VOCÊ SABE LIDAR COM A TRISTEZA?
Dom Leomar Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Jesus é Deus que se fez humano para revelar nossa verdadeira
identidade. Aos contemplarmos a humanidade de Jesus, vemos a
“transparência” do rosto de Deus. Seus traços humanos – sua história concreta,
suas escolhas, seus comportamentos e seus sentimentos – nos permitem acessar
quem é o homem Jesus, seu lado humano. Ao mesmo tempo, revelam o projeto de ser
humano que Ele nos ofereceu. Os primeiros cristãos sempre refletiram
sobre Jesus como “o rosto divino do humano e rosto humano de Deus”.
Refletir sobre os sentimentos de Jesus pode iluminar nossas
próprias experiências, frequentemente marcadas por incertezas e cansaços. Não
temos como imitar Jesus em tudo, porque os contextos são diversos, mas podemos
nos inspirar em sua vida ele para lidarmos com os revezes do nosso cotidiano.
Como bem diz o Pe. Zezinho em sua canção: “O que é preciso para ser feliz? Amar
como Jesus amou, viver como Jesus viveu, sonhar como Jesus sonhou, sentir o que
Jesus sentia”.
Meditemos sobre a tristeza, esse sentimento que marca nossa
existência e que foi santificado pela vivência de Jesus. Muitas vezes, ela pode
nos paralisar ou lavar à depressão, tirando nossa vontade de viver. Porém, nem
toda a tristeza é ruim. Ficar triste, por exemplo, por estar longe de
Deus, por ter feito algo errado ou por ter ofendido alguém e se arrepender, tem
grande valor. São Paulo escreveu: “A tristeza, segundo Deus, produz um
arrependimento irrevogável que leva à salvação, enquanto a tristeza mundana
traz a morte” (2 Cor 7, 10).
A tristeza saudável pode conter valiosas lições: reconhecer
o que já não temos, mas que nos fazia felizes; tomar consciência dos nossos
defeitos, aprendendo a discernir o bem do mal; a sermos humildes, percebendo o
que nos falta na vida e, ao mesmo tempo, abrir-nos para encontros inesperados,
chamando-nos a sair da autossuficiência.
Jesus experimentou sentiu tristeza ao longo de sua vida. Ele
se entristeceu diante do pecado da “dureza de coração” dos seus interlocutores,
especialmente dos líderes religiosos que o rejeitavam. Experimentou a tristeza
profunda no Jardim das Oliveiras antes ser preso, julgado e condenado (Mc
14,33). Ele superou esse momento entregando-se totalmente à vontade do Pai (Mc
14,36), encontrando na paixão iminente uma lógica de amor a Deus e ao próximo.
Com Jesus, aprendemos que, quando o amor se torna a razão de
viver e de morrer, a tristeza dá lugar à felicidade e à alegria profunda, que
são dons do Espírito Santo. Ele nos ensina a lidar com a tristeza sem nos
perdermos em meio às trevas.
Jesus também manifestou sua vulnerabilidade com lágrimas.
Ele chorou pela morte de seu amigo Lázaro: “Jesus começou a chorar”, e
os presentes comentaram: “Vejam como ele o amava!” (Jo 11,35-36).
Chorou também ao avistar Jerusalém, após sua entrada triunfal messiânica,
lamentando que a Cidade Santa não reconheceu o momento da sua visita. Ele veio
trazer a paz, mas foi rejeitado e crucificado como um malfeitor (Lc 19,41-44).
Jesus disse “Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados” (Mt 5,4) e “Bem-aventurados vocês que agora choram, porque
vocês se alegrarão” (Lucas 6,21). Choramos de tristeza, pelo
sofrimento injusto, pelos nossos pecados. Não são lágrimas inúteis. Elas são
recolhidas por Deus, que no Reino, porá fim à morte e a tudo o que contradiz a
vida em plenitude, com um gesto muito simples e cheio de amor: Ele mesmo
enxugará as lágrimas de todos os rostos (cf. Ap 21,4).
É preciso aprender a sofrer sem perder a esperança. Afinal
até a dor e a tristeza passam, mas Deus permanece conosco. Em Cristo, Deus
experimentou a tristeza e nos indicou o caminho da superação pela fé. Deus é
fonte da alegria e está sempre conosco.
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