O dia 13 de março de 2024 marca os doze anos do pontificado
do Papa Francisco, caracterizado pela sua profunda preocupação com o cuidado da
Casa Comum, especialmente da Amazônia. Aqui estão 12 marcos que refletem o seu
amor por esta região e pelos seus povos.
Júlio Caldeira, IMC
Desde o início do seu pontificado, a 13 de março de 2013, o
Papa Francisco tem sublinhado a importância de cuidar do planeta, a que chama
“Casa Comum”. Através de discursos, mensagens e encontros, tem demonstrado
grande afeto e preocupação com a Amazônia e os seus povos. Aqui estão 12
momentos-chave em que ele abordou esta causa:
1. Ser guardiões da criação
No seu primeiro discurso como Papa (19 de março de 2013),
Francisco apelou à humanidade para que fosse guardiã da criação e protegesse
tanto a natureza como os outros seres humanos. Sublinhou a importância da
bondade e da ternura como elementos essenciais deste compromisso.
“Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de
responsabilidade em âmbito económico, político ou social, a todos os homens e
mulheres de boa vontade: sejamos «guardiões» da criação, do desígnio de Deus
inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais
de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para
«guardar», devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a
inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos
sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as
más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade,
ou mesmo de ternura”.
2) Reforçar o “rosto amazônico” da Igreja
Durante a sua viagem ao Rio de Janeiro para a Jornada
Mundial da Juventude (27 de julho de 2013), o Papa apelou a uma presença
pastoral reforçada na Amazônia, promovendo um clero indígena adaptado às
condições locais.
“A obra da Igreja [na Amazônia] deve ser mais incentivada e
relançada. Fazem falta formadores qualificados, especialmente formadores e
professores de teologia, para consolidar os resultados alcançados no campo da
formação de um clero autóctone, inclusive para se ter sacerdotes adaptados às
condições locais e consolidar por assim dizer o «rosto amazônico» da Igreja”.
3. Alegria pela criação da REPAM
Em setembro de 2014, o Papa celebrou a fundação da Rede
Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) como uma iniciativa fundamental para a defesa da
Amazônia e dos seus povos.
“O Papa Francisco, alegrando-se por ver o seu pedido para a
criação desta rede inovadora, concretamente orientada para as questões
ecológicas da Amazônia, deseja-lhe o maior sucesso, recordando a todos que a
rede digital deve ser um lugar rico em humanidade: não é uma rede de cabos, mas
de pessoas humanas. (...) Com a esperança de que o trabalho quotidiano daqueles
que colaboram na Rede Eclesial Pan-Amazônica contribua para alargar os espaços
de compreensão e de solidariedade entre os homens e os povos, refletindo
constantemente aquela “Luz das nações” - Cristo - que brilha no rosto da Igreja
Universal e das Igrejas locais, o Santo Padre, com amizade e confiança,
concede-lhes a Bênção Apostólica que implora”.
4. Laudato Si': um apelo ao cuidado da casa comum
Com a encíclica Laudato Si' (15 de maio de 2015), Francisco
reafirmou a necessidade de uma ecologia integral, recordando que “tudo está
interligado” e defendendo mudanças estruturais na economia e na política para
proteger o planeta.
A proposta central reside numa ecologia integral que
“incorpora o lugar particular do ser humano neste mundo e as suas relações com
a realidade que o rodeia” (LS 15), e no “compromisso com outro modo de vida”
(LS 203) que exerce “uma pressão saudável sobre os detentores do poder
político, económico e social” (LS 206). Apresenta a necessidade do cuidado do
planeta, que se baseia na relação entre Deus, os seres humanos e a natureza,
onde “tudo está interligado” (LS 138).
5. Pedagogia da ecologia integral
Em Quito, Equador (7 de julho de 2015), o Papa sublinhou a
responsabilidade de preservar a Amazônia para as gerações futuras, promovendo
uma consciência ecológica global.
“Estão aqui conosco irmãos dos povos indígenas da Amazônia
equatoriana. (...) E aqui o Equador - juntamente com os outros países do bioma
amazônico - tem a oportunidade de exercer a pedagogia de uma ecologia integral.
Recebemos o mundo como herança dos nossos pais, mas lembremo-nos também que o
recebemos como um empréstimo dos nossos filhos e das gerações futuras, a quem
temos de o devolver! E melhorado. E isto é gratuidade! Da fraternidade vivida
na família, nasce o segundo valor, a solidariedade na sociedade, que não
consiste apenas em dar aos necessitados, mas em sermos responsáveis uns pelos
outros. Se virmos no outro um irmão, ninguém pode ser excluído, ninguém pode
ser deixado de fora”.
6. Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação
Estabelecido em 1º de setembro de 2015, como é o caso na
Igreja Ortodoxa, esse dia convida os fiéis e as comunidades a renovar seu
compromisso com a proteção do meio ambiente.
“Anualmente, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação
oferecerá a cada fiel e às comunidades a preciosa oportunidade para renovar a
adesão pessoal à própria vocação de guardião da criação, elevando a Deus o
agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou ao nosso cuidado, invocando
a sua ajuda para a proteção da criação e a sua misericórdia pelos pecados
cometidos contra o mundo em que vivemos, (...) implementar oportunas
iniciativas de promoção e de animação, para que esta celebração anual seja um
momento forte de oração, reflexão, conversão e uma oportunidade para assumir
estilos de vida coerentes” (Francisco, 06 de agosto de 2015).
