A relação entre arte e fé sempre foi estreita na Igreja. Para artista sacro brasileiro, não se trata “apenas expressão estética, mas um belo elo entre o homem e o divino”.
Victor Hugo Barros - Cidade do Vaticano
O Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, que acontece
de sábado (15) a terça-feira (18), é mais um marco na relação entre fé e arte,
sempre cultivada pela Igreja. Ao longo da história, foram vários os momentos em
que o Evangelho foi traduzido por meio de símbolos e imagens que levam a
contemplação do Deus invisível.
“A arte sempre esteve a serviço da Igreja, pois ao
encarnar-se Deus concedeu à humanidade um rosto visível. Desta forma, a arte
sacra não apenas representa o divino, mas o torna acessível a contemplação”,
afirma o artista sacro Ezequiel Arantes.
Basta caminhar pelos corredores da Basílica de São Pedro, no
Vaticano, ou das antigas catacumbas romanas para ter um verdadeiro encontro com
a arte que ajuda a rezar. Por meio de obras artísticas e arquitetônicas, a fé
pode ser melhor entendida e se torna acessível até mesmo para aqueles que
possuem pouca instrução.
“Ao longo da história, a antropologia evidencia a
necessidade humana do belo, capaz de elevar a alma à transcendência. Não é por
acaso que a Igreja é a maior guardiã das obras de arte no mundo”, explica.
Não apenas no Coração Espiritual da Igreja o casamento entre
fé e arte evangeliza. “Qual o edifício mais belo da sua cidade? Para muitos, a
resposta será uma igreja. E por que? Porque nela habita Cristo vivo no sacrário
e a Ele se deve o maior esforço artístico que uma cidade pode oferecer. Mais do
que uma construção, uma igreja materializa a fé de um povo”, reflete o artista.
A contemplação não fica restrita apenas a quem vê a obra
terminada. Ezequiel garante que, também ele, reza durante o processo de
produção das obras.
“A arte sacra não é apenas expressão estética, mas um belo
elo entre o homem e o divino. Uma oferenda que busca refletir, ainda que de
modo imperfeito, a beleza de seu criador. Mesmo durante o meu processo
criativo, busco sempre a espiritualidade. Enquanto estou esculpindo,
desenhando, costumo orar, invocando a devoção que estou tentando representar.
Muitas vezes trabalho com o foninho de ouvido, meditando sobre o sentido
daquela obra”, destaca Ezequiel, que há 22 anos esculpe peças sacras em
madeira.
Sua história com a arte é transmitida pelo sangue. O artista
vem de uma família que há quatro gerações trabalha dando formas e cores à
madeira. Seu primeiro trabalho, aos 12 anos, foi a restauração de um altar.
Desde então, não parou mais.
“A arte é uma ferramenta, uma forma de expressão, uma
linguagem simbólica que Deus nos concedeu para tocar os corações. E sempre que
somos tocados sentimos a sua presença. Eu, em meus trabalhos, busco criar um
ambiente contemplativo, no qual a arquitetura transmite, de forma eloquente,
que ali é o lugar de Deus”, define Arantes.
Deus, que nos criou com mãos de artista, não apenas se serve
da arte para transmitir a sua presença, mas também Ele é fonte de inspiração
para muitos outros que, com seus talentos, enchem a vida de beleza. Na
história, são diversos os testemunhos que provam que “o cristianismo, em
virtude do dogma central da encarnação do Verbo de Deus, oferece ao artista um
horizonte particularmente rico de motivos de inspiração” (João Paulo II, Carta
aos Artistas, 1999).
Esta divina inspiração move não apenas as mãos, mas também
os pés dos artistas que se farão peregrinos em Roma durante as celebrações
deste fim de semana. Ao todo, mais de dez mil integrantes do mundo da cultura e
das artes se inscreveram para participar do evento, vindos de mais de 100
países dos cinco continentes.
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