SANTO AMARO E A POLÍTICA
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ)
A grande devoção em nossa região a Santo Amaro, cuja festa
celebramos hoje, é explicada pela presença dos monges beneditinos que foram os
valorosos missionários da zona rural de Campos dos Goytacazes, em cujo
município se situa o célebre Mosteiro de São Bento, em Mussurepe. Vale a pena
recordar um pouco a sua vida, por muitos desconhecida.
Santo Amaro, ou São Mauro, foi monge e abade beneditino, ou
seja, da Ordem de São Bento. Nascido em Roma, de família senatorial, Amaro,
quando tinha apenas doze anos, foi entregue no mosteiro por seu pai, Egrico,
homem ilustre pela virtude e pela nobreza do nascimento, confiando-o aos
cuidados de São Bento, em 522.
Correspondeu tão bem à afeição e à solicitude do mestre, que
foi em breve proposto como modelo aos outros religiosos. São Gregório exaltou-o
por se ter distinguido no amor da oração e do silêncio. Sempre se lhe notou
profunda humildade e admirável simplicidade de coração. Mas nele sobressaia a
virtude da obediência, sendo por isso recompensado por Deus, com o milagre
semelhante ao de São Pedro no lago de Tiberíades, caminhando sobre as águas.
São Bento, mestre de Santo Amaro, escreveu a sua regra,
parâmetro de vida para todos, até para os governantes e políticos. Consta que o
grande imperador Carlos Magno pautava o seu governo pela regra de São Bento.
Podemos resumir a sua regra pela sua frase lapidar: “Nada antepor a Cristo”, ou
seja, Deus em primeiro lugar. A consciência reta, voz de Deus em nosso
interior, deve ser a nossa regra de vida, e não os conchavos, os compromissos
espúrios, a corrupção, a venda do dever pelo dinheiro, etc.
Estou em Portugal, Sintra, a convite, onde participo, como
todos os anos, de um Congresso internacional para Bispos, com Cardeais e Bispos
de vários continentes, promovido pelo Acton Institute, instituição
universitária voltada para estudos de economia, política e sociologia à luz da
Doutrina social da Igreja.
“Entre as muitas questões que hoje a todos preocupam,
importa revelar particularmente as seguintes:… a vida econômico-social e a
política” (Gaudium et Spes 46).
“A passagem da economia ao campo político se afigura
necessária. Sob o termo ‘político’, naturalmente, são possíveis muitas
confusões e devem ser esclarecidas; entretanto, todos têm mais ou menos a
sensação de que domínios sociais e econômicos, tanto nacionais como
internacionais, a decisão última é do poder político. Tomar a sério a política,
nos seus diversos níveis… é afirmar o dever do homem, de todos os homens de
reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é
proporcionada para procurarem juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade.
A política é uma maneira exigente – se bem que não seja a única – de viver o
compromisso cristão ao serviço dos outros… Reconhecendo muito embora a
autonomia da realidade política, esforçar-se-ão os cristãos solicitados a
entrarem na ação política por encontrar uma coerência entre as suas ações e o
Evangelho” (Octog Adv 46).
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