7. Aprender com os povos indígenas
Durante a sua visita à Colômbia (7 de setembro de 2017),
Francisco destacou a “sabedoria arcana” dos povos da Amazônia e a necessidade
de aprender com a sua visão da vida e da natureza.
“Gostaria de dedicar um pensamento aos desafios da Igreja na
Amazônia, uma região da qual justamente vos sentis orgulhosos, porque é parte
essencial da maravilhosa biodiversidade deste país. (...) Penso sobretudo na
arcana sabedoria dos povos indígenas da Amazônia, interrogando-me se ainda
somos capazes de aprender deles a sacralidade da vida, o respeito pela
natureza, a consciência de que a razão instrumental não é suficiente para
colmar a vida do homem e dar resposta aos seus interrogativos mais inquietantes.
Por isso, convido-vos a não abandonar a si mesma a Igreja na Amazônia. A
consolidação dum rosto amazônico para a Igreja que peregrina aqui é um desafio
para todos vós, que depende do crescente e consciencioso apoio missionário de
todas as dioceses colombianas e de todo o seu clero”.
8. Convocação do Sínodo da Amazônia
Em 15 de outubro de 2017, o Papa anunciou um Sínodo especial
para a Pan-Amazônia, a realizar em outubro de 2019, com o objetivo de encontrar
novos caminhos para a evangelização e a ecologia integral.
“O objetivo principal desta convocação é encontrar novos
caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, sobretudo dos
indígenas, muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno,
também por causa da crise da floresta Amazônica, pulmão de importância
fundamental para o nosso planeta. Os novos Santos intercedam por este evento
eclesial, para que, no respeito da beleza da criação, todos os povos da terra
louvem a Deus, Senhor do universo, e por Ele iluminados percorram caminhos de
justiça e de paz”.
9. Defesa da vida, da terra e das culturas
Durante a sua visita a Puerto Maldonado, no Peru (19 de
janeiro de 2018), Francisco denunciou as ameaças contra os povos indígenas e
defendeu a proteção dos seus direitos e territórios.
“Quis vir visitar-vos e escutar-vos, para estarmos juntos no
coração da Igreja, solidarizarmo-nos com os vossos desafios e, convosco,
reafirmarmos uma opção sincera em prol da defesa da vida, defesa da terra e
defesa das culturas. Provavelmente, nunca os povos originários amazônicos
estiveram tão ameaçados nos seus territórios como o estão agora. (...) Devemos
romper com o paradigma histórico que considera a Amazônia como uma despensa
inesgotável dos Estados, sem ter em conta os seus habitantes. Considero imprescindível
fazer esforços para gerar espaços institucionais de respeito, reconhecimento e
diálogo com os povos nativos, assumindo e resgatando a cultura, a linguagem, as
tradições, os direitos e a espiritualidade que lhes são próprios. Um diálogo
intercultural, no qual sejais «os principais interlocutores, especialmente
quando se avança com grandes projetos que afetam os [vossos] espaços» (LS
146)”.
10. Paz através da conversão ecológica
No Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2020), o Papa
associou a paz à necessidade de reconciliação ecológica, apelando a uma mudança
na relação entre a humanidade e a natureza.
“Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os
outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos
recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de
hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –,
precisamos duma conversão ecológica. O Sínodo recente sobre a Amazônia
impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica
entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências
e as esperanças. Este caminho de reconciliação inclui também escuta e
contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa
casa comum.
11. “Querida Amazônia”: sonhos para a região
A exortação apostólica “Querida Amazônia” (12 de fevereiro
de 2020) apresenta quatro sonhos: social, cultural, ecológico e eclesial, como
pilares para um futuro sustentável e justo na região.
“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais
pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua
dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que
a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana. Sonho
com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna,
a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com
comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia,
que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos” (QA 7).
12. Fundação da CEAMA
Em resposta ao Sínodo da Amazônia, foi fundada a 29 de junho
de 2020 a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), uma estrutura sinodal que
envolve todo o Povo de Deus na missão da Igreja na região.
É reforçada pelo pedido do Papa Francisco, juntamente com os
seus quatro sonhos para este território e para toda a Igreja, de que “os
pastores, consagrados e fiéis leigos da Amazônia se empenhem na sua realização”
(QA 4). O cardeal Claudio Hummes recordou que foi o próprio Papa Francisco que
propôs que a nova Conferência não fosse apenas episcopal, mas que avançasse
numa estrutura eclesial que “envolvesse todas as categorias do Povo de Deus,
onde todos são membros”. Isto foi confirmado por um quirógrafo enviado a 16 de
dezembro de 2021:
“Confirmo a criação da Conferência Eclesial da Amazônia
(CEAMA), erigida com o reconhecimento formal da Congregação para os Bispos, com
data de 9 de outubro de 2021. A sua criação implica o reconhecimento da sua
personalidade jurídica eclesiástica pública” (Francisco).
Com estes e vários outros marcos, o Papa Francisco
consolidou o seu compromisso com a Amazônia, promovendo um modelo de Igreja que
respeita, escuta e defende os seus povos e a sua biodiversidade.
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