O SEXTO DIA DA CRIAÇÃO E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025
14 de fevereiro de 2025
por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá
Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1,31). Este lema da
Campanha da Fraternidade 2025 ajude-nos a ver na criação a beleza das coisas,
pois Deus criou o universo, os seres vegetais, espirituais, animais e humanos
com infinito amor. É importante perceber a forma como o Senhor criou as coisas
a partir de Santo Ambrósio, bispo de Milão, no século IV, uma vez que ele fez
uma análise das coisas de Deus criadas a serviço do ser humano e como é
possível o cuidado para com todos os seres vivos.
O sexto dia
A criação foi feita por Deus Pai Criador em seis dias. O
sexto dia tem uma relevância particular porque antes da criação do ser humano
teve a criação dos quadrúpedes, serpentes, os animais da terra e rebanhos, os
répteis. Deus viu que era bom para em seguida Ele fazer o ser humano (cfr. Gn
1,24-26)[1]. Deus criou as coisas para o serviço do
ser humano e não para o seu domínio. É claro que muitas delas, servem como
alimento, sem misturas, mas com grandes sabores para a vida humana.
A terra produza os frutos
Santo Ambrósio afirmou o dom da terra, criado por Deus que
produza frutos para a vida humana. A graça da terra foi dada para todas as
pessoas. Ele teve presentes o caso de Eliseu (cfr. 2 Rs 4, 38-43)com o seu
servo que tinha dez pães de cevada para cem pessoas, de modo que o profeta
disse que ele daria o suficiente e todos comeriam, porque como disse o Senhor,
“comerão e ainda sobrarão” (cfr. 2 Rs 4,43). A fé nas coisas plantadas dá e
dará colheita abundante, a comida na realidade humana pela realização das
palavras do Senhor[2].
A beleza da criação
Deus fez as coisas em seis dias de modo que tudo foi feito
de uma forma maravilhosa, bonita, bela. O bispo de Milão teve presentes as
palavras do Senhor ditas em Isaias (cfr. Is 40,22) pois “Quem mediu a água com
a mão e o céu com a palma, e toda a terra com a mão fechada?! Quem colocou os
montes, os rochedos e os pratos na balança?!”. Foi com grande amor que o Senhor
criou todas as coisas e os seres humanos. Uma outra pergunta levantou o bispo
de Milão: “Qual é pois, o ser humano que ousa reivindicar para si uma sabedoria
igual à de Deus tendo o seu conhecimento, próprio de Deus?![3]. O poder de Deus na criação manifestou a
sua beleza no qual tudo converge para o bem das coisas, dos seres humanos e da
própria glória de Deus.
O sexto dia nas gerações
Santo Ambrósio teve presentes as palavras da Escritura onde
Deus afirmou que a terra produza a alma vivente dos rebanhos, dos animais e
répteis (Gn 1,24). Este ponto significou que a Palavra de Deus correu por toda
a criação na constituição do mundo, de modo que fossem produzidas da terra as
espécies de seres vivos que Deus determinou, de modo que todas viessem a ter
uma sucessão conforme a sua espécie e semelhança. Na ordem do Criador a espécie
gera outra espécie de modo que o leão gera leão, o tigre gera tigre, o boi gera
boi, a vaca gera a vaca, o cisne gera cisne, a águia gera águia[4]. Cada espécie gera a sua própria espécie.
Desta forma, o ser humano gera o ser humano.
O Senhor é digno de louvor
Santo Ambrósio seguiu as palavras do salmista que disse:
“Quão imensas são tuas obras, ó Senhor! Fizeste todas com sabedoria” (Sl
104,24). Todas as coisas foram feitas com perfeição. A sabedoria divina penetra
todas, de modo que é mais forte o testemunho da natureza do que o argumento da
doutrina[5]. O bispo de Milão teve presentes o
conhecimento dos animais, e também dos seres humanos em se salvaguardarem
diante dos perigos, a resistência e a coragem de todos os seres criados. Este
movimento vem do próprio Criador. Os animais discernem pelo cheiro os alimentos
nocivos e os salutares, porque a melhor mestra da verdade é pois a natureza[6]. A natureza das feras é simples,
desconhecendo fraudes à verdade. Foi o Senhor, segundo Santo Ambrósio que Ele
dispôs este poder de uma forma conveniente a todas as criaturas[7].
A sabedoria divina na humanidade
A Sabedoria dada às coisas pelo Senhor fizeram-nas
prosseguir na existência de modo que Ele criou tudo com ordem, assim da mesma
forma criou o ser humano com sabedoria[8]. Tudo procedeu de seu imenso poder para
com todas as criaturas. Santo Ambrósio seguiu a Palavra de Deus que disse:
“Admirável, de fato é o Senhor nas alturas”(Sl 93,4)[9].
A criação humana
O sexto dia colocou também a ordem de Deus que disse:
“Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”(Gn 1,26). O verbo ‘façamos’
coloca Deus Uno e Trino na criação humana. O Senhor não disse estas coisas aos
anjos mas ao ser humano ao criá-lo com amor. O ser humano é criado, segundo as
Escrituras, à imagem do Deus invisível e com o Primogênito de toda a criatura,
Jesus Cristo (cf. Cl 1, 13-15)[10]. A criação humana dada na imagem do
Criador e Redentor é para servir as criaturas e não para dominá-las. Ele foi
percebido, criado segundo Santo Ambrósio para edificar a casa[11]. Ele tinha presente que a casa de Deus é
comum ao pobre e ao rico[12] de modo que todos tem os mesmos
compromissos e deveres diante do Criador. Todos os seres vivos veem as coisas
mas somente ao ser humano foi dada a graça de ver o universo e contemplar o seu
Criador[13].
Santo Ambrósio falou que o sexto dia criado por Deus fez as
coisas, os animais domésticos e selvagens, e a totalidade da obra do mundo foi
concluída, com a criação do ser humano, sendo o principado de todos os seres
vivos, o ponto mais alto do universo, a graça dada para toda a criação[14]. Nós somos chamados a viver a Palavra de
Deus no contexto humano, ecológico, eclesial, social e um dia nós sejamos
participantes do Reino de Deus pelo amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.
Notas:
[1] Cfr. Examerão, 2,3. Os
seis dias da criação. In: Santo Ambrósio. São Paulo:
Paulus, 2009, pgs. 226-227.
[2] Cfr. Idem,2,6,
pg. 228.
[3] Cfr. Ibidem, 2,7, pg. 229.
[4] Cfr. Ibidem, 3,9, pg. 230.
[5] Cfr. Ibidem, 4, 21, pg.
237.
[6] Cfr. Ibidem, pg. 237.
[7] Cfr. Ibidem,4, 22, pg. 238.
[8] Cfr. Ibidem, 4, 27, pg.
243.
[9] Cfr. Ibidem, 6,36, pg. 247.
[10] Cfr. Ibidem, 7,40, pg.
251.
[11] Cfr. Ibidem, 8,51, pg.
261.
[12] Cfr. Ibidem, 8,52, pg.
262.
[13] Cfr. Ibidem, 9,67, pg.
272.
[14] Cfr. Ibidem, 10,75, pg.
277.
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