Nos 1700 anos do Concílio de Niceia, cristãos do Oriente
e do Ocidente celebrarão a Páscoa no mesmo dia.
14/04/2025
No ano em que a Igreja celebra os 1700 anos do Concílio de
Niceia, o primeiro concílio ecumênico, a Páscoa dos cristãos do Ocidente e do
Oriente será celebrada na mesma data, em 20 de abril. Esses dois marcos se
relacionam no desejo contido naquela reunião do ano de 325 de que houvesse uma
data comum para a Páscoa. Ainda hoje esse desejo está presente nas lideranças
eclesiais e é motivado pelo Papa Francisco como “um apelo a todos os cristãos
do Oriente e do Ocidente para darem resolutamente um passo rumo à unidade”
dessa celebração conjunta.
Como a proposta surgiu
Resumidamente, o Papa Francisco escreveu na Bula de
Proclamação do Jubileu 2025 que o Concílio de Niceia teve a missão de preservar
a unidade, “então seriamente ameaçada pela negação da plena divindade de Jesus
Cristo e da sua igualdade com o Pai”. Com o Símbolo de fé reconhecido pelos
padres conciliares como sinal da comunhão na mesma fé, o estabelecimento de uma
data comum para a Páscoa foi a questão pastoral mais importante daquele
encontro, segundo o prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos
Cristãos, Kurt Koch.
Existiam datas diferentes de celebração da Páscoa, na Igreja
Primitiva: na Ásia Menor, os cristãos celebravam a Páscoa em simultâneo com a
Páscoa judaica, no dia 14 de Nisan, e eram por isso conhecidos como
quartodecimanos. Em contrapartida, os cristãos chamados protopasquistas,
sobretudo na Síria e na Mesopotâmia, celebravam a Páscoa no domingo seguinte à
Páscoa judaica. Perante esta situação, o Concílio de Niceia encontrou uma regra
uniforme, definindo a celebração da Páscoa de acordo com o que acontecia entre
os romanos.
No século XVI, com a reforma do calendário pelo Papa
Gregório XIII, quando foi introduzido o chamado calendário gregoriano, a
celebração da Páscoa passou a ser no domingo a seguir à primeira lua cheia da
primavera. Enquanto as Igrejas do Ocidente calculam desde então a data da
Páscoa de acordo com este calendário, as Igrejas do Oriente continuam a
utilizar maioritariamente o calendário juliano, que foi também a base do
Concílio de Niceia.
“Apesar de, entretanto, terem sido discutidas várias
propostas para uma data comum da Páscoa, a questão ainda não foi resolvida. Já
o Concílio Vaticano I se deteve neste urgente desafio pastoral num apêndice à
Constituição sobre a Sagrada Liturgia “Sacrosanctum Concilium”, promulgada em
1963, declarando que pretendia ter «em devida conta o desejo de muitos de que a
festa da Páscoa seja atribuída a um domingo específico e de adotar um
calendário fixo». O Concílio declarou-se favorável «a que a festa da Páscoa
seja atribuída a um domingo específico do calendário gregoriano, desde que haja
o consentimento dos interessados, especialmente dos irmãos separados da
comunhão com a Sé Apostólica». O Papa Francisco manifestou várias vezes o mesmo
espírito de abertura”, contou o prefeito Koch.
Por uma data comum
“Infelizmente, ainda não existe um acordo unânime neste
ponto. A divergência dos cristãos a respeito da mais importante festa de seu
calendário cria danos pastorais nas comunidades, até ao ponto de dividir
famílias, e causar escândalo entre os não cristãos, afetando o testemunho do
Evangelho”, pontua a Comissão Teológica Internacional no documento “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador – 1700º aniversário do
Concílio Ecumênico de Niceia 325-2025“.
É por isso que o Papa Francisco, o Patriarca Ecumênico
Bartolomeu e outros líderes da Igreja têm apelado repetidamente pelo
estabelecimento de uma data comum para a celebração da Páscoa.
Com a coincidência da data neste ano de 2025, os cristãos são motivados a refletir sobre a “oportunidade providencial para todas as comunidades cristãs continuarem a celebrar a Paixão e a Ressurreição de Cristo, a ‘festa das festas’ (Matinas Pascais bizantinas), em comunhão também cronológica”. A Comissão Teológica Internacional ressalta que Igreja Católica permanece aberta ao diálogo e a uma solução ecumênica sobre o tema.
“Seja isto um apelo a todos os cristãos do Oriente e do Ocidente para darem resolutamente um passo rumo à unidade em torno duma data comum para a Páscoa. Vale a pena recordar que muitos desconhecem as diatribes do passado e não entendem como possam subsistir divisões a tal propósito”, escreveu o Papa Francisco na Bula de Proclamação do Jubileu Peregrinos de Esperança.
Niceia e o ecumenismo
O prefeito do Dicastério para a promoção da unidade dos
Cristãos afirma que o aniversário dos 1700 anos do Concílio Ecumênico de Niceia
tem importantes dimensões ecumênicas, sendo uma delas ter dado à Igreja o
fundamento do ecumenismo espiritual, com fé comum no Cristo Verdadeiro Deus e
Verdadeiro homem.
Aqui no Brasil, reflexões e celebrações que a Comissão
Episcopal para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) tem realizado nos últimos meses para comemorar essa
marca “têm sido uma excelente oportunidade para o crescimento na busca da
unidade entre, não apenas católicos e ortodoxos, mas também na caminhada
ecumênica rumo à unidade, com outras igrejas e comunidades eclesiais,
respondendo ao que nos pede Jesus: ‘Que todos sejam um’ (Jo 17,22)”, de acordo
com o assessor da Comissão, padre Marcus Guimarães.
Ele recorda que durante a 62ª Assembleia Geral da CNBB,
entre os dias 30 de abril e 9 de maio, haverá “mais um momento de oração,
encontro, convivência e fraternidade ecumênica com irmãos de várias Igrejas
ortodoxas e de outras comunidades cristãs”.
“Com certeza, será mais um gesto concreto, um momento
especial de fortalecimento rumo à Unidade dos Cristãos”, ressalta.
Luiz Lopes Jr.
Nenhum comentário:
Postar um comentário