DISCÍPULOS DO MESTRE JESUS
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
“Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo
bem formado será como o mestre”. Este ensinamento do Mestre Jesus orienta a
liturgia dominical (Eclesiástico 27,5-8; Salmo 91, 1 Coríntios 15,54-58 e Lucas
6,39-45). Para os contemporâneos de Jesus era familiar ver um doutor da Lei ou
rabi com um grupo de discípulos ou alunos que o seguiam a uma certa distância.
Todo povo de Deus deveria ser discípulo tendo a Torá como
Mestre e quem se ocupava em ensiná-la eram os mestres da Lei.
Quando Jesus inicia as pregações também reuniu ao seu redor
discípulos que o seguiam. Porém há significativas diferenças entre Jesus e os
outros Mestres da Lei. Normalmente, o discípulo escolhia o mestre, mas é Jesus
que escolhe os discípulos dos quais pede um seguimento incondicional. Entre os
discípulos, estão dos doze apóstolos escolhidos para estarem com ele e para os
enviar. Portanto, os termos discípulo e seguir estão em estreita relação entre
si. Sempre significa seguir Jesus e sempre estar próximo dele.
Quando afirma que o discípulo não é maior do que o mestre,
obviamente o Mestre ao qual Jesus alude é ele mesmo e é este modelo altíssimo
que o discípulo deve alcançar. O discípulo “bem formado será como o mestre”.
Agora, um discípulo que é atento ao mestre e deixa-se formar por ele, torna-se
um homem sincero, humilde, justo. Ele não arrogará a si o direito de julgar os
outros, mas se humilhará “até a condição de servo” como Cristo para salvar o
irmão.
Jesus como mestre quer formar outros mestres semelhantes a
ele para guiarem outras pessoas. Devem ser discípulos-mestre. É uma tarefa
delicada ser guia, por isso Jesus elenca algumas atitudes fundamentais do guia.
Em primeiro lugar deve ver o Caminho que é o próprio Cristo e já estar
caminhando nele. É um caminho iluminado onde os obstáculos ficam
visíveis.
Outra condição fundamental do discípulo-mestre é examinar de
forma sincera e humilde a própria vida. Ser ciente das “traves” existentes no
olho que impedem de ver os “ciscos” nos olhos dos outros. É o que chamamos
exame de consciência, autocrítica. Não se faz necessário que alguém de fora nos
acuse, mas diante do Cristo Mestre percebermos como anda a própria vida e fazer
as mudanças necessárias que impedem de ser discípulo.
O discípulo também se dá a conhecer pelas palavras: “é no
falar que o homem se revela”; “mas o homem mau tira coisas más do seu mau
tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”. Portanto, o
discípulo-mestre deve preencher “o tesouro do seu coração” com as palavras de
salvação do mestre.
Estas exigências de Jesus são necessárias para que o
discípulo-mestre não se torne um hipócrita. O hipócrita no teatro grego era
protagonista, por isso o hipócrita procura ser protagonista colocando-se no
centro no lugar do Mestre Jesus. Aparentemente procura agradar a Deus, mas na
verdade quer manipular a Deus. É um falsário que tenta agradar a Deus e os
seguidores com as aparências, enquanto coração está longe.
“Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos”. Pode-se
questionar com palavras os ensinamentos do Cristo Mestre; porém, assim como
cada planta produz os seus frutos, do mesmo modo as ações humanas desnudam o
que se passa no “tesouro do coração” de cada discípulo.
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