O pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini, fez
na manhã desta segunda-feira, 10 de março, a sua segunda meditação no âmbito
dos Exercícios Espirituais da Quaresma à Cúria Romana, sobre o tema “A
esperança da vida eterna”. O tema: “O fim de todo Juízo”. Os Exercícios
Espirituais sem a presença do Papa Francisco, que está internado no Hospital
Gemelli. Publicamos a síntese da segunda Meditação.
Vatican News
O fim de todo Juízo
A parábola do Juízo Final, narrada no Evangelho de Mateus e
retratada no famoso afresco de Michelangelo, é comumente interpretada como um
chamado à caridade. No entanto, uma análise mais detalhada revela uma
perspectiva surpreendente: não se trata de um julgamento no sentido
tradicional, mas de uma declaração que revela a realidade já vivenciada por
cada pessoa. O critério para o acesso ao Reino não é a pertença religiosa, mas
o amor concreto para com os irmãos e irmãs mais humildes, que, na perspectiva
evangélica, representam os discípulos de Cristo. Portanto, a responsabilidade
dos cristãos não é primordialmente fazer o bem, mas permitir que outros o
façam.
Além disso, a parábola subverte o senso comum de julgamento:
tanto os justos quanto os ímpios demonstram espanto com as palavras do Rei,
sinal de que o bem praticado neles foi vivido de forma natural e inconsciente.
Isso sugere que o acesso à vida eterna não depende do desempenho moral, mas da
capacidade de viver no amor sem cálculos.
O Catecismo afirma que, no final dos tempos, o Reino de Deus
se manifestará plenamente, transformando a humanidade e o cosmo em “novos céus
e nova terra” (CIC 1042-1044). Essa esperança está enraizada na promessa de
Cristo, que nos chama a viver já agora nessa perspectiva, sem ansiedade de
desempenho, mas com a confiança de que é o próprio Deus que transformará nossa
humanidade à sua imagem e semelhança, de acordo com o desígnio de amor que vem
desde o princípio.
Jesus anunciou a vida eterna não como uma realidade futura e
distante, mas como uma condição já acessível àqueles que ouvem sua palavra e
acreditam no Pai (Jo 5,24). O Evangelho nos convida a reconhecer que a vida
eterna já começou: ela se manifesta na maneira como vivemos e amamos,
abrindo-nos à presença transformadora de Deus. A verdadeira surpresa do Juízo
Final será descobrir que Deus não tinha nenhuma expectativa em relação a nós,
exceto a de nos reconhecer plenamente como seus filhos, já imersos na sua
eternidade.
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