Jesus nos recomenda que sejamos misericordiosos, como o Pai
celeste é misericordioso. A identidade do cristão é o amor.
Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. - Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Celebramos neste domingo o sétimo do Tempo Comum. A primeira
parte do Tempo Comum vai até a semana que vem, quando, na Quarta-feira de
Cinzas, 5 de março, tem início o tempo da Quaresma.
Estamos próximos de finalizar o segundo mês do ano civil e
podemos nos perguntar: o que temos feito até agora? O tempo da Quaresma se
aproxima; é momento de rever nossa vida e buscar um recomeço. Se ainda
precisamos mudar algo, que comecemos a partir deste terceiro mês do ano, que se
inicia no próximo sábado, dia 1º. Aproveitemos o tempo do jubileu que vivemos.
Participemos em família da Santa Missa, pois família que
reza unida permanece unida. Se ensinarmos nossos filhos e netos a participarem
da missa desde pequenos, eles se acostumarão com o ambiente da Igreja e
sentirão gosto pela oração. No Evangelho de hoje, Jesus nos ensina a amar a
todos, inclusive aqueles que são nossos inimigos. Por isso, se temos alguém que
consideramos inimigo ou de quem não gostamos, não devemos desejar o mal a essa
pessoa nem pagar o mal com o mal, mas sim pagar o mal com o bem, pois foi assim
que Jesus nos ensinou.
Estamos no Ano Jubilar da Esperança, um ano de graça em que
recordamos os dois mil e vinte e cinco anos do nascimento de Jesus. Ao longo
deste ano, somos convidados a confiar na misericórdia do Senhor, e, no
Evangelho de hoje, Jesus nos ensina a sermos misericordiosos do mesmo modo que
o Senhor é misericordioso conosco. Não cabe a nós julgar ninguém nem apontar o
dedo condenando. Somente Deus julgará os atos de cada um.
A primeira leitura da missa deste domingo é do Primeiro
Livro de Samuel (1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23). Nesse trecho, acompanhamos a
decisão de Davi de não se vingar de seu “inimigo” Saul. Mesmo tendo a
oportunidade de matá-lo, Davi desiste de fazê-lo. Essa leitura está em sintonia
com o que encontramos no Evangelho, quando Jesus ensina que não devemos pagar o
mal com o mal. Davi atravessou para o outro lado e parou num alto monte, ao
longe, deixando um grande espaço entre eles. Então, ele afirmou que estava com
a lança do rei e que alguém de seu exército fosse buscá-la. “O Senhor
retribuirá a cada um conforme a sua justiça e fidelidade.”
Por isso, meus irmãos, não estendamos a mão contra ninguém e
não paguemos o mal com o mal, mas sim com o bem. Rezemos por nossos inimigos,
pois o Senhor, justo juiz, nos retribuirá de acordo com nossas atitudes.
O Salmo Responsorial é o 102(103), cujo refrão diz: “O
Senhor é bondoso e compassivo.” Todos nós devemos ser bondosos e
compassivos com os outros, à semelhança do Senhor, ou seja, perdoando aquilo
que o próximo fez contra nós, do mesmo modo que Deus nos perdoa.
A segunda leitura da missa deste domingo é da Primeira Carta
de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,45-49). Nesse trecho, Paulo faz uma
comparação entre o primeiro Adão e o segundo Adão. O primeiro Adão foi tirado
da terra e, por meio dele, o pecado entrou no mundo. Já o segundo Adão veio do
céu, foi revelado a nós pelo Espírito Santo e, através de seu sangue derramado
na cruz, perdoa nossos pecados. O homem terreno é o primeiro Adão, e Jesus é o
segundo Adão, o homem espiritual.
O Evangelho desta missa de domingo é de Lucas (Lc 6,27-38).
Nele, encontramos a síntese de tudo o que já dissemos até aqui e que foi
expresso na primeira leitura. Jesus nos orienta a amar nossos inimigos e a
rezar por eles. Se alguém fez algo contra nós, não devemos retribuir na mesma
moeda, mas sim orar por essa pessoa e seguir nossa vida, pois a recompensa que
receberemos será muito maior.
Precisamos colocar em prática aquilo que rezamos no
Pai-Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a
quem nos tem ofendido.” Ou seja, se pedimos o perdão de nossas faltas
a Deus, também devemos perdoar aqueles que nos ofenderam. Por mais difícil que
seja, precisamos agir conforme Jesus nos orienta. Se nos derem uma bofetada
numa face, devemos oferecer a outra. Jesus nos ensina a amar a todos, pois o
amor vem de Deus.
Jesus nos recomenda que sejamos misericordiosos, como o Pai
celeste é misericordioso. A identidade do cristão é o amor. Se somos
verdadeiramente discípulos de Jesus, devemos amar a todos, inclusive aqueles
que nos querem mal. Como já dissemos, estamos no Ano Santo Jubilar da
Misericórdia; portanto, devemos pedir a Deus que nos conceda sua misericórdia
e, a exemplo d’Ele, sermos misericordiosos com o próximo.
Assim, conforme disse Jesus, não devemos medir nem julgar
ninguém, pois, com a mesma medida com que julgarmos, seremos julgados. Aquilo
que hoje apontamos no outro pode ser apontado contra nós no futuro. Vivamos bem
com Deus e com o próximo, peçamos o perdão e ofereçamo-lo da mesma forma, pois
assim age o verdadeiro discípulo de Jesus.
Celebremos com alegria este sétimo domingo do Tempo Comum e
nos preparemos para finalizar mais um mês e iniciar o próximo com o início da
Quaresma e a preparação para a Páscoa. E não nos esqueçamos de ser
misericordiosos, do mesmo modo que o Senhor é misericordioso conosco.
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