O significado dos 7 dons do Espírito Santo
Francisco
Vêneto - publicado em 27/01/17
Qual é a diferença entre sabedoria, entendimento e
ciência? E por que o “temor de Deus” é diferente do medo?
FORTALEZA
Com o dom da fortaleza, Deus nos dá a coragem necessária
para enfrentarmos as circunstâncias desafiadoras da vida e a firmeza de caráter
para suportarmos as perseguições e tribulações decorrentes do nosso testemunho
cristão, rejeitado e combatido pelo mundo. Foi graças ao dom da fortaleza que
os santos recusaram as falsas promessas e enfrentaram as ameaças da
mundanidade, muitos com o sacrifício da própria vida.
SABEDORIA
O dom da sabedoria nos leva a distinguir entre o que é
essencial e o que não é; entre o que realmente importa e o que é meramente
secundário. Ser sábio é saber escolher e apreciar o bem em meio às muitas
alternativas sedutoras que se colocam diante do nosso livre arbítrio,
confundindo o nosso julgamento com aparências que precisam ser desmascaradas. A
sabedoria não necessariamente envolve inteligência, cultura e entendimento: é
outro tipo de conhecimento; é a capacidade singela de enxergar ou intuir o bom,
o belo e o verdadeiro a partir da referência do Absoluto, não do relativo. É o
dom de “saber viver” em Deus, na bondade, na verdade e na beleza, ainda que não
se entendam muitas coisas no sentido intelectual do termo “entender” – aliás, o
entendimento é outro dom divino, que veremos em seguida.
ENTENDIMENTO
Este dom torna a nossa inteligência capaz de compreender e
assimilar os conteúdos das verdades reveladas, auxiliando-se também da ciência,
que ilumina a razão a fim de conhecermos melhor a criação e chegarmos assim ao
Criador. Pode parecer um tanto confuso, à primeira vista, distinguir entre a
sabedoria, o entendimento e a ciência. De fato, são dons complementares entre
si, mas há distinção entre eles. Expliquemos dando um exemplo: há pessoas
simples que, mesmo sem entenderem o vasto significado da liturgia, dos dogmas e
das orações, sabem apreciar o sabor das coisas de Deus e dão testemunho de
intensa devoção e piedade, sendo capazes de inspirar e ajudar os outros a
viverem uma vida espiritual mais profunda, ainda que esses outros tenham
maiores talentos intelectuais. Essas pessoas simples possuem o dom da
sabedoria, mas lhes falta o entendimento – que é o dom de compreender o sentido
das coisas de Deus. Com o dom do entendimento, o cristão contempla com mais
lucidez e consciência o mistério da Santíssima Trindade, o amor de Cristo pela
humanidade, o significado da Sagrada Eucaristia, dos sacramentos, dos ritos
litúrgicos, da moral católica etc. E onde é que entra o dom da ciência? A
ciência nos ajuda nessa compreensão fornecendo-nos um tesouro crescente de
informações sobre a criação como precisamente isso: criação, obra do Criador.
CIÊNCIA
É o dom divino que aperfeiçoa as nossas faculdades
intelectivas e nos ajuda a compreender a realidade como obra do Criador,
iluminados, simultânea e harmoniosamente, pela fé e pela razão – “as
duas asas que elevam o espírito humano à contemplação da Verdade”, conforme
a bela descrição apresentada pela encíclica “Fides et Ratio”, do Papa
São João Paulo II. O dom da ciência, portanto, nos abre à contemplação do
Criador mediante o conhecimento da criação. É importante observar que se trata
do dom da ciência de Deus, não da ciência das coisas do mundo; ele envolve o
reconhecimento da criação como meio para a contemplação de Deus. Graças ao dom
da ciência, os santos, por exemplo, souberam ver Deus atrás das criaturas como
que através de um espelho. São Francisco de Assis compôs o “cântico das
criaturas” ao Senhor porque todos os seres criados, desde as flores até as
aves, desde a água até o fogo e o sol, lhe eram ocasião
para contemplar e amar a Deus, Criador de tudo o que há. O dom da
verdadeira ciência nos leva, mediante o reto conhecimento e reconhecimento
das criaturas como criaturas, a vislumbrar o Criador. Entre as criaturas não
se incluem apenas os demais seres tangíveis, mas também as
próprias ações e comportamentos humanos, que fazem parte do mundo criado: o dom
da ciência, portanto, nos ajuda ainda a saber como agir – e, neste
sentido, evoca o dom do conselho.
CONSELHO
É o dom que permite à alma o reto discernimento sobre como responder às circunstâncias da existência, tanto no tocante às próprias decisões quanto na hora de orientar os irmãos a trilharem o caminho do bem.
PIEDADE
É a graça de Deus na alma que proporciona o relacionamento
filial e profundo com Deus, mediante a oração e as práticas piedosas ensinadas
pela Igreja. É o dom da devoção, do fervor, da experiência de viver em comunhão
permanente com Deus.
TEMOR DE DEUS
O nome deste dom pode causar estranheza e confusão, pois muitos o entendem em sentido negativo, como se devêssemos ter medo de Deus. Na verdade, trata-se do dom divino que nos leva a “temer” por Deus no sentido de não querer que Ele seja desprezado e deixado de lado, nem pelos outros, nem por nós mesmos. É o santo temor de que Deus seja ofendido; ao mesmo tempo, é o sadio temor das consequências do afastamento de Deus – consequências que não consistem num castigo imposto por Deus, mas sim na decorrência natural da nossa própria possibilidade de optar por viver longe d’Ele: Deus respeita a nossa liberdade a tal ponto que não nos impede de odiá-lo se assim escolhermos; por isso mesmo, Ele tampouco impede as consequências desse ódio voluntário, que se resumem no afastamento eterno de Deus decretado por nós próprios com a nossa liberdade e arbítrio. O dom do santo temor de Deus nos ajuda, assim, a evitar tudo o que nos afasta d’Ele – ou seja, o pecado; e não por medo de castigo, mas pela justa consciência de que, ao nos afastarmos d’Ele, nós próprios O perdemos voluntariamente.
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Imagens ilustrativas via blog Almas Castelos
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