Exercícios Espirituais no Vaticano, 7ª Meditação:
"Eternos, não imortais"
O pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini, fez na tarde desta quarta-feira, 12 de março, a sétima meditação no âmbito dos Exercícios Espirituais da Quaresma à Cúria Romana sobre o tema "A esperança da vida eterna: Eternos, não imortais". Publicamos a síntese da reflexão
Vatican News
Nossa época gerou uma ilusão de imortalidade, alimentada
pelo progresso e pelo bem-estar, que nos leva a ignorar os limites da condição
humana. Até mesmo a Igreja, por vezes, enfrenta dificuldades para se
redimensionar e oferecer um testemunho credível do Reino de Deus. Essa remoção
da morte se manifesta na incapacidade de viver serenamente a espera e na
obsessão pela hiperatividade e pela presença constante nos inúmeros âmbitos em
que a realidade nos interpela. O medo da morte tornou difícil enfrentar escolhas
definitivas, favorecendo o descompromisso e a ilusão de que sempre se pode
revogar as decisões tomadas.
A sociedade contemporânea eliminou os rituais e as palavras
que, outrora, ajudavam a enfrentar a passagem da morte com sentido e coragem.
Hoje, o morrer é frequentemente reduzido a um espetáculo midiático ou a um
problema técnico da ciência médica. Esse distanciamento do conceito de morte
impede a compreensão do sentido mais profundo da vida e da esperança cristã.
São Francisco de Assis, ao chamá-la de “irmã morte”, oferece uma alternativa
radical: aceitar a finitude humana como parte de um caminho que conduz à
eternidade.
O pecado, entendido como o uso fracassado da liberdade,
muitas vezes nasce da tentativa de escapar da precariedade da vida. No entanto,
o único verdadeiro antídoto é o amor, vivido de maneira concreta e profunda,
como testemunham as palavras de São João: “Nós sabemos que passamos da morte
para a vida, porque amamos os irmãos” (1Jo 3,14). Amar até o fim significa
aceitar o limite e transformá-lo em uma oportunidade para se doar sem reservas.
Cristo não eliminou a morte, mas a atravessou para nos
mostrar que ela pode ser habitada e transfigurada. A encarnação não é apenas
uma resposta ao pecado, mas um gesto de amor radical com o qual Deus se
envolveu em nossa existência. O Evangelho de Marcos ressalta o paradoxo de um
Deus que salva por meio da cruz, revelando-nos que, embora sejamos eternos, não
somos imortais.
Paulo adverte os Gálatas sobre o risco de retornar a uma fé
baseada no medo e na lei, em vez da confiança no dom gratuito de Deus. João
exorta ao discernimento dos espíritos, reconhecendo a encarnação não como uma
ideia, mas como um modo concreto de viver a realidade. A encarnação nos pede
que permaneçamos firmes na confiança de que a realidade, apesar de suas
dificuldades, é o lugar do Reino de Deus. Viver como filhos de Deus e irmãos
entre nós é uma escolha que deve ser renovada a cada dia, na certeza de que o
amor até o fim não apenas é possível, mas já foi testemunhado por tantas
gerações de homens e mulheres. Esse cântico de amor também podemos entoar com a
nossa vida.
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