"A esperança nos sustenta nas dificuldades, nos dá
força para perseverar e nos mantém firmes na certeza de que Deus está conosco.
O Concílio Vaticano II abordou a esperança cristã como uma virtude que define o
caráter escatológico dos fiéis da Igreja, nossa caminhada para a eternidade,
sem prescindir das obrigatoriedades das ações do cotidiano."
Jackson Erpen* - Cidade do Vaticano
Na Bula
de Proclamação do Jubileu Ordinário de 2025, somos convidados não só a
“beber a esperança na graça de Deus”, mas também a “descobri-la nos sinais
dos tempos, que o Senhor oferece”. Como afirma o Concílio Vaticano II, «é
dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e
interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo
adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da
vida presente e da futura, e da relação entre ambas».
Por isso, para não cair na tentação de nos considerarmos
subjugados pelo mal e pela violência, é necessário prestar atenção a tanto bem
que existe no mundo. Porém, os sinais dos tempos, que contêm o anélito do
coração humano, carecido da presença salvífica de Deus, pedem para ser
transformados em sinais de esperança.
“Esperança não é apenas informativa, mas performativa”, é o
tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*:
O Jubileu da Esperança não é apenas um evento litúrgico, mas
um chamado à conversão profunda. É uma peregrinação, uma caminhada, uma
dinâmica de conversão e salvação proposta para todo o cristão nesse Ano
Jubilar. Inspirado no tema “A esperança não confunde” (cf. Rm 5,5), este Ano
Santo nos convida a refletir sobre a essência da esperança cristã: uma
confiança inabalável no amor de Deus, que nunca falha. A esperança é uma
virtude teologal que nos conecta ao futuro, mas que também transforma o
presente. A verdadeira esperança cristã não aguarda o futuro escatológico de
braços cruzados, mas o prepara com atitudes concretas no hoje da história.
A esperança nos sustenta nas dificuldades, nos dá força para
perseverar e nos mantém firmes na certeza de que Deus está conosco. O Concílio
Vaticano II abordou a esperança cristã como uma virtude que define o caráter
escatológico dos fiéis da Igreja, nossa caminhada para a eternidade, sem
prescindir das obrigatoriedades das ações do cotidiano. O Concílio também
apresentou a Igreja como uma comunidade aberta, que partilha a condição humana.
A esperança cristã é a virtude que nasce da fé nas promessas divinas. Ela
fortalece a confiança na graça de Deus, mesmo em momentos de adversidade. Nas
intempéries da vida, a esperança não desanima.
Papa Francisco tem refletido sempre em seu Pontificado a
virtude da esperança. Não cansa de falar em suas mensagens que “não deixem que
lhes roubem a esperança”. Ele mesmo proclama o ano Jubilar que tem como tema a
esperança cristã. O Papa Bento XVI dedicou, no seu pontificado, a reflexão das
três virtudes teologais em três pequenos documentos: A
Carta Apostólica Porta Fidei – falando da fé; as
Cartas Encíclicas Spe Salvi – falando da virtude da Esperança
e Deus caritas est – apontando a virtude da caridade. Como estamos refletindo a
Esperança, nesse Ano Santo Jubilar, importa aqui recuperar alguns pensamentos
da Encíclica Spe
Salvi, refletindo sobre a esperança.
O Papa Bento XVI inicia sua encíclica, dizendo assim: “SPE
SALVI facti sumus» – é na esperança que fomos salvos - diz São Paulo aos
Romanos e a nós também (Rm 8,24). A «redenção», a salvação, segundo a fé
cristã, não é um simples dado de fato. A redenção é-nos oferecida no sentido
que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos
enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser
vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se
esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho”( Spe S,1). Bento
XVI, na sequência, afirma que a fé e a esperança caminham juntas, e diz que a
fé é a esperança. Assim, a Carta aos Hebreus liga estreitamente a «plenitude da
fé» (10,22) com a « imutável profissão da esperança » (10,23). Paulo lembra aos
Efésios que, antes do seu encontro com Cristo, estavam « sem esperança e sem
Deus no mundo » (Ef 2,12). Naturalmente, recorda Bento XVI, que Paulo sabe que
eles tinham seguido deuses, que tiveram uma religião, mas os seus deuses
revelaram-se discutíveis e, dos seus mitos contraditórios, não emanava qualquer
esperança. Apesar de terem deuses, estavam « sem Deus » e, consequentemente,
achavam-se num mundo tenebroso, perante um futuro obscuro.
Recorda a Encíclica Spe Salvi que São Paulo
também diz aos Tessalonicenses assim: não deveis « entristecer-vos como os
outros que não têm esperança » (1Ts 4,13). Aparece aqui também como elemento
distintivo dos cristãos o fato de estes terem um futuro: não é que conheçam em
detalhe o que os espera. Mas cada um de nós sabe em termos gerais que a sua
vida não acaba no vazio, no caos geral, no vácuo sem sentido. Somente quando o
futuro é certo como realidade positiva, é que se torna vivível também o
presente. Sendo assim, podemos agora dizer: o cristianismo não era apenas uma «
boa nova », ou seja, uma comunicação de conteúdos até então ignorados. Em
linguagem atual, dizemos assim: a mensagem cristã não era só « informativa »,
mas « performativa ». Significa isto que o Evangelho não é apenas uma
comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera
fatos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par
em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova.
Vamos repetir o disse Bento XVI: A mensagem da esperança cristã da salvação não
é apenas informativa, mas performativa. Ou seja, transforma a pessoa, sabendo a
realidade futura."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro
de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em
Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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