"Jesus é o autor da verdadeira esperança. Nele não nos
confundimos. É nele que devemos colocar nossa esperança que não se ilude, que
não se apaga."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
«Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?», pergunta São
Paulo na Carta aos Romanos. "Na verdade - explica o Papa na Bula
de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025 - é o Espírito
Santo, com a sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nos crentes
a luz da esperança: mantém-na acesa como uma tocha que nunca se apaga, para dar
apoio e vigor à nossa vida. Com efeito - acrescentou Francisco - a esperança
cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e
ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino".
Dando sequência à sua série de reflexões sobre a virtude
teologal da esperança, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje
"Esperança é a última que morre":
"A esperança é a última que morre, diz o provérbio
popular. O ano jubilar reflete sobre a virtude da esperança que não decepciona.
O Catecismo da Igreja católica, afirma que “a esperança é a virtude teologal
pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade,
pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas
nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo” (CIgrC,1817). A
esperança não se apoia em nós mesmos, mas naquele que venceu e Ressuscitou, razão
de nossa fé e esperança.
O arcebispo de Juiz de Fora, Minas Gerais, dom Gil Antônio
Moreira refletia com grandeza sobre a virtude da Esperança. Escrevia assim:
“Esperança é uma palavra vencedora. Quando tudo parece perdido, irremediável,
destruído, ela comparece para salvar. Ela é capaz de transformar a derrota em
vitória, o perigo em alívio, o desespero em alegria. A esperança é tão poderosa
que consegue tirar do domínio da morte os que não veem mais razão para
viver. Indigentes se tornam nobres, miseráveis se tornam ricos, criminosos
passam a ser bons, corruptos se convertem, ladrões devolvem quatro vezes mais o
que roubaram, como os Zaqueus que se repetem no caminhar da história (cf. Lc
19, 1-10). A esperança transforma as cinzas em fênix, a cruz em sinal de vida,
as lágrimas em vitória. A esperança é a última que morre, diz o jargão popular.
Ela é desprezada pelos pessimistas, ameaçada pelos gananciosos, agredida pelos
incrédulos. Da esperança tudo renasce, ainda que pareça impossível recomeçar. O
pecado costuma tirar a esperança, causar o desânimo e desiludir quem ia bem e
de repente cai. A esperança é uma senhora que vem dar a mão àquele que se
desiludiu consigo mesmo ou com a situação em que foi precipitar-se”[1].
Pois onde humanamente não existe mais esperança nas mais variadas realidades
cruciais, é ali justamente que a esperança brota como uma luz no fundo do
túnel, ou como o Papa Francisco proclama em seu livro, “La speranza è una
luce nella notte" - "A esperança é uma luz na noite".
Quando tudo parece perdido, surge um novo horizonte que se descortina, uma nova
luz a irradiar nas trevas. É a experiência que os apóstolos sentiram quando
tudo pareceu acabar no madeiro da cruz e na sepultura do corpo de Jesus no
santo sepulcro.
Na tentativa de conceituarmos a Esperança cristã, o teólogo
Achim Schütz, faz algumas reflexões no Caderno do Jubileu número 23, “A Igreja
Peregrina rumo à plenitude”, no capítulo 4 intitulado: “A virtude Escatológica
da Esperança”. Falando sobre a esperança na história, aponta assim
Schütz: “Com toda a sinceridade, é necessário sublinhar o quão pouco a Tradição
Cristã pode reivindicar, exclusivamente, o conceito de esperança. Definem-se
como esperança muitas coisas que estão bem distantes de alcançar o ponto
autêntico do significado desta virtude e proclamada eclesialmente.
Constantemente, as ideias e as atitudes são definidas como esperanças, mas
haveriam ser chamadas, ao invés disso, de fantasias ou utopias. Existem, porém,
esperanças que merecem certamente esses nomes, sem tocar a essência da
Esperança Cristã. A história intelectual europeia está repleta delas”[2].
E completa o autor no Caderno Conciliar – “A igreja é uma
autoridade que assegura e tranquiliza. Protege das falsas esperanças. No
seu aqui e agora, é garantia da eternidade. Segundo o pleno
sentido da palavra, a Igreja tem uma índole escatológica, como já resumido no
título do sétimo capítulo da Lumen
Gentium. Nela, não menos importante, terminam e perecem ideias de
esperança que tem pouco em comum com a mensagem cristã de salvação. Mesmo que
apenas Jesus Cristo tenha direito de ser definido como mediador em sentido
completo, a Igreja realiza, contudo, um papel de mediação de muitos modos”[3].
A missão da Igreja, portanto, de cada cristão batizado, é de
proteção contra as falsas esperanças, esperanças ilusórias e fantasiosas.
Sucumbimos facilmente no mundo hodierno em esperanças sem sentido, utópicas,
colocando nossa vida alicerçada na idolatria do dinheiro, sucesso, projetos
econômicos e mirabolantes. Jesus é o autor da verdadeira esperança. Nele não
nos confundimos. É nele que devemos colocar nossa esperança que não se ilude,
que não se apaga."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro
de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em
Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
___________________
[1] https://www.cnbb.org.br/nao-deixem-que-lhes-roubem-a-esperanca/
[2] SCHUTZ,
Achim. A Igreja Peregrina rumo à plenitude, Caderno do Jubileu número 23, Ed.
CNBB, 2023, p. 37
[3] Idem,
42.
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