"Esperar é aguardar algo que já nos foi dado: a
salvação no amor eterno e infinito de Deus. Aquele amor, aquela salvação que
dão sabor ao nosso viver e que constituem a base sobre a qual o mundo permanece
de pé, apesar de toda a maldade e crueldades causadas por nossos pecados de
homens e de mulheres. Esperar, portanto, é acolher esse presente que Deus nos
oferece todos os dias. Esperar é saborear a maravilha de ser amado, procurado,
desejado por um Deus".
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O mundo de hoje tem muita necessidade desta virtude
cristã! O mundo precisa da esperança, assim como tem tanta necessidade da
paciência, uma virtude que caminha de mãos dadas com a esperança. Os homens
pacientes são tecelões de bem. Desejam obstinadamente a paz, e embora alguns
tenham pressa e queiram tudo e já, a paciência tem a capacidade da espera. Até
quando muitos à sua volta cederam à desilusão, quem é animado pela esperança e
é paciente, torna-se capaz de atravessar as noites mais escuras.
Em 8 de maio de 2024, o Papa Francisco concluía seu ciclo de
catequeses "Os vícios e as virtudes", com uma reflexão sobre "A
esperança", onde ressaltava que "Esperança e
paciência caminham de mãos dadas!". Esperança, esta, que não engana, como
reza o título da Bula
de Proclamação do Jubileu 2025 que estamos vivendo.
Dando sequência a sua série de reflexões sobre este
tema, Pe. Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre "A
virtude Escatológica da Esperança":
"O Ano Jubilar 2025 tem como tema sermos todos
“Peregrinos de Esperança”, num mundo mergulhado de crises, guerras, revoltas,
falta de fé e busca de reconciliação. Refletimos já o aspecto de sermos
todos peregrinos, pois, conforme a liturgia reza, não temos aqui “cidade
permanente, mas buscamos a cidade que há de vir”. O Caderno do Jubileu número
23, - “A Igreja Peregrina rumo à plenitude”, de autoria de Achim Schütz,
concentra-se na questão da relação entre o tempo e a eternidade. O Caderno
proposto pela Sagrada Congregação para a Evangelização, a pedido do Papa
Francisco, apresenta o capítulo 4 intitulado: “A virtude Escatológica da
Esperança”. Baseia-se nas suas reflexões nos números 48 a 51 da Constituição sobre
a Igreja, a Lumen
Gentium, que aponta a índole escatológica da nossa vocação. A virtude
da esperança, tema rico de nosso Papa, é a virtude por excelência que determina
o caráter escatológico dos fiéis da Igreja.
O autor diz que “a esperança Cristã não é uma utopia, nem
tem as características de uma fantasia. Essa última oferece as perspectivas de
condições que não tem nenhum fundamento na realidade. Cavalo com três cabeças
ou com asas tem, inegavelmente, características fantásticas. Um animal assim
não existe no mundo. É construído pelo engenho humano, combinando, de modo
bizarro, vários elementos que existem realmente. Na base de uma fantasia,
portanto, há um sujeito humano que utiliza as suas capacidades criativas, de
tal modo, a invocar um ser que jamais foi visto no reino da experiência real.
Utopia é um pouco diversa. Mesmo nesse caso, o homem cria algo da sua
imaginação a partir de elementos da realidade, que são combinados conforme seu
desejo. Um estudante de medicina poderia imaginar ter frequentado todas as
aulas prescritas em menos de três anos e poder reivindicar, finalmente o título
de doutor”. A esperança cristã não é utópica, nem fantasiosa, mas é real,
verdadeira porque se assegura e se alicerça naquele que ressuscitou e nos dá
razão para acreditar na sua presença, atuação e na sua obra redentora.
Papa Francisco tem refletido em seu Pontificado a virtude da
esperança. Na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, em 2013, a sua
mensagem ecoava assim: “não deixem que lhes roubem a esperança”. Nosso Sumo
Pontífice, com os gestos e palavras, é uma testemunha dessa esperança,
entendida como ação espiritual de quem não se rende à noite do mal no mundo.
Aquele que vive da esperança, afirma o Pontífice, colabora com Deus para “fazer
novas todas as coisas”. A esperança, um dom de Deus, também é uma tarefa que
todo cristão deve cultivar, alerta o Papa Francisco no novo livro "A
esperança é uma luz na noite" (em língua original "La speranza è
una luce nella notte"), uma antologia que reflete sobre essa virtude,
também tema do Ano Santo. O livro publicado em novembro do ano passado,
disponível nas editoras, é um grande subsídio para esse ano Jubilar 2025.
Reflete o Papa Francisco: "O Jubileu de 2025, ano santo
que eu quis que fosse dedicado ao tema 'Peregrinos de esperança', é uma ocasião
propícia para refletir sobre essa virtude cristã fundamental e decisiva.
Especialmente em tempos como os que estamos vivendo, em que a terceira guerra
mundial em pedaços que está se desenrolando diante de nossos olhos pode nos
levar a assumir atitudes de desânimo sombrio e cinismo mal disfarçado. A
esperança, por outro lado, é um dom e uma tarefa para todo cristão. É um dom
porque é Deus quem a oferece a nós. Esperar, de fato, não é um mero ato de
otimismo, como quando, às vezes, esperamos passar em um exame na universidade
(“esperamos conseguir”) ou esperamos que o tempo esteja bom para o passeio fora
da cidade em um domingo de primavera (“esperamos que faça tempo bom”). Não,
esperar é aguardar algo que já nos foi dado: a salvação no amor eterno e
infinito de Deus. Aquele amor, aquela salvação que dão sabor ao nosso viver e
que constituem a base sobre a qual o mundo permanece de pé, apesar de toda a
maldade e crueldades causadas por nossos pecados de homens e de mulheres.
Esperar, portanto, é acolher esse presente que Deus nos oferece todos os dias.
Esperar é saborear a maravilha de ser amado, procurado, desejado por um Deus
que não se fechou em seus céus impenetráveis, mas que se fez carne e sangue,
história e dias, para compartilhar o nosso destino”."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro
de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em
Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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