pteixera - publicado
em 07/02/25
O peixe é abundante em referências bíblicas, seja no
Antigo ou no Novo Testamento, no qual se torna um símbolo marcante.
É no livro do Gênesis que o peixe como alimento é mencionado
pela primeira vez na Bíblia. Esta referência inicial às criaturas divinas é
imediatamente entendida como um símbolo de submissão manifesta destas ao homem:
"Deus diz: 'Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.
Que ele seja senhor dos peixes do mar, das aves do céu, dos animais domésticos,
de todos os animais selvagens e de todos os animais que vêm e vão sobre a
terra." (Gênesis 1,26).
Os tempos bíblicos dificilmente distinguiam as diferentes
espécies de peixes, e estas vinham principalmente do vizinho Mar da Galiléia
ou, em forma seca ou salgada, do Egito. Os conhecidos episódios da pesca
milagrosa, da multiplicação dos pães e dos peixes nos Evangelhos ilustram
também esta ideia de dom infinito que prefigura o sacrifício de Cristo. Depois
de sua ressurreição, Jesus até comeu um peixe grelhado com seus discípulos para
fortalecer sua fé na veracidade das Escrituras.
No entanto, o peixe ou peixe nem sempre estão no relato
bíblico das criaturas das delícias... Assim, o Livro do Êxodo relata que, para
punir os egípcios por manterem o povo de Israel cativo, Moisés recebeu do
Senhor o poder de realizar maravilhas, incluindo transformar todas as águas do
Egito em sangue: "Os peixes do Nilo estouraram e o Nilo cheirou mal; os
egípcios não podiam mais beber a água do rio; havia sangue em toda a terra do
Egito” (Êx 7, 21). O fato é que o lugar dos peixes na narrativa bíblica permanece
importante.
Remédios e o nascimento de um símbolo poderoso
É por causa dessa mesma importância que os peixes se
tornaram símbolos poderosos em todas as Sagradas Escrituras. O peixe também é
apresentado pelas Escrituras como um remédio.
É o caso do Livro de Tobias, quando o jovem Tobias quase foi
capturado por um peixe ao longo do rio Tigre. O anjo disse-lhe para puxá-lo
para fora da água para a margem: "Estripe o peixe, tire o fel, o coração e
o fígado, separe-os para levá-los embora e jogue fora as entranhas. Pois a fel,
o coração e o fígado são remédios eficazes” (Tb 6, 4).
Quando perguntado pelo jovem sobre esses remédios, o
anjo respondeu: "Se você queimar o coração e o fígado do peixe diante de
um homem ou mulher atacado por um demônio ou um espírito maligno, o agressor
foge e suas vítimas serão libertadas para sempre. Quanto ao fel, se você
aplicá-lo nos olhos de um homem com leucomas e soprar nele, os olhos serão
curados. O relato bíblico neste episódio enfatiza como o peixe pode se tornar
um remédio contra demônios e uma fonte de cura, antecipando assim o símbolo
cristão do peixe.
Ichtus: o peixe cristão
O símbolo aquático foi, de fato, invadir o cristianismo
nascente, muito antes de a Cruz se tornar o principal emblema dessa fé. Para
compreender a presença do peixe no cristianismo, devemos voltar à língua grega
antiga. A palavra "ikhthús" (ἰχθύς),
que significa peixe em grego, contém em cada uma de suas letras uma aclamação
cristológica: Jesu Kristos Theou Uios Sôter, ou "Jesus, Cristo Filho de
Deus, Salvador".
Este símbolo torna-se assim central. Na prática, muitas
vezes era representado por duas curvas que se uniam para formar o peixe, um
sinal discreto de reconhecimento que poderia ser deixado como grafite durante
as perseguições. A direção da cabeça às vezes até indicava o caminho para um
local de culto escondido. Os primeiros cristãos eram frequentemente apelidados
de "filhos do Ichtus celestial".
O símbolo de Cristo e o batismo
Este símbolo se espalhou primeiro em Roma, depois em toda a
cristandade, onde é venerado, especialmente sob o nome de
"Cristo-Peixe". O símbolo do peixe tornou-se então objeto de devoção
incentivado por pontífices como Clemente de Alexandria, que recomendou que
fosse representado em selos, joias ou outros objetos pessoais. Assim começou
uma coleção de amuletos e pedras preciosas gravadas com as cinco letras da
palavra ICHTUS, muitas vezes acompanhadas pela imagem do peixe.
Os primeiros textos cristãos testemunham este entusiasmo, e
autores como Tertuliano, Orígenes e Santo Agostinho louvam o seu poderoso
simbolismo, evocando a "fonte imortal da água divina", a pureza e o
alimento.
Tertuliano traça um paralelo entre o peixe e a água do
batismo: "Nós, peixinhos, segundo o nosso Peixe, Jesus Cristo, nascemos na
água e só podemos ser salvos permanecendo na água". Santo Agostinho também
compara o peixe ao pão eucarístico, e aparece em algumas representações
eucarísticas, como a exposta no Museu do Vaticano.
Embora a Cruz tenha gradualmente tomado o lugar do peixe
para simbolizar a fé cristã, o peixe permaneceu muito presente nas igrejas, em
afrescos, pinturas, mosaicos e outros suportes, como testemunho desse rico
símbolo cristão.
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