CATEQUESE SOBRE A ORAÇÃO – A ORAÇÃO NA CAMINHADA
QUARESMAL
Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
A Quaresma é um tempo especial de conversão, marcado pelo
convite à oração, ao jejum e à caridade. Na primeira catequese refletimos sobre
o jejum e a abstinência de carne, compreendendo seu valor como um exercício de
renúncia e crescimento espiritual. Agora, damos um passo adiante em nossa
caminhada quaresmal, aprofundando-nos na importância da oração. Sem uma vida de
oração, nossa busca pela conversão se torna frágil, pois é no diálogo com Deus
que encontramos força, discernimento e renovação espiritual para seguir firmes
até a Páscoa.
A oração é o nosso diálogo com Deus. Ela é mais do que
palavras recitadas; é um encontro pessoal com o Senhor, um ato de amor e
confiança. A oração nos coloca diante de Deus para adorá-Lo, agradecê-Lo, pedir
perdão e suplicar por nossas necessidades e pelas necessidades do mundo.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que “a oração é a
elevação da alma para Deus ou o pedido a Deus de bens convenientes” (CIC 2559).
Ela é, portanto, um movimento do coração que nos aproxima do Criador e nos
torna mais conscientes de Sua presença em nossa vida.
Jesus nos ensina com Seu exemplo a importância da oração.
Antes de cada momento decisivo de Sua missão, Ele se recolhia para orar:
- No
deserto, antes de iniciar Seu ministério (Lucas 4,1-13);
- Antes
de escolher os apóstolos (Lucas 6,12);
- No
Monte Tabor, na Transfiguração (Lucas 9,28-36);
- No
Horto das Oliveiras, antes de Sua Paixão (Mateus 26,36-46).
Além disso, Jesus nos ensinou a oração perfeita, o
Pai-Nosso, modelo de toda oração cristã (Mateus 6,9-13).
A oração pode se manifestar de diversas formas, todas elas
válidas e importantes para nossa vida espiritual:
- Oração
de adoração: Quando louvamos a Deus por quem Ele é, reconhecendo
Sua grandeza e soberania. Exemplo: os Salmos de louvor.
- Oração
de ação de graças: Quando agradecemos a Deus por Suas bênçãos.
Exemplo: a oração de Maria no Magnificat (cf. Lucas 1,46-55).
- Oração
de súplica ou petição: Quando pedimos algo a Deus, seja para nós ou
para os outros. Exemplo: a oração de Bartimeu pedindo a cura (cf. Marcos
10,46-52).
- Oração
de intercessão: Quando rezamos pelos outros, seguindo o exemplo
de Cristo que intercede por nós junto ao Pai. Exemplo: a oração sacerdotal
de Jesus (João 17).
A Quaresma nos chama a uma mudança de vida, e a oração é um
dos pilares dessa transformação. Quando rezamos com sinceridade, permitimos que
Deus molde nosso coração e nos guie para uma vida mais santa. A oração nos
fortalece contra as tentações e nos dá forças para perseverar na fé.
São Paulo nos exorta: “Orai sem cessar” (1 Tessalonicenses
5,17). Isso significa que a oração não deve ser um ato isolado, mas um estado
de vida. Podemos orar no silêncio do coração, em nossas atividades diárias e,
principalmente, buscando momentos de recolhimento para um encontro mais
profundo com Deus.
Muitas vezes encontramos desafios para manter uma vida de
oração, como distrações, desânimo ou falta de tempo. Algumas dicas para superar
essas dificuldades incluem:
- Criar
um hábito: Reservar um momento fixo do dia para rezar.
- Escolher
um ambiente adequado: Um local tranquilo favorece a
concentração.
- Recorrer
à Palavra de Deus: A Bíblia nos ajuda a rezar com
profundidade.
- Persistir
na oração: Mesmo quando não sentimos consolo, a oração nos
fortalece e nos mantém próximos de Deus.
Nossa Senhora é um modelo perfeito de oração. Desde a
Anunciação até Pentecostes, Maria viveu em profunda união com Deus. No
Magnificat, ela nos ensina a louvar e agradecer ao Senhor. No Cenáculo, ensina
a esperar e confiar na ação do Espírito Santo.
A oração é um dom precioso que nos permite viver em comunhão
com Deus. Quanto mais rezamos, mais experimentamos a paz e a presença do Senhor
em nossa vida.
Nesta Quaresma, somos convidados a intensificar nossa vida
de oração, confiando que Deus sempre nos ouve e nos conduz pelo caminho da
santidade. Que possamos seguir o conselho de Santo Agostinho:
“Quem reza se salva, quem não reza se condena.”
Portanto, façamos da oração uma prática diária e
perseverante, como parte essencial do nosso caminho de conversão rumo à
Páscoa.
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