Roma, 05 Nov. 15 / 06:02 pm (ACI).- Durante esta semana foram publicados na Itália dois livros cujo objetivo seria colocar à prova a capacidade do Vaticano e do Papa Francisco para resistir aos escândalos.
Um dos livros que mais chamou a atenção da imprensa é “Mercenários no Templo” do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, autor do bestseller “Sua Santidade”, o qual desatou o primeiro escândalo conhecido como “Vatileaks” em 2012, e terminou com a condenação do mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele, por ter filtrado documentos a Nuzzi.
O segundo livro “Avareza: Documentos que revelam a riqueza, escândalos e segredos da Igreja de Francisco”, do jornalista italiano Emiliano Fittipaldi, teve uma tentativa menos pretensiosa, através da qual tentava convencer ao mundo que – surpresa! – o Vaticano tem dinheiro.
Ler “Mercenários no Templo” evoca imediatamente uma observação de George Weigel a respeito de alguns autores italianos: “A fronteira entre a realidade e a ficção no jornalismo italiano é, de fato, não uma fronteira, mas uma membrana, através da qual todo tipo de material passa em ambas as direções”.
É vendido como uma denúncia, mas lido como ficção
Assim começa o livro de Nuzzi: “Em 12 de setembro de 1978 pela tarde, o Papa João Paulo I, depois de 18 dias do seu pontificado, descobriu um poderoso lobby maçônico com 120 membros ativos dentro da Cúria… então anunciou seus planos para fazer grandes mudanças na Cúria Romana ao Cardeal Villot, mas (…) no dia seguinte, a Irmã Vincenza Taffarel encontrou o Pontífice morto em sua cama”.
O livro, que de acordo ao jornalista Nuzzi ofereceria “provas de um enorme e aparentemente imparável desvio de fundos que o Pontífice está enfrentando com valentia e determinação”, é também um livro que intercala o “assassinato” do Papa Albino Lucciani com maçons, lobbies gays, máfia italiana, corporações internacionais e vírus implantados dentro dos escritórios vaticanos.
Usando e abusando de documentos que seriam secretos, assim como conversações gravadas, Nuzzi apresenta o caso – realmente bem conhecido –, de que o Papa Francisco está decidido a pôr um fim ao mau uso de recursos, o pagamento de “trabalhos não orçamentados, realizados sem supervisão e com faturas sem fundo” e o uso das doações dos fiéis.antos e “heróis”
O segundo capítulo, em relação com o “fazedor de Santos”, começa elogiando a Mons. Lucio Angel Vallejo Balda e Francesca Chaouqui, precisamente os dois indivíduos que foram presos pelo Vaticano na última semana devido a filtração de documentos confidenciais à imprensa, talvez ao próprio Nuzzi. Vallejo Balda é apresentado como um herói neste livro, especialmente no capítulo 9.
Nuzzi mostra claramente sua falta de conhecimento dos processos no Vaticano, reclamando que "fazer um santo" tem um preço de aproximadamente 500.000 euros. “Nós então devemos considerar os custos de todos os presentes de agradecimento necessários para os prelados que são convidados às festividades e celebrações em momentos cruciais do processo, a fim de dizer umas poucas palavras sobre os fatos e milagres do futuro santo ou beato”.
Nuzzi claramente ignora a trabalhosa origem das investigações teológicas, morais, históricas e médicas requeridas a fim de assegurar que o santo tem as necessárias “virtudes heroicas” e mais tarde confirmar um milagre atribuído por meio da sua intercessão. E o mais importante, ignora que nenhum postulador de um santo – nem sequer daqueles com causas que permanecem durante algumas décadas – queixou-se alguma vez dos custos do processo.