser punidos. Mas, posto que São Pedro diga que encobre uma multidão, todavia Salomão diz no décimo de Provérbios que “a caridade encobre todos os delitos”, o que o exemplo da Madalena maximamente manifesta: “São-lhe perdoados muitos pecados”, e a causa é mostrada: “já que muito amou” (Luc. 7). Mas talvez alguém dirá: “Então a caridade basta para apagar os pecados, e não é necessário o arrependimento?” Deve-se considerar, porém, que ninguém verdadeiramente ama, que não se arrependa verdadeiramente. De fato, é manifesto que quanto mais amamos a alguém, tanto mais nos afligimos se a ele ofendemos, e isto é um efeito da caridade.

16. O amor produz a iluminação do coração.

A caridade causa também a iluminação do coração. Com efeito, assim diz o livro de Jó: “Estamos todos envolvidos em trevas” (Jó 37). Pois frequentemente não sabemos o que agir, ou desejar. A caridade, porém, ensina tudo o que é necessário à salvação. Por isto está dito: “Sua unção vos ensinará de tudo” (I Jo. 2). Isto é porque, onde está a caridade, lá está o espírito Santo que a tudo conhece, o qual nos conduz no caminho correto, assim como está escrito no Salmo 138. E por isso diz também o Eclesiástico: “Vós, que temeis a Deus, amai-O, e se iluminarão os vossos corações“, a saber, para o conhecimento do que é necessário à salvação.

17. O amor realiza a perfeita alegria.

A caridade também realiza no homem a perfeita alegria. Na verdade, ninguém tem verdadeira alegria a não ser existindo na caridade. Quem quer que deseje algo não está contente, nem se alegra, e nem tem repouso enquanto não o conseguir. E nas coisas temporais sucede que o que se não se tem é apetecido, e o que se tem é desprezado e gera o tédio. Mas não é assim nas coisas espirituais; antes, ao contrário, quem a Deus ama, a Deus possui, e por isso a alma de quem o ama e o deseja nEle repousa: “Quem”, de fato, “permanece na caridade, em Deus permanece, e Deus nele”, como está dito no quarto da primeira Epístola de João.

18. O amor produz a perfeita paz.

Igualmente, a caridade produz a perfeita paz. Pois acontece nas coisas temporais que sejam desejadas com frequência, mas obtidas as mesmas, ainda a alma do que as deseja não repousa, antes, ao contrário, obtida uma, outra apetece: “O coração do ímpio é como um mar revolto, que não pode repousar” (Ecl. 57). E também, no mesmo lugar: “Não há paz para o ímpio, diz o Senhor”. Mas não acontece assim na caridade para com Deus. Quem, de fato, ama a Deus, tem a paz perfeita: “Muita paz aos que amam a Tua lei, e não há tropeço para eles” (Salmo 118). E isto porque somente Deus é capaz de satisfazer o nosso desejo, porquanto Deus é maior do que o nosso coração, como diz o Apóstolo. E por isso diz Santo Agostinho no primeiro livro das Confissões: “Fizeste-nos, ó Senhor, para ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”. E também: “O qual preenche de bens o teu desejo” (Salmo 102). A caridade também torna o homem de grande dignidade. Com efeito, todas as criaturas servem à própria majestade divina, e por ela foram feitas, assim como as coisas artificiais servem ao artífice. Mas a caridade faz do servo um livre e um amigo. De onde diz o Senhor: “Já não vos chamarei de servos, mas de amigos” (Jo. 15). Mas porventura Paulo não é servo? E os outros apóstolos não escreviam de si serem servos? Quanto a isto deve-se saber que há duas servidões. A primeira é a do temor, e esta é penosa e não meritória. Se, de fato, alguém se abstém do pecado somente pelo temor da pena, não merece por isto. Ainda é servo. A segunda servidão é a do amor. Se, na verdade, alguém opera não pelo temor da justiça, mas pelo amor divino, não opera como servo, mas como livre, porque voluntariamente, e é por isto que Cristo diz: “Já não vos chamarei mais de servos”. E por quê? A isto responde o Apóstolo: “Não recebestes o espírito de servidão para recairdes no temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos” (Rom. 8). “Não há, de fato, temor na caridade”, como diz I Jo. 4. O temor tem, certamente, tormento, mas a caridade, deleitação.

19. O amor dignifica o homem.

A caridade igualmente torna não somente livres, mas também filhos, para que, a saber, “sejamos chamados filhos de Deus e de fato o sejamos” (I Jo. 3). Com efeito, o estranho se torna filho adotivo quando adquire para si o direito na herança de Deus, que é a vida eterna. Pois, como diz Romanos: “O próprio Espírito dá testemunho ao nosso espírito que somos filhos de Deus. Se, porém, filhos, também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rom. 8). E também: “Eis que são contados entre os filhos de Deus” (Sab. 5).

20. O amor de caridade só pode ser alcançado pela graça.

Do que já foi dito fica patente a utilidade da caridade. Pois que, portanto, seja tão útil, deve-se trabalhar diligentemente para adquirí-la e retê-la. Deve-se saber, porém, que ninguém pode por si mesmo possuir a caridade. Antes, ao contrário, é dom inteiramente de Deus. De onde que diz João: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas Ele quem nos amou primeiro” (I Jo. 4), porque certamente não por causa de nós o amarmos primeiro que Ele nos ama, mas o próprio fato de o amarmos é causado em nós pelo seu amor. Deve-se considerar também, que ainda que todos os dons sejam do Pai das luzes, todavia este dom, a saber, o da caridade, supera todos os demais dons. De fato, todos os outros podem ser possuídos sem a caridade e o Espírito Santo; com a caridade, porém, possui-se necessariamente o Espírito Santo: “A caridade de Deus foi derramada nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Seja o dom das línguas, portanto, seja o dom da ciência ou o da profecia, todos estes podem ser possuídos sem a graça e o Espírito Santo.

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Este texto, de Santo Tomás de Aquino, foi retirado do site www.cristianismo.org.br , onde se encontram muitos outros textos interessantes para o estudo e crescimento da fé e da vida espiritual.

Fonte: https://presbiteros.org.br/o-mandamento-da-caridade/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF