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sexta-feira, 7 de março de 2025

Conversão

A necessidade de conversão (Canção Nova)

CONVERSÃO 

Dom Geraldo dos Reis Maia
Bispo de Araçuaí (MG)

O tempo litúrgico da Quaresma é direcionado à conversão. Através das práticas da oração, do jejum e da solidariedade, a Igreja nos chama a mudar os rumos de nossa vida. Trata-se de um caminho propício de volta ao Evangelho. Voltar a Jesus é o grande apelo que a espiritualidade quaresmal nos chama a vivenciar. Olhos fixos na Páscoa da Ressurreição de Jesus Cristo, caminhamos, com esperança, para a nossa Páscoa que é travessia para a vida nova do Ressuscitado. 

O Papa Francisco nos ajuda a compreender o que é conversão: “Na Bíblia, significa primeiro mudar a direção e a orientação; e depois também mudar a maneira de pensar. Na vida moral e espiritual, [conversão significa] converter meios de passar do mal ao bem, do pecado ao amor de Deus” (Angelus, 6/12/2020). Numa Catequese anterior, o Papa já havia se referido ao tema: “A verdadeira conversão acontece quando acolhemos o dom da graça e o claro sinal da sua autenticidade é quando percebemos as necessidades dos irmãos e nos sentimos prontos a ir ao seu encontro” (Audiência, 18/06/2016). E continuou depois: “Nós nos convertemos verdadeiramente na medida em que nos abrimos à beleza, à bondade, à ternura de Deus. Então deixamos o que é falso e efêmero, para o que é verdadeiro, belo e dura para sempre” (Angelus, 6/12/2020). 

Neste sentido, Guimarães Rosa nos ajuda a compreender o sentido de conversão: “O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro — dá gosto! A força dele, quando quer — moço! — me dá o medo pavor!  Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho — assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza” (Grande sertão: veredas, 13ª ed., 1979, p. 20-21). Conversão é transformar, pela sutileza da força de Deus, o grande sertão em veredas. 

Neste Tempo da Quaresma, a Igreja no Brasil nos chama a aprofundar o tema proposto para a Campanha da Fraternidade deste ano: “Fraternidade e Ecologia Integral”, tendo como lema: “Deus viu que era tudo muito bom” (Gn 1,31). No âmbito do chamado à conversão, nos deparamos com o apelo a uma “conversão ecológica”, como nos é apresentado pelo Texto-base desta Campanha, embasado num documento de São João Paulo II: “É evidente que está em jogo não só uma ecologia física, ou seja, preocupada com tutelar o habitat dos vários seres vivos, mas também uma ecologia humana, que proteja o bem radical da vida em todas as suas manifestações e prepare para as futuras gerações um ambiente o mais próximo possível do projeto do Criador. Há necessidade, pois, de uma conversão ecológica, para a qual os Bispos hão de dar a sua contribuição, ensinando a correta relação do homem com a natureza” (Pastores Gregis, 16/10/2003, 70). 

De fato, a expressão “conversão ecológica” entrou para o Magistério da Igreja por meio de São João Paulo II, numa mensagem intitulada “O compromisso para afastar a catástrofe ecológica”, pronunciada na Praça de São Pedro, na Audiência geral de 17 de janeiro de 2001. Após analisar a beleza da obra do Criador e os desvios causados pela ação humana, São João Paulo II assim se expressou: “Por isso, é preciso estimular e apoiar a ‘conversão ecológica’, que nestes últimos decênios tornou a humanidade mais sensível aos confrontos da catástrofe para a qual estava a caminhar” (Audiência, 17/01/2001, 4). 

Para isso, São João Paulo II procurou fundamentar-se numa importante encíclica sua, datada de 25 de março de 1995, na qual tratara do valor da vida em suas variadas dimensões: “É, pois, de saudar favoravelmente a atenção crescente à qualidade de vida e à ecologia, que se regista sobretudo nas sociedades mais avançadas, nas quais os anseios das pessoas já não estão concentrados tanto sobre os problemas da sobrevivência como sobretudo na procura de um melhoramento global das condições de vida” (Evangelium vitae, 27)”. Daí, nos adverte: o que está em jogo é “uma ‘ecologia humana’ que torne mais digna a existência das criaturas, protegendo o bem radical da vida em todas as suas manifestações e preparando para as futuras gerações um ambiente que se aproxime cada vez mais do projeto do Criador” (Audiência, 17/01/2001, 4). 

Bento XVI tratou da questão ecológica, com grande preocupação. “A terra é um dom precioso do Criador, que delineou os ordenamentos intrínsecos, indicando-nos assim os sinais orientativos que devemos respeitar como administradores da sua criação. É precisamente a partir desta consciência, que a Igreja considera as questões ligadas ao meio ambiente e à sua salvaguarda intimamente vinculadas ao tema do desenvolvimento humano integral” (Audiência 26/08/2009). E cita sua própria encíclica que havia sido lançada há menos de dois meses (29/06/2009): “quando a ‘ecologia humana’ é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental” (Caritas in veritate, 51). E Bento XVI conclui sua mensagem: “é indispensável transformar o atual modelo de desenvolvimento global numa tomada de responsabilidade, maior e mais compartilhada em relação à criação: exigem-no não só as emergências ambientais, mas inclusive o escândalo da fome e da miséria” (Audiência, 26/08/2009). 

O Papa Francisco desenvolveu, no seu Magistério, essa categoria teológica de “conversão ecológica”, aprofundando as raízes encontradas em seus predecessores. Uma conversão ecológica “deve traduzir-se em atitudes e comportamentos concretos mais respeitadores da criação” (Mensagem, 1/09/2016). Na sua encíclica social e ecológica, Francisco dedica seis parágrafos a este tema, definido como um novo comportamento para “deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa” (Laudato Si’, 217). 

A conversão ecológica, proposta pelos últimos três papas, “supõe uma mudança do nosso modo de ser, pensar e agir, como pessoas e comunidade. Buscamos um modo de viver mais integrativo entre Deus, os seres humanos e toda a criação, no qual a cultura do amor e da paz tenha a primazia. Os apelos para uma conversão ecológica propostos pelo Papa Francisco na Laudato Si’ permitem resgatar uma Ecologia Integral, unindo fiéis e não fiéis na missão da Casa Comum, construindo grandes e pequenas alianças, reforçando os laços da Amizade Social” (Texto-base da CF 2025, 56). 

As propostas práticas para se efetivar a conversão ecológica são simples de serem assumidas por nós. Para isso, é preciso “incluir a revisão de nossas relações com os animais, a preservação de suas moradas nos biomas, a redução da produção industrial (alimentos ultraprocessados) e do consumo excessivo de carne. Isso comporta adotar padrões de alimentação saudáveis e sustentáveis, redescobrindo as comidas tradicionais das diferentes regiões do país” (Texto-base da CF 2025, 60). É por esse caminho que precisamos trilhar para voltarmos à harmonia perdida do paraíso terrestre. A ressurreição de Jesus e nossa, para a qual nos encaminhamos, nesta Quaresma, supõe nossa responsabilidade com o mundo criado, pois ela tem uma dimensão cósmica. Há que se perguntar: o que posso fazer? Por onde começar? Temos um longo caminho pela frente! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF