“Com o rearmamento nuclear, caminhamos para a aniquilação da humanidade”, diz diretor de Pax Christi.
Por Victoria Cardiel*
11 de março de 2025
O rearmamento nuclear está levando “à aniquilação da
humanidade”, disse Nicolás Paz Alcalde, diretor da Iniciativa Católica de
Não-Violência, ligada à Pax Christi International.
"É absolutamente incoerente investir em armas para
evitar um conflito, mas nos parece que a não-violência é uma atitude ingênua e
que o rearmamento é o mais racional", disse Alcalde à ACI Prensa, agência
em espanhol do grupo ACI.
Paz Alcalde é membro do Comitê Coordenador do Instituto
Católico para a Não-Violência, inaugurado em
Roma em setembro do ano passado, do qual também faz parte o cardeal americano
Robert W. McElroy, que toma posse hoje (11) como arcebispo de Washington D.C.,
EUA.
O aumento dos gastos com defesa a nível europeu já é uma
realidade. Na semana passada, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão
Europeia, anunciou que estava prestes a iniciar a era do “rearmamento europeu”
com medidas que vão mobilizar até € 800 bilhões (cerca de R$ 5 trilhões) no
continente.
Isso mostra que o que predomina na corrente dominante é a
crença “de que a violência é uma ferramenta que funciona”, diz Alcaide.
No entanto, o Instituto Católico para a Não-Violência tem
várias investigações acadêmicas que indicam o oposto.
Paz Alcalde cita como exemplo as pesquisas acadêmicas
lideradas pelas especialistas Erica Chenoweth e Maria J. Stephan, da
Universidade de Columbia, sobre a efetividade de diferentes campanhas civis de
resistência pacifica.
Marie Dennis é outra das maiores autoridades em campanhas antiguerra.
A especialista e ex-presidente da Pax Christi
International, a quem o cardeal McElroy pediu para acompanhá-lo em sua
posse, liderou uma investigação que mostra que os movimentos sociais mais
bem-sucedidos são os que mantêm a não-violência como disciplina, mesmo quando
são sujeitos à repressão ou tortura.
Para Paz Alcalde, o rearmamento da Europa é um assunto
sério, sobretudo porque é completamente "contrário" aos princípios
que nortearam o nascimento da União Europeia depois da Segunda Guerra Mundial.
“Foi uma resposta institucional, não violenta, para
organizar a convivência. Mas agora entramos numa dinâmica política em que, em
vez de organizar a convivência, o que queremos é acabar com ela", diz
Alcalde.
12.121 armas nucleares no mundo
Atualmente, há 12.121 armas nucleares no mundo, segundo
dados do anuário do ano passado do Instituto Internacional de Pesquisa para a
Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).
Uma “figura aberrante”, diz Alcalde, que é professor
associado da Faculdade de Filosofia e do Mestrado em Orientação e Mediação
Familiar da Pontifícia Universidade de Salamanca, Espanha.
“O horizonte da possibilidade de uso de armas nucleares leva
à autodestruição da própria humanidade. Houve momentos em nossa história em que
estivemos muito perto disso e não aprendemos com isso", diz Alcalde.
Para ele, o debate político não é “entre violência ou
não-violência, a escolha é entre a aniquilação total ou a não-violência”.
Alcalde também disse que se a escalada militar continuar
aumentando, é porque há "provavelmente um problema de liderança
moral".
“O papa Francisco está sendo assim no mundo. O problema é
que ele é muito solitário”, conclui.
A Pax Christi International é um movimento
pacifista católico global que trabalha pela paz, pelo respeito aos direitos
humanos, pela justiça e pela reconciliação.
*Victoria Cardiel é jornalista especializada em temas
de informação social e religiosa. Desde 2013, ela cobre o Vaticano para vários
veículos, como a agência de notícias espanhola Europa Press, e o semanário Alfa
y Omega, da arquidiocese de Madri (Espanha).
